No princípio: a candidatura de todas as esperanças
Neste tempo, a menos de seis meses de 2012, em que algo se move e em que já se tornou claro que, haja o que houver, nada será como dantes, importa reflectir sobre o processo que nos conduziu ao actual estado de coisas. Ao reler o que aqui se publicou desde o início de 2010, percebo que se poderia ter evitado chegar onde se chegou, se se tivesse prestado atenção aos sinais que, sendo visíveis para todos, foram ignorados ou menosprezados por quem lhes devia prestar atenção. Como contributo para a reflexão que se impõe, aqui recupero alguns excertos de textos que coloquei neste espaço ao longo dos últimos dezanove meses.
8 de Janeiro de 2010
A Capital Europeia da Cultura deve ser assumida como um projecto global de cidadania. Um projecto inclusivo, que envolva os cidadãos europeus de Guimarães, num processo partilhado, discutido e participado. Um projecto que não deixe ninguém de fora. Um projecto em que, mais do que veículos, destinatários, espectadores ou público, os cidadãos sejam actores do processo. Para tanto, haverá necessidade de se criarem espaços, formais e informais, de diálogo e de partilha, em conformidade com o que está inscrito no programa da candidatura aprovada em Bruxelas. Para que 2012 mobilize os cidadãos e se afirme como uma construção colectiva marcante, em que todos se sintam do lado de dentro. [Texto colectivo dos presidentes das direcções do Círculo de Arte e Recreio, do Cineclube de Guimarães, do Convívio, da Sociedade Martins Sarmento e da Sociedade Musical de Guimarães]
13 de Janeiro de 2010
Compreende-se que o tempo não tem jogado a favor de quem tem a seu cargo a gestão do processo, mas é certo que ainda não se vêem resultados de um dos objectivos prioritários definidos no documento de candidatura, onde se lê que "uma vez que "um acontecimento que não se dá a conhecer é como se não existisse", considera-se prioritário, no processo de desenvolvimento do projecto, a realização de um projecto de comunicação". A menos de dois anos de 2012, não se conhece qual seja o projecto de comunicação para Guimarães, Capital Europeia da Cultura. E vão faltando elementos básicos no processo de comunicação, nomeadamente ao nível da imagem: o logótipo ainda não existe, a página na internet é escassa em informações, além de pouco dinâmica (a página já tem quase meio ano, mas continua com funcionalidades inactivas, como o espaço destinado à imprensa, central em qualquer estratégia de comunicação; no momento em que escrevo, a notícia mais recente que se pode ler no clipping de notícias data de 19 de Outubro de 2009; por mais que se procure, não se consegue aceder a qualquer dos documentos já produzidos, relacionados com a organização, mesmo aqueles que antes ali estiveram acessíveis). Temos que ser mais eficazes e mais exigentes no domínio da comunicação.
29 de Outubro de 2010
É certo que o tempo urge, mas ainda é possível acertar a agulha. Para tanto, não é preciso inventar nada. Bastará levar à prática aquilo que também está previsto no documento de candidatura ao título de Capital Europeia da Cultura: criar uma equipa de comunicação ágil e eficaz, de inquestionável experiência e profissionalismo, e gizar, com recurso a "um conjunto de peritos e especialistas", um plano de comunicação que, em todos os momentos do processo, transmita "uma única imagem de projecto – um projecto emblemático, que se assume como capitalidade e com impacto a longo prazo". Esse plano deverá ter entre as suas preocupações a de "favorecer o contacto, a aproximação e a participação activa das forças vivas locais no desenvolvimento da execução do evento". Até ao momento, não é visível que o plano de comunicação da CEC exista. Se existe, não funciona. Não será por falta de tempo, nem de orçamento.
