Padrão da Vitória, numa estereoscópia de Antero Frederico de Seabra (1858) |
Aos monumentos por
onde já passaram as suas Breves
considerações arqueológicas (Castelo, Muralha, Paço dos Duques e Igreja da
Oliveira), Jerónimo de Almeida ainda acrescentou dois “de somenos importância
arqueológica”, na sua opinião: os padrões (Senhora da Vitória e D. João I) e a
antiga Casa da Câmara. Reproduzimos agora o primeiro artigo, publicado no jornal
Alvorada de 1 de Abril de 1911, dedicado
aos padrões. Aí trata do Padrão de D. João I (também conhecido por Padrão de S.
Lázaro e Padrão dos Pombais) e do Padrão de Nossa Senhora da Vitória, que
celebra a vitória em Aljubarrota, ao qual, apesar dos esforços do historiador
de Guimarães Fernando Teixeira, se persistem, erradamente, em chamar de Padrão
do Salado. Jerónimo de Almeida não incorre nesse erro, que no tempo dele ainda
não tinha sido perpetrado.
Breves considerações arqueológicas — V
Padrões
Dois padrões se admiram
em Guimarães e que são igualmente considerados monumentos nacionais, — o de Nossa Senhora da Vitória e o de D. João I.
O de Nossa Senhora da Vitória, situado junto
do adro da igreja de Nossa Senhora da Oliveira, fora mandado ali erigir no reinado
de D. Afonso IV. É composto de quatro arcos ogivais pousados em colunas com
capitéis de folhas e figuras grotescamente esculpidas, encostadas a grossos pilares
de cantaria que, em cada ângulo, suportam a abóboda do padrão, tendo no vértice
de cada arco o brasão de armas usado por aquele rei. Posteriormente à sua construção
colocou-se no arco do fundo, a partir dos capitéis, um altar de estuque,
envidraçado, consagrado à imagem da Senhora da Vitória e que comemora também,
como a gótica restauração do templo, a famosa vitória de Aljubarrota. Dentro do
padrão ergue-se um elegante cruzeiro, para ali transferido no ano de i38o, como
se lê numa inscrição gravada na sua haste (M.CC.LXXX), (pois que até então
estava fora, junto da antiga oliveira), com o Crucificado e várias estátuas de santos:
na frente, de Nossa Senhora, de S. João Evangelista, de S. Dâmaso e S. Torcato;
no verso, de Nossa Senhora do Rosário, de S. Filipe Apóstolo e S. Gualter. Tem
ainda este cruzeiro na base um escudo de armas portuguesas. Aos lados do altar
vêem-se dois baixos-relevos alusivos um à visita de D. João I a este padrão,
outro a um milagre atribuído à Virgem e que naquele lugar se dera.
Padrão de D. João I, numa estereoscópia de Antero Frederico de Seabra (1858). |
O de D. João I acha-se ao fim da rua deste
nome, em frente à capela de S. Lázaro, evocando uma das piedosas romagens que, segundo
a tradição, este devoto monarca fizera a Nossa Senhora da Oliveira. É formado
de quatro pilares quadrados, sem lavores arquitectónicos, em que assenta a abóbada
de pedra também e dentro levanta-se o cruzeiro de alvo mármore, com a cruz
rendilhada. Este padrão, depois de ter já sido restaurado, foi mudado da
pequena distância de alguns metros para o local que actualmente ocupa, em 1863,
com o fim de melhorar o alinhamento da rua.
São estes dois históricos
padrões, incomparavelmente mais valiosos que quaisquer outros que por aí se
ergam, merecedores da nossa desvelada conservação, não pelo significado
religioso que representam, mas porque são outros tantos documentos históricos de
que honrosamente falam os velhos arquivos desta terra. A luz bruxuleante e mortiça
que de noite os alumia parece querer ressuscitar os tempos místicos e românticos
da meia-idade, prenhes de crenças, de superstições e tiranias!
Jerónimo
de Almeida.
Alvorada,
1 de Abril de 1911
2 Comentários
Apesar deste texto ser antigo, gostaria de compreender melhor o motivo pelo qual refere que o 1º Padrão deve a sua construção à Batalha de Aljubarrota e não do Salado, atribuindo ainda a sua construção no reinado de Afonso IV, quando ainda não tinha acontecido a Batalha de Aljubarrota.
Obrigado.