Segundo
o seu vigário de 1758, S. Martinho de Candoso “é
da terra mais fértil e melhor desta província do Minho. Costuma
produzir milhão, milho alvo ou miúdo, centeio e trigo, mas deste
pouco, bastante fruta de peras, maçãs e mais qualidades, castanha e
landres, e muito vinho verde e algum azeite".
Também
é fértil em tradições que nos levam até aos tempos sem memória
dos mouros,
como esta que conta Francisco Martins Sarmento nos seus apontamentos
de arqueologia:
Em S. Martinho de Candoso. No lugar e veiga da Teixeira, entre a capela de S. Bartolomeu e a igreja de Candoso, parece, “penedo com buracas”, onde as mouras pousavam os pucarinhos (cá temos o penedo de S. Gonçalo melhor explicado ainda!). Um dia, passava um homem que lhes pediu de beber de um dos pucarinhos; elas deram-lhe de beber por um; o homem fugiu com ele, apesar dos gritos e lágrimas das mouras. O cálice de Candoso também era um vaso por onde elas bebiam.
São
Martinho de Candoso
São
Martinho de Candoso, que é do termo de Guimarães, de cuja vila fica
distante meia légua, com pouca diferença, e da cidade de Braga,
três, e da de Lisboa, sessenta.
É o
orago desta freguesia o Senhor São Martinho Bispo de Turões [actual Tours , na França],
que se celebra aos onze de Novembro. Cuja igreja é bastantemente
grande, e mostra ser muito antiga pelos feitios que tem, mas é sem
naves. Tem três altares. No maior está o Santíssimo Sacramento,
que se colocou nele por modo de viático, aos dezasseis dias do mês
de Agosto do ano de mil e setecentos e quarenta e quatro. E tem, da
parte do Evangelho, o padroeiro, o Senhor São Martinho, e, da
Epístola, o Senhor Santo António. Os altares colaterais: o da parte
da Epístola é de Nossa Senhora do Rosário, onde está fundada uma
confraria e irmandade da mesma Senhora do Rosário, há mais de
oitenta anos, cuja imagem está e se venera no mesmo altar, e tem
alguns milagres de cera, que lhe têm posto alguns devotos a quem a
mesma Senhora patrocinou, quando se valeram dela nas suas
necessidades; o altar da parte do Evangelho é do Senhor dos Aflitos,
sob cuja invocação está colocada no mesmo altar uma irmandade das
Benditas Almas, há vinte e quatro anos. É a sobredita imagem do
Senhor Crucificado de mediana estatura. Tem, de um lado, a imagem do
Senhor São Sebastião e, do outro, a da Senhora Santa Rosa de
Viterbo e, no pé da cruz, a da Senhora Santa Apolónia. Dos
subpedânios destes altares, que estão na mesma igualdade da
capela-mor, se desce por três degraus para o pavimento do corpo da
igreja, onde se entra por duas portas, uma principal e outra travessa
para a parte do Norte.
É esta
igreja unida a mais duas anexas que tem, que são São Cristóvão de
Cima de Selho, que está imediata a ela para a parte do Poente, e São
Lourenço de Cima de Selho, que fica acima da vila de Guimarães um
quarto de légua, pouco mais ou menos, a um canonicato da Colegiada
de Valença do Minho, que hoje ocupa e possui o excelentíssimo Bispo
de Constantina, natural e morador na cidade de Lisboa e, como tal,
padroeiro delas, as apresenta todas três, intitulando-se abade de
São Martinho de Candoso e suas anexas, as quais são vigairarias ad
nutum,
e esta é colada e renderá, para o pároco, oitenta mil réis, pouco
mais ou menos e, para o padroeiro, anda arrendada, com as duas
anexas, em seiscentos mil réis, livres de todos os encargos.
