No dia 5 de Outubro de 1910, publicou-se em Guimarães o primeiro número
do jornal Correio de Guimarães. Assumia-se
como monárquico e tinha como director João Rocha dos Santos, advogado
vimaranense qe seria presidente da Câmara durante o sidonismo e a monarquia do
Norte (1918-1919) e, mais tarde, já no Estado Novo. Como administrador, aparecia
o Capitão Alcino Machado. Resultando de uma dissidência entre os progressistas
vimaranenses, o novo periódico apresentava-se como “semanário do Partido
Progressista”.
No mesmo dia em que se apresentava aos seus leitores, escrevia-se no Mundo, de Lisboa:
Proclamada por importantes forças do exército, por toda a armada e
auxiliada pelo concurso popular, a República tem hoje o seu primeiro dia de
História. A marcha dos acontecimentos, até à hora em que escrevemos, permite
alimentar toda a esperança de um definido triunfo.
O primeiro número do Correio de
Guimarães seria também o último. Eis o programa com que se apresentou e que
não cumpriu:
CORREIO DE GUIMARÃES
É desnecessário traçar o programa dum jornal político.
Progressistas, o nosso partido encontrar-nos-á sempre a seu lado, sem
defecções nem tibiezas, prontos a lutar pelo seu engrandecimento e prestígio.
Sendo progressistas, somos também monárquicos, e hoje mais que nunca, a monarquia
que por covardia ou inconsciência se entregou confiadamente na mão dos exploradores
que desde há muito cobiçavam a presa, carece de monárquicos.
Mal parece dizê-lo, mas a verdade insofismável é que os mais interessados
em que se mantenham as instituições vigentes as entregam vergonhosamente aos
seus adversários.
Não vale até muito a pena ser monárquico num país como este onde é quase
um crime, professar ideias monárquicas.
Muito embora, sê-lo-emos enquanto estivermos convencidos de que na monarquia
está a independência da nossa querida pátria.
Isso, e só isso, nos força a continuar na defesa dum regime que não pode,
não sabe, ou não quer defender-se.
Em país nenhum, como neste, se assiste ao triste e doloroso espectáculo
de ver um governo monárquico aliado, para se aguentar no poder, com os
revolucionários com o auxílio dos quais escalou o poder e a quem há-de pagar
prodigamente —os factos começam a demonstrá-lo — os serviços prestados com transigências
que rebaixam e, o que é pior, com o sacrifício o desprestigio das instituições
e ainda com os dinheiros públicos que representam o suor e o trabalho do povo português
que se estiola numa luta de fome e miséria, envergonhado do papel deprimente,
que o seu país representa perante as nações civilizadas do mundo.
Em país nenhum, como neste, subiria aos mais altos poderes da monarquia
quem, como o novo par do reino João Pinto dos Santos, andou de armas ao ombro
para o derrubar.
Eis o que faz o medo!
*
Assim como um jornal que se arregimenta debaixo duma bandeira partidária
está dispensado de apresentar ao público que o lê, o seu programa que é o programa
do partido em que milita, assim também um jornal vimaranense escusa de afirmar
que se encontrará sempre ao lado dos seus conterrâneos, coadjuvando-os nas suas
aspirações.
Jamais sacrificaremos aos interesses partidários, o progresso e
desenvolvimento desta cidade.
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