O Padrão de quê? (5)

O Padrão da Oliveira, numa fotografia de Luís do Souto que foi capa da revista Ilustração Católica, n.º 17, de 25 de Outubro de 1913. Note-se que as grades de ferro que resguardavam o Padrão e o adro da igreja ainda não tinham sido removidas quando a fotografia foi tirada.
[Com a colaboração de Nuno Saavedra]


[Continua daqui.]

Como vimos, o cruzeiro da Praça da Oliveira foi colocado no local onde hoje se encontra no dia 8 de Setembro de 1342, tempo em que D. Afonso IV reinava em Portugal. Foi mandado buscar à Normandia por Pedro Esteves, comerciante vimaranense, devoto de Santa Maria de Guimarães, então comerciante em Lisboa. Tal como tantos outros monumentos, quando foi levantado não tinha nome. Era, simplesmente, o padrão que estava ao pé da oliveira. Reza a tradição que, três dias depois de ter sido inaugurado o padrão, a velha oliveira, que estava seca, voltou a renascer. Milagre – disse o povo, que logo associou o acontecimento ao cruzeiro, assim como os 44 prodígios que ali começaram a acontecer um mês depois da erecção do padrão e se prolongaram até 27 de Março do ano seguinte, tendo sido registados por um tabelião no manuscrito que ficou conhecido como o Livro de Milagres de Nossa Senhora de Oliveira, publicado e estudado pela investigadora Célia Cristina Fernandes.
Como tantos outros monumentos, quando nasceu, não tinha nome próprio (como acontecia, por exemplo com o castelo: embora por vezes apareça designado como Castelo de S. Mamede, é, simplesmente, o Castelo e, para o distinguir de todos os outros castelos, deu-se-lhe o nome do local onde está implantado, Guimarães – Castelo de Guimarães). Nos documentos mais antigos, nomeadamente os que falam da festa do Pelote, o monumento é geralmente designado como o Padrão, ou o padrão que está fronteiro à igreja, ou o padrão que está ao pé da Oliveira.
Depois da Batalha de Aljubarrota, foi colocado um altar evocativo de Nossa Senhora da Vitória no interior do templete gótico que cobre o cruzeiro e o Padrão passou a ser o local de evocação de D. João I e de celebração da vitória da Batalha de Aljubarrota.
Numa visitação à igreja da Colegiada, realizada em Setembro de 1538, o Arcebispo de Braga de Braga designa-o como o Padrão que se chama de Santa Maria.
Num documento de 1645, é referido, por duas vezes, como o padrão da dita oliveira.
O Padre Torcato Peixoto de Azevedo, nas suas Memórias Ressuscitadas da Antiga Guimarães, chama-o de várias maneiras: Padrão da Senhora da Vitória, Padrão da Senhora, Padrão da Vitória, Padrão da dita Oliveira.
Nos séculos que se seguirão, será designado, quase sempre, por Padrão de Nossa Senhora da Vitória. Foi com essa designação que, a 30 de Dezembro de 1880, a Real Associação dos Arquitectos Civis e Arqueólogos Portugueses aprovou a sua classificação como monumento histórico de 2.ª classe. No século XIX, começam a chamá-lo também de Padrão de Nossa de Senhora das Vitórias, designação que ganhará força ao longo da primeira metade do século XX.
Em 1949, no decreto que o classifica como Monumento Nacional, não se lhe dá nome, descrevendo-o como um padrão comemorativo da batalha do Salado, em Guimarães. A partir das décadas seguintes, irá generalizar-se a designação de Padrão do Salado.
Não tendo nenhum, muitos nomes tem tido este padrão: Padrão de Santa Maria, Padrão da dita Oliveira, Padrão da Senhora da Vitória, Padrão da Senhora das Vitórias, Padrão da Senhora, Padrão da Vitória, Padrão do Salado. À luz da História e da tradição, por qualquer um deles pode ser chamado, menos por um: Padrão do Salado, porque não foi levantado para comemorar a Batalha onde Afonso IV ganhou direito ao cognome de o Bravo, nem alguma vez tal batalha ali foi comemorada. Nem na História, nem na tradição se encontra qualquer elo de ligação entre o padrão da praça da Oliveira e o recontro do Salado, para além da proximidade temporal.
Ora, se não tem nome próprio, nada mais natural do que designar o Padrão pelo nome do lugar onde está instalado, o que nem sequer seria uma inovação. Já muitos o chamam assim. E, vendo bem, já assim era chamado nos documentos que o designavam como o padrão da dita oliveira.
Padrão da Oliveira.



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