Memórias Paroquiais de 1758: Serzedo



É uma das freguesias de Guimarães cujo nome tem tido uma ortografia mais inconstante. No documento mais antigo que se lhe refere, datado do ano de 1059, aparece como Zersedo. Modernamente, normalizou-se como Serzedo.
Francisco Martins Sarmento descreveu a igreja desta paróquia nos apontamentos das suas expedições arqueológicas:
Torneei o monte de S. Lourenço e avistei a igreja de Cerzedo, que fica já para as faldas do monte. A igreja é antiga. Tem marcas de pedreiros: 
Singela em tudo, não exceptuando a cachorrada. Teve alpendrada, pelo menos, dos lados. A porta principal é de volta inteira com três arcos sobrepostos, lisos:

A porta travessa do sul corre no mesmo nível que a frente:
Tem de notável o tímpano. Na capela-mor do mesmo lado há uma fresta inutilizada, que distava do chão apenas seis palmos. A porta travessa do norte fica num nível mais alto - a em relação a b-b. É baixa: cinco palmos e meio, e o mais curioso é que não rasga até ao solo, mas até um soco de três palmos que circuita a igreja. O tímpano não é inteiriço.
Esta porta está emparedada.
Na traseira tem uma fresta cheia de pedras brutas.

Em Serzedo, no lugar de Arcozelo, está a Capela da Senhora do Amparo, onde a freguesia ia em clamor no primeiro domingo a seguir ao dia de S. João. Foi fundada ainda no século XVI, como conta o Abade de Tagilde:
No mês de Fevereiro de 1597 António de Afonseca e sua mulher Maria Rodrigues doaram verbalmente a seu tio o licenciado Jerónimo Rodrigues, abade de Serzedo e Cónego da Colegiada de Guimarães, onde morava na rua do Gado, o terreno necessário para a erecção desta capela, que em Setembro do mesmo ano já estava feita à custa dele. Em 20 deste mês o fundador dotou-a com a renda de 1$350 réis, um carro de palha triga e um leitão, que lhe pagava o casal de Cedofeita da freguesia de S. Paio de Vizela, estabelecendo a obrigação de uma missa anual em dia da Senhora de Março em honra da Virgem, com ementa por sua alma e das pessoas de suas obrigações.
J. G. de Oliveira Guimarães (Abade de Tagilde), Guimarães e Santa Maria, Porto, 1904, p. 68.

Serzedo
No princípio da ribeira de Vizela, junto à ponte de Pombeiro, cinco léguas a Nascente afastado da cidade de Braga, légua e meia da vila de Guimarães, e sessenta da cidade de Lisboa, se acha esta freguesia, com o título de São Miguel de Serzedo.
É abadia apresentada pela Mitra. Renderá, um ano por outro, quatrocentos mil réis. Está pensionada em quarenta.
Tem noventa e três fogos, pessoas trezentas e duas. Passa o rio Vizela pelo meio dela. Da parte do Nascente, tem doze moradores. É couto de Pombeiro. No tal sítio se acha uma capela com a invocação de Nossa Senhora do Amparo, com altar privilegiado todos os dias, de que hoje é administradora Dona Benta. Da parte do Poente, tem os mais moradores (é termo de Guimarães), no meio dos quais fica a sobredita freguesia.
Tem a igreja três altares, um em que está o Santíssimo Sacramento e São Miguel, nos colaterais um com a invocação da Senhora do Rosário, e é privilegiado para os irmãos que querem entrar na dita irmandade, e o outro de São Sebastião. Tem mais duas capelas desta dita parte, uma que é da freguesia, com a invocação de Santo André, e outra, com a invocação da Senhora da Conceição, cujo administrador é Jerónimo Duarte.
Fica toda esta parte nas abas da serra de Santa Catarina.
O que mais abundante é de milho, vinho, frutas boas, caça miúda.
Não tem coisa mais de que se deva dar parte conforme o interrogatório. S. Miguel de Serzedo, 2 de Maio de 1758.
O abade Manuel da Costa de Oliveira Lobo.
O padre Miguel Soares da Costa, vigário de S. Lourenço de Calvos.

Serzedo”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, vol. 10, n.º 281, p. 1923-1924.
[A seguir: Vila Nova das Infantas]


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