Capela de S. Mamede de Aldão. |
Há
historiadores que defendem, com bons argumentos, que foi em S. Mamede
de Aldão que aconteceu (ou começou a acontecer) a batalha que
ficaria assinalada como a primeira tarde portuguesa. Na Memória
Paroquial desta freguesia não há qualquer referência a tal
acontecimento, mas não esquece uma família de homens notáveis
desta freguesia, o jurisconsulto Manuel Barbosa e os seus filhos
Agostinho Barbosa, que seria
Bispo
de Ugento, no reino de Nápoles, e Simão Barbosa, cónego
da Colegiada de Guimarães.
Viveram no séculos XVI e XVII e, todos
eles, foram escritores, sendo autores de dezenas de obras de direito
civil e canónico.
Aldão
São
Mamede de Aldão, termo de Guimarães, Arcebispado de Braga, Primaz
das Espanhas, etc.
Terá, de
comprido, dois tiros de mosquete e, de largo, em partes dois, em
partes menos. Não há serra neste país.
Respondendo
ao que pergunta nos primeiros vinte e sete interrogatórios
compreendidos na lista que nos foi entregue com uma ordem do muito
Reverendíssimo Senhor Provisor da Corte e Relação de Braga
primazial.
Esta
igreja de São Mamede de Aldão, subúrbios de Guimarães, termo da
mesma vila e comarca, Arcebispado de Braga e comarca pelo
Eclesiástica, Província de Entre-Douro-e-Minho, é de el-rei Nosso
Senhor, o donatário a quem pertence.
Tem esta
igreja de São Mamede de Aldão trinta vizinhos e pessoas de
sacramento cento e catorze.
Está
situada num altinho, perto do regato chamado Selho, e da igreja se
descobre perto de meia légua, como são o monte de Rendufe
e o de Santa Marinha e o de São Domingos, de São Miguel de Gonça e
o de Santa Cruz e Castelo e São Tiago do Monte, até ao de Santa
Eulália de Fermentões. E tudo é ribeira, que se compõe de nove
igrejas paroquiais.
Esta
igreja é subúrbios da vila de Guimarães. Tem três aldeias, a
saber, Granja e Outeirinho, Penouços e Bouça, Assento da Igreja e
Casa de Aldão e Valé.
O orago
é São Mamede de Aldão. Tem dois altares, um do Santo e outro de
Nossa Senhora do Rosário. É uma pequena capela que não tem arco.
É curato
anual da mesa Capitular da Insigne Real Colegiada de Nossa Senhora da
Oliveira de Guimarães. Renderão os dízimos cento e cinquenta mil
réis. Dão ao pároco oito mil réis de côngrua.
Toda esta
ribeira e freguesia é abundante de milho grosso e legumes, centeio e
trigo e dá de tudo o que se semeia e planta.
É termo
de Guimarães. É juiz de fora e comarca do corregedor da mesma vila.
Da Quinta
de Aldão consta que Manuel Barbosa, que veio da vila de Aveiro, da
família dos Cardosos e ele e dois filhos, Simão Barbosa, cónego
que foi na Colegiada de Guimarães, e o insigne Agostinho Barbosa,
bispo que foi nas Itálias, que compuseram setenta e seis tomos de
Direito, bem conhecidos pelo seu nome Barbosa.
É
correio de Guimarães para a cidade do Porto. Lança-se as cartas à
quinta-feira e tornam a vir ao Domingo.
Desta
igreja à cidade de Braga são três léguas e à de Lisboa são
sessenta.
Não
tenho mais de que responder aos primeiros artigos.
Aos
segundos, nesta freguesia tem um pequeno monte que chamam a Aldão,
de que tem saído quantidade de cantaria de pedra grossa, que tem ido
para Guimarães.
Os montes
desta igreja são devesas de carvalhos alvarinhos que dão landres e
a silva serve de estrume. E há muita pouca criação, assim de gados
como de rês, porque não há pastos que o monte dá só sarganhos.
Rio.
Respondendo
à terceira pergunta e seus interrogatórios. Esta igreja está
situada às margens do regato de Selho. Este tem três princípios,
um de São Romão de Mesão Frio, e outro de São Romão de Rendufe e
outro de São Miguel de Gonça, distantes desta igreja meia légua.
Começam a ter seu princípio em pequenas fontes, os dois primeiros
se juntam a ……. [ilegível] e o terceiro a ……. [ilegível], e
no Verão secam, que muitas vezes não mói um moinho, porque dele se
tiram levadas para regar as searas às margens. São arrebatados nas
enchentes. Correm do Nascente para o Poente. Criam pequenos peixes,
que chamam bogas, e nessa parte comum.
As suas
margens se cultivam. São férteis de milho grosso, trigo, centeio e
erva com que engordam os bois e mais animais e é a virtude da água.
E o dito rio de Selho conserva o dito nome até ao arquinho do
Soeiro, onde entra no rio Ave.
Esta
freguesia está acima da ponte de Selho. Tem uma ponte que chamam a
ponte de Cima de Selho. É de cantaria, sem grades e tem um pontido
de pedra grossa
desde
a dita ponte até à Calçada de Segil, de altura de oito palmos.
Terá de comprido sessenta varas. Serve de passagem das águas que
vem da Quinta de Aldão. Outra passagem de padieiras aos moinhos de
Penouços de Cima, que vai para Monte Negro da vila. Acima desta
pinguela está uma levada com dois moinhos e um lagar de azeite. É
prazo do Senhor Dom Prior da Real Colegiada de Guimarães.
Item
outra levada da Bouça de Soutelo de Penouços de cima, dois moinhos
que pagam duas galinhas ao Figueiredo da Quintã.
Item a
levada de João Atão, que tem cinco moinhos e um engenho de azeite
do Aldão. São prazos do Reverendo Cabido.
Estão
quatro privilégios de Nossa Senhora da Oliveira encabeçados nos
ditos moinhos. Terá o supradito rio duas léguas desde o seu
nascimento até onde entra no rio Ave.
Tudo é
ribeira, assim campos como casas, porque neste nosso país não há
lugar, nem aldeia, porque têm o nome as casas conforme o sítio ou
campo. Onde se fazem, assim têm o nome.
Certifico
eu, o Padre João Lopes, cura actual desta igreja de São Mamede de
Aldão, termo desta vila de Guimarães, Arcebispado de Braga Primaz
das Espanhas, em como li todos os interrogatórios que me foram
entregues e achei digno de memória nesta igreja e freguesia tudo
aqui vai relatado, as memórias que achei. E vai na verdade que sendo
necessário o afirmo in
verbo sacerdotis
em presença do reverendo vigário de São Lourenço de Cima de Selho
e do reverendo padre cura de São Romão de Mesão Frio, que todos
assinam conforme a ordem que nos veio do Muito Reverendo Senhor
Doutor Provisor.
O
primeiro de Maio de 1758.
O vigário
António Mendes Teixeira.
O cura
Francisco de Araújo.
O pároco
de São Mamede de Aldão, o padre João Lopes.
“Aldão”,
Dicionário
Geográfico de Portugal
(Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol.
2, n.º 14, p. 135 a 139.
[A
seguir: S. Lourenço de Selho]
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