Ainda
Portugal não existia quando, no século X, a vila
Moreira
foi objecto de uma doação
amplíssima
feita por Gonçalo Mendes ao mosteiro de Guimarães em
6 de Julho de 983.
Por
essa via, entraria na posse da Colegiada de Guimarães, de onde lhe
vem o acrescento ao nome: Moreira de Cónegos. O vigário da paróquia
era apresentado pelo Chante da Colegiada da Oliveira.
Infelizmente,
a primeira letra do seu nome situa Moreira de Cónegos entre as
paróquias de Guimarães de que não conhecemos as memórias
paroquias de 1758, que muito terão contado, a crer, nomeadamente, no
que por lá encontrou Francisco Martins Sarmento nas suas explorações
arqueológicas
Já
conhecia mais ou menos o lugar das escavações. Nada adiantámos,
salvo o ver o sítio da antiga igreja (S. Gião), que ficava à beira
da estrada. A coisa intrigava-me porque ao pé nem povoação, nem
alto afamado. Pelo menos o Geraldo não sabia de nada. Recolhemos de
uma rapariga a notícia de que na bouça escavada havia um “Penedo
da Moura” com “um sinal”. Fica à beira da estrada; mas debalde
se procurou o sinal. O penedo foi partido para o lado da estrada nova
e é possível que o sinal desaparecesse. O certo é que o nome de
“Penedo da Moura” foi confirmado depois.
Vendo
uns casebres quase defronte da bouça, propus que fossemos lá. É um
lugarejo chamado “Vela”, que tem mais casas do que parece.
Comecei a interrogar uma velha, que me tomou pelo Manuel de Roriz, e
enquanto o Geraldo se lembrava de mandar chamar o Domingos Manuel de
Freitas, da casa do Outeiro, senhor de uma bouça contígua à já
explorada em parte, eu fui recolhendo o seguinte da senhora Maria.
Um
desconhecido, vindo de Guimarães, dissera que ninguém imaginava a
riqueza que havia desde S. Gião até ao “Cruzeiro” das cancelas
de Ferro. Entre outras coisas, havia “um cambão, uma grade e um
tornadouro”, tudo de ouro.
Os
mouros deixaram por ali enterradas aquelas riquezas; vinham de
Guimarães, dizia a mulher, e não paravam, eram como os franceses, e
por isso escondiam as riquezas, por virem como fugidos e recearem ser
surpreendidos.
Foram
também mouras que conduziram à cabeça as pedras dos muros de
Guimarães.
Onde
ficavam as cancelas de ferro? Para o lado do monte (poente) chamado
“monte da Cerca”.
Chegou
o Domingos de Freitas e completou as notícias. O monte da Cerca (não
se sabe a razão do nome) não é o mais alto, este chama-se monte de
S. Paulo, e diz-se ter havido ali uma capela. O monte da Cerca fica a
sul deste e é mais baixo. Ao abrir a estrada apareciam coisas
extraordinárias: vasilhas de feitios estranhos -três quebradas,
algumas cintadas de metal muito branco. O metal branco aparecia
também isoladamente. Por baixo de uma pia, que ainda hoje se vê,
quebrada nas paredes, embutida numa parede que faz face para a
estrada, achou-se um rebolo redondo com letras douradas (sic). Das
vasilhas, pelo menos, deve saber o engenheiro Gualter. Perguntaremos.
O
Domingos disse, como a Maria, que no monte da Cerca passava uma veia
(também cano) de água, mas que se dizia que, se a picassem, haveria
uma inundação. Como se vê, a tradição é de toda a parte. Disse
que na sua bouça apareciam tijolos onde quer que se escavasse, e que
eu podia escavar à vontade. Levou-nos pelo sítio chamado “Cancelas
de Ferro”, que lhe pertencia e por onde tinha sido feita uma
galgueira profunda, a pretexto de procurar uma água. Há muitos
anos, no tempo do pai dele. Nesta escavação é que apareceria o
cruzeiro, e não longe das cancelas de ferro (hoje há uma de
madeira), para o norte. O cruzeiro, diz ele, apareceu a grande
profundidade. Examinei o sítio. Dizia ele que ali a terra era
balofa; mas o que eu vi foi salão, e é possível que houvesse ali
um barroco velho, por onde rolasse o cruzeiro, sendo desenterrado
mais tarde. Mas era cruzeiro?
Moreira
de Cónegos
Moreira
de Cónegos é aldeia e paróquia do termo da vila Guimarães, na
comarca do mesmo nome. Consta o seu povo de 132 fogos, com 362 almas
de comunhão, na matriz dedicada a São Paio.
O pároco
é vigário apresentado pelo Chantre da Real Colegiada de Guimarães
e tem de côngrua 50$000 réis.
“Moreira
de Cónegos”, Dicionário Geográfico de Portugal
(Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo,
Vol. 42, n.º 208,
p. 98.
[A
seguir: Conde]
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