É
uma das freguesias de Guimarães cujo nome tem tido uma ortografia
mais inconstante. No documento mais antigo que se lhe refere, datado
do ano de 1059,
aparece como Zersedo. Modernamente, normalizou-se como Serzedo.
Francisco Martins Sarmento descreveu a igreja desta paróquia nos apontamentos das suas expedições arqueológicas:
Torneei
o monte de S. Lourenço e avistei a igreja de Cerzedo, que fica já
para as faldas do monte. A igreja é antiga. Tem marcas de pedreiros:
Singela em tudo, não exceptuando a cachorrada. Teve
alpendrada, pelo menos, dos lados. A porta principal é de volta
inteira com três arcos sobrepostos, lisos:
A
porta travessa do sul corre no mesmo nível que a frente:
Tem de notável o tímpano. Na capela-mor do mesmo lado há uma
fresta inutilizada, que distava do chão apenas seis palmos. A porta
travessa do norte fica num nível mais alto - a em relação a b-b. É
baixa: cinco palmos e meio, e o mais curioso é que não rasga até
ao solo, mas até um soco de três palmos que circuita a igreja. O
tímpano não é inteiriço.
Esta
porta está emparedada.
Na
traseira tem uma fresta cheia de pedras brutas.
Em
Serzedo, no lugar de Arcozelo, está a Capela da Senhora do Amparo,
onde a freguesia ia em clamor no primeiro domingo a seguir ao dia de
S. João. Foi
fundada ainda no século XVI, como conta o Abade de Tagilde:
No mês de Fevereiro de 1597 António de Afonseca e sua mulher Maria Rodrigues doaram verbalmente a seu tio o licenciado Jerónimo Rodrigues, abade de Serzedo e Cónego da Colegiada de Guimarães, onde morava na rua do Gado, o terreno necessário para a erecção desta capela, que em Setembro do mesmo ano já estava feita à custa dele. Em 20 deste mês o fundador dotou-a com a renda de 1$350 réis, um carro de palha triga e um leitão, que lhe pagava o casal de Cedofeita da freguesia de S. Paio de Vizela, estabelecendo a obrigação de uma missa anual em dia da Senhora de Março em honra da Virgem, com ementa por sua alma e das pessoas de suas obrigações.
J.
G. de Oliveira Guimarães (Abade de Tagilde), Guimarães
e Santa Maria,
Porto, 1904, p. 68.
Serzedo
No
princípio da ribeira de Vizela, junto à ponte de Pombeiro, cinco
léguas a Nascente afastado da cidade de Braga, légua e meia da vila
de Guimarães, e sessenta da cidade de Lisboa, se acha esta
freguesia, com o título de São Miguel de Serzedo.
É abadia
apresentada pela Mitra. Renderá, um ano por outro, quatrocentos mil
réis. Está pensionada em quarenta.
Tem
noventa e três fogos, pessoas trezentas e duas. Passa o rio Vizela
pelo meio dela. Da parte do Nascente, tem doze moradores. É couto de
Pombeiro. No tal sítio se acha uma capela com a invocação de Nossa
Senhora do Amparo, com altar privilegiado todos os dias, de que hoje
é administradora Dona Benta. Da parte do Poente, tem os mais
moradores (é termo de Guimarães), no meio dos quais fica a
sobredita freguesia.
Tem a
igreja três altares, um em que está o Santíssimo Sacramento e São
Miguel, nos colaterais um com a invocação da Senhora do Rosário, e
é privilegiado para os irmãos que querem entrar na dita irmandade,
e o outro de São Sebastião. Tem mais duas capelas desta dita parte,
uma que é da freguesia, com a invocação de Santo André, e outra,
com a invocação da Senhora da Conceição, cujo administrador é
Jerónimo Duarte.
Fica toda
esta parte nas abas da serra de Santa Catarina.
O que
mais abundante é de milho, vinho, frutas boas, caça miúda.
Não tem
coisa mais de que se deva dar parte conforme o interrogatório. S.
Miguel de Serzedo, 2 de Maio de 1758.
O abade
Manuel da Costa de Oliveira Lobo.
O padre
Miguel Soares da Costa, vigário de S. Lourenço de Calvos.
“Serzedo”,
Dicionário Geográfico de Portugal
(Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo,
vol.
10, n.º
281,
p. 1923-1924.
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