Memórias Paroquiais de 1758: Lobeira

Igreja de São Cosme e Damião da Lobeira
Embora permaneça como paróquia eclesiástica, a freguesia de São Cosme e Damião da Lobeira está integrada na de Atães desde 1909. Diz a tradição que o seu nome resultava de aqui ter existido um covil de lobos, que eram guardados pela mais velha de sete filhas de um casal desta terra, que se tornou pieira (pegureira ou pastora) de lobos, tradição que remete para a crença em lobisomens (segundo outra explicação conhecida, a etimologia de Lobeira derivará da família dos Lobeiros, da Galiza).

Lobeira
Título da freguesia de São Cosme e Damião de Lobeira, termo de Guimarães e visita de Monte Longo Arcebispado de Braga Primaz.
Em observância do mandato e ordem do interrogatório do muito Senhor Doutor Provisor da cidade primacial de Braga e como obediente súbdito satisfazendo e ela e seus interrogatórios ou aqueles que a terra permite.
Digo, esta freguesia está situada na Província de Entre-Douro-e-Minho, Arcebispado de Braga, termo e comarca da vila de Guimarães e terras de el-rei. Está entre alguns montes, mas não são coisa digna de memória, nem se descobrem povoações longínquas, nem latitudes.
É orago desta freguesia dos santos Cosme e Damião da Lobeira. É pequena esta igreja por ser a freguesia pouco populosa. É antiga, tem três altares somente. No altar maior estão os santos padroeiros, São Cosme e Damião. Tem mais dois altares fazendo costas ao arco, e tem só duas naves. Da nave sinistra está o altar de Nossa Senhora do Rosário, onde está também colocado o Santíssimo Sacramento. E, da nave direita, está o outro altar chamado das Chagas, com um Senhor Crucificado.
É o pároco desta igreja cura anual da data ou apresentação dos reverendos cónegos da Insigne e Real Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira, da vila de Guimarães, e anexa ao Mosteiro de São Torcato. São senhores dos dízimos, que andam juntos.
Tem esta freguesia duas capelas, sem que nelas se diga missa. Uma de São Martinho, da qual é administrador Domingos Martins, outra de São Roque, que é da freguesia, que nem a elas se fazem romagens, e só sim ao santo padroeiro São Cosme como advogado das enfermidades vem algumas pessoas das partes circunvizinhas, mas com pouca frequência, sem ser em dias determinados.
Tem esta freguesia tantos lugares a saber vel scilicet tal, tal tem cento e trinta e sete pessoas; não há aqui beneficiados, nem benefícios. Declaro tem esta freguesia lugares seis, a saber, lugar do Assento, lugar de Covas, lugar da …. [ilegível]1, lugar dos Cachos, lugar de São Martinho, lugar do Souto, lugar das Lobeiras lugar das Fontes.
Os frutos desta terra em mais abundância são milho grosso e menos centeio e algum milho meado e feijão, vinho verde, e alguns anos bastante, e azeite, não em muita quantidade, alguma castanha.
Não tem correio e se servem do da vila de Guimarães, que fica distante meia légua desta freguesia.
E, para a cidade capital de Braga, dista três léguas e ,da cidade do Porto, nove e, da de Lisboa, cinquenta e nove léguas.
Declaro não haver nesta freguesia irmandade alguma.
E não há nesta freguesia rio. Só um limitado ribeiro, onde há anos se fez um engenho de azeite e dois moinhos de pão, que não são contínuos.
Não padeceu, por bondade de Deus, ruína esta terra no terramoto.
Não tem feira, nem serras, nem rios, nem mais coisa que compreenda os interrogatórios, nem coisa digna de memória.
E assim respondo aos interrogatórios quanto a razão da terra permite e não mais. por não ter que deles mais anunciar, nem declare, nem antiguidades de que se faça memória.
Foi-me entregue esta ordem aos quatro de Abril de mil e setecentos e cinquenta e oito e assim dou satisfação, em resposta às suas interrogações. dentro do tempo nela determinado de dois meses.
Hoje, em São Cosme e Damião da Lobeira aos quinze de Maio de mil e setecentos e cinquenta e oito anos. Vai esta assinada por dois párocos vizinhos, como ordena o Muito Reverendo Senhor Doutor Provisor, a cujas ordens fico como mais humilde súbdito de Vossa Mercê.
O pároco José da Costa e Miranda.
Como pároco mais vizinho, o vigário de São Torcato, Manuel Ferreira Cardoso.
Como vizinho, o pároco Manuel de Oliveira, da freguesia de Santa Maria de Atães.

Lobeira”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. Vol. 21, n.º 97, p. 977 a 980.


1 Os nomes dos lugares estão enunciados na margem do documento, sendo de muito difícil leitura.

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