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Uma das principais ambições da Capital Europeia da Cultura deverá ser a de estimular o aprofundamento da dimensão europeia e a valorizar a presença de Guimarães no Mundo.
Quanto à dimensão europeia, a pista histórica, com a afirmação das raízes da cultura europeia, pode ser especialmente frutuosa. Pelo seu perfil cultural e histórico, bem assim como pela sua tradição de investigação, Guimarães tem condições únicas para afirmar na originalidade do seu contributo, entre outras possíveis, em três áreas:
a) A cultura castreja e a sua singularidade no contexto da Proto-História Europeia, à qual Guimarães está estreitamente vinculada, quer pela forte presença de vestígios dos velhos castros no seu território, com relevo para o mais emblemático de todos eles, a Citânia de Briteiros, quer por ter sido aqui que, em 1875, Francisco Martins Sarmento iniciou o seu estudo.
b) As raízes medievais das nacionalidades europeias, no quadro da Europa das Nações, por força da incontornável associação de Guimarães, o “Berço da Nação” portuguesa, à fundação de deste país.
c) A demografia e a história das populações, como resultado do trabalho do antigo Núcleo de Estudos de População e Sociedade (o “grupo de Guimarães”), da Universidade do Minho, coordenado por Norberta Amorim, que adquiriu grande visibilidade e prestígio científico internacional, em resultado do pioneirismo, da qualidade e da dimensão dos trabalhos que aqui se desenvolveu e se continua a desenvolver.
Estas três vertentes do conhecimento do passado, com sólida ancoragem no presente, constituem um importante capital histórico e científico de Guimarães, que não pode ser ignorado nem desperdiçado quando se aborda a dimensão europeia da nossa cultura.
Já no vector da presença no Mundo podem ser seguidas várias pistas. É inegável a relevância do contributo de Guimarães (e do Minho, em geral) na irradiação ultramarina da cultura europeia, na sequência das navegações dos séculos XV e XVI. A presença de Guimarães está espalhada por todo o Mundo, sendo especialmente visível na cultura brasileira. Uma das vias de trabalho mais promissoras será a da exploração da teia que foi montada pelos colonizadores, emigrantes e aventureiros que partiram de Guimarães e se espalharam pelo Mundo, hoje ainda visível naqueles que ostentam as suas origens no seu nome de família, alguns dos quais se destacaram como figuras proeminentes da cultura de outros países. De todos esses, o que atingiu maior projecção terá sido o escritor Guimarães Rosa, o autor de “Grande Sertão: Veredas”, renovador da literatura brasileira. A evocação da sua obra, no contexto da CEC, faria todo o sentido como forma de celebrar a presença de Guimarães e dos Guimarães no Mundo.
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