Está a
igreja no meio da freguesia e está situada no vale ou ribeira que
desce da vila de Guimarães para a parte do Poente, que é da terra
mais fértil e melhor desta província do Minho. Costuma produzir
milhão, milho alvo ou miúdo, centeio e trigo, mas deste pouco,
bastante fruta de peras, maçãs e mais qualidades, castanha e
landres, e muito vinho verde e algum azeite. A maior parte desta
freguesia está situada para a banda do meio-dia do sobredito vale ou
ribeira que vem de Guimarães, e em mais altura, e por isso dela se
descobrem a mesma vila de Guimarães e muitas freguesias em roda,
excepto para a parte do meio-dia, e, para a parte do Norte,
descobre-se à distância de duas léguas, pouco mais ou menos, até
ao monte da serra da Falperra, onde se vê o templo da Madalena
Santa.
Tem esta
freguesia cento e onze vizinhos ou fogos e trezentas e cinquenta
pessoas de sacramento e menores, que existem nos lugares da mesma
freguesia, chamados o lugar da Várzea, Ribeira, Batocas, Queimado,
Cancela de Moure, Bacelo, Devesinha, Outeiro, Reboto, Gamilo, Samas,
Cernande, Candoso, Pipe, Teixeira, Fontainhas, Saganhal, Lourido,
Vinha, Carvalhal, Soeira, Carramão, Campinho, Rizo, Souto dos
Moinhos, Veiga e Assento.
Há nesta
freguesia uma ermida do Senhor São Bartolomeu, onde se não diz
missa, mas costuma concorrer a ela gente das freguesias vizinhas de
romaria ao mesmo santo, no seu dia.
Serve-se
a gente desta freguesia do correio da vila de Guimarães.
Há nesta
freguesia algumas fazendas privilegiadas com o privilegio chamado das
Tábuas Vermelhas de Nossa Senhora da Oliveira, da Colegiada de
Guimarães.
Fica
encostada a maior parte desta freguesia como acima digo às faldas do
monte da Senhora do Monte, que está em outros limites.
Passa por
parte desta freguesia um regato que chamam rio de Selho, que tem o
seu nascimento nas freguesias de Gonça e São Torcato, distantes
desta, para a parte do Nascente duas léguas, e perde o nome na
distância, para a parte do Poente, de uma légua, no rio de Ave,
onde se mete chamado o lugar da Várzea, da freguesia de Serzedelo.
Passa-se no lugar do Reboto, desta mesma freguesia, por uma ponte de
padieiras de pedra e, no lugar de Queimado, por uma de pau e também
tem outra chamada da Ribeira e outra chamada dos Moinhos. Cria o dito
rio peixes a que chamam escalos, bogas, panchorcas e enguias. Não
corre com muita aceleração e se costumam caçar os peixes do dito
rio com redes e cana com anzol. Só nos anos da maior seca secou este
rio em alguns sítios e, quando há muito Inverno, redunda por fora
da
mãe,
que algumas ocasiões se não passa pelas referidas pontes.
É o que
posso informar conforme os interrogatórios que me foram remetidos e
vai esta informação assinada pelo reverendo pároco de São
Cristóvão de Cima de Selho e pelo de Santa Maria de Silvares,
chamado este o reverendo Domingos da Silva e aquele o reverendo Bento
Fernandes, vizinhos desta freguesia, e vizinha mais com a de São
Tiago de Candoso, com Santa Eulália de Nespereira e com São Jorge
de Cima de Selho. São Martinho de Candoso, 20 de Maio de 1758.
Há no
sobredito rio duas casas de moinhos com quatro rodas que moem de
Inverno.
O vigário
António da Costa Rodrigues.
O vigário
de São Cristóvão de Cima de Selho, Bento Fernandes.
O vigário
Domingos da Silva, de Santa Maria de Silvares.
“Candoso,
São Martinho”, Dicionário Geográfico de Portugal
(Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo,
Vol. 8, n.º
97, p. 669 a 672.
[A
seguir: São Tiago de Candoso]
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