5 de Novembro de 2010
6 de Novembro de 2010
24 de Fevereiro de 2011
A Capital Europeia da Cultura lá vai ganhando notoriedade. Infelizmente, quase sempre pelas más razões. Se a ideia fosse demolir a boa imagem de Guimarães, construída ao longo de tantos anos, dificilmente se faria melhor. Cansados de verem a sua cidade nas bocas do mundo por razões que antes não eram costume, as gentes de Guimarães continuam, com insuspeitada paciência, à espera de notícias positivas
21 de Março de 2011
Se a relação entre a CEC e os vimaranenses está inquinada, a responsabilidade não é minha, nem, muito menos, dos vimaranenses. Se a CEC e a FCG têm má imprensa, aos seus responsáveis compete perceber porquê. O que perturba os vimaranenses é, a cada dia que passa, terem que ler nos jornais notícias negativas acerca de algo que deveria ser um grande momento de envolvimento e de mobilização colectiva. Não estão habituados a tal. Nunca o estarão. Quem ainda não percebeu que todos os problemas e polémicas que têm rodeado a construção da CEC atingem seriamente a auto-estima dos cidadãos de Guimarães, levando-os a reagir negativamente, ainda não percebeu nada. E já era tempo, não era?
18 de Maio de 2011
O barco vai à deriva, sem rumo certo, anunciando-se o afundamento. O problema já se percebeu onde está. Está na sala de comando, onde, apesar dos avisos, quem comanda, não vê, nem ouve. Mas fala: cada vez mais distante da realidade, vai explicando, com eloquência e vazio, que a sombra que se aproxima, não é o abismo que todos adivinham, mas o sol radioso da terra prometida, que ninguém mais enxerga.
24 de Maio de 2011
O problema não são as notícias, mas os factos que estão por trás delas. Não adianta tentar suprimir a mensagem, nem fazer tiro ao alvo ao mensageiro. É urgente acabar com a razão de ser destas notícias, que ameaçam envenenar irreversivelmente um tempo que devia ser de celebração colectiva. Estamos cansados. Já basta.
2 de Junho de 2011
6 de Junho de 2011
Hoje é claro que se cometeram erros de casting. Confesso que a primeira vez que ouvi falar no nome da actual Presidente da Fundação Cidade de Guimarães foi quando vi anunciar-se o seu nome para o exercício dessas funções. Causou alguma surpresa, uma vez que se tinha chegado ao consenso de que o “comissário” da CEC 2012 haveria de ser uma figura ligada à cultura, com renome internacional e algum vínculo a Guimarães. Na altura, justificou-se a escolha com o argumento de que seria especialista nos complexos processos de candidaturas a financiamento europeu. Houve quem dissesse que na máquina que tinha que ser montada fazia falta um técnico com tais competências, mas não como responsável máximo da estrutura que tomaria a seu cargo a preparação da CEC 2012. A realidade veio a dar razão aos reticentes. Reconheço qualidades à actual Presidente da FCG, mas não as que a recomendariam para assumir a condução de um processo com as exigências deste. Sob a sua condução, o projecto entrou, há muito, em rota de colisão com a realidade. E, ao que se ouve, nem sequer as candidaturas a financiamento europeu estarão a correr como se esperava que corressem.
10 de Junho de 2011
18 de Junho de 2011
30 de Junho de 2011
Ao longo de quase dois anos, fui lendo os sinais (estava num posto de observação privilegiado, que me permitia ir observando do lado de fora, mas também, um pouco, do lado de dentro). Longo foi o tempo para a paciência, na expectativa de que acontecesse o que era imperativo acontecer. Depois, foi o tempo para a impaciência: não tinha sido aquilo que nos tinham prometido e tivemos que o dizer, repetidamente, até sermos escutados. Algumas coisas já mudaram, outras nem por isso. A Capital Europeia da Cultura com que sonhámos, num sonho que sei que era partilhado por muitos, já ficou para trás. Irremediavelmente. O que vamos ter em 2012 vai ser grandioso e entusiasmante, certamente, mas não vai ser a mesma coisa.
2 de Julho de 2011
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