A Praça da Oliveira em 1850. |
Diz a lenda que se confunde com a história que na Praça de S. Tiago de Guimarães teria existido um templo dedicado a Ceres, a deusa romana das searas, que o
apóstolo S. Tiago converteu ao culto cristão, colocando ali uma imagem Nossa
Senhora que, mais tarde, seria levada para a igreja do mosteiro de S. Salvador,
da Virgem Maria e dos Apóstolos, partilhado por monjas e monges, fundado por
Mumadona. A trasladação da imagem, provavelmente durante o governo do Conde D.
Henrique, coincidirá com a reforma do mosteiro, em cumprimento da proibição de
mosteiros mistos, e justificará a mudança do nome da igreja, que passou a chamar-se
de Santa Maria de Guimarães. Só em meados do século XIV, após o levantamento do
Padrão que Pedro Esteves mandou ir buscar à Normandia e a cadeia de milagres
que se lhe seguiram, é que passou a usar o título de Colegiada de Nossa Senhora
da Oliveira.
Um dos muitos autores que narram esta história foi o cronista dos agostinhos descalços Frei Agostinho de Santa Maria (1642-1728), neste trecho da sua obra Santuário Mariano, de 1707:
Perseverou o nome de Santa Maria de Guimarães até o ano de 1342, reinando el-rei Dom Afonso, o Quarto, como diz Estaço nas suas Antiguidades. Foi a causa, que um devoto da Senhora, chamado Gonçalo Esteves, lhe inspirou Deus fosse a Normandia Anaflor e mandasse fazer uma Cruz, e que a assentasse na Alvacaria de Guimarães. O Padre Frei Rafael de Jesus diz que Pedro Esteves, mercador e contratador, morador em Lisboa, mandara a seu irmão Gonçalo Esteves, informando-o da parte aonde acharia uma cruz de pedra com a imagem de Cristo, e que a todo o custo a conduzisse a Guimarães e a colocasse no lugar aonde hoje está. Ou fosse de uma, ou de outra maneira, ela foi assentada a 8 de Setembro, dia da Natividade de nossa Senhora, do ano de 1342.
Este Padrão vem a ser uma cruz de pedra, e nela de vulto a imagem de Cristo crucificado, levantada sobre uma coluna. E, sobre quatro pedestais revestidos de colunas, se levanta uma cúpula de abóbada que o cobre, obrado tudo com perfeição, e dentro na mesma cúpula, sobre o arco principal, se assenta uma imagem de nossa Senhora, distinta da Senhora da Oliveira, que invocam com o título da Vitória, como adiante se verá, à qual se atribuem muitos milagres que nosso Senhor ali obra. Foi o primeiro que, depois que a Cruz ali se assentou defronte da porta da Igreja da Senhora de Guimarães, reverdeceu uma oliveira seca, que estava junto ao mesmo lugar, porque lançou ramos e se cobriu de folhas. Desse dia por diante, deixado o título de Guimarães, se começou a invocar aquela santa imagem N. Senhora da Oliveira. Ali concorriam de várias partes muitos enfermos, e de várias enfermidades, e todos saíam da presença daquela santa imagem da Senhora, livres delas.
A esse Padrão desde o princípio do milagre vai o Cabido em procissão todas as sextas-feiras e sábados do ano, pelas almas dos reis seus fundadores e benfeitores daquela casa, e particularmente na véspera da Assunção de nossa Senhora, desde o tempo da batalha de Aljubarrota, em memória da vitória que nela alcançou el-rei Dom João o primeiro de Portugal, e nesse dia se faz procissão solene em que assistem, e acompanham as comunidades, e a Câmara, e depois se canta missa, e há sermão em memória da referida vitória, pondo-se no mesmo dia em lugar alto, a lança, e a vestidura com que el-rei entrou na batalha.
Santa Maria, Agostinho de, Santuário Mariano e história
das imagens milagrosas de Nossa Senhora, e das milagrosamente aparecidas, em
graça dos pregadores, e dos devotos da mesma Senhora, Oficina de António
Pedroso Galrão, Lisboa, 1707, pp. 56-57.
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