Há tempos, foi
solicitada por um grupo de cidadãos a realização de um debate sobre o parque de
estacionamento previsto para o miolo do quarteirão das ruas de Camões, da Liberdade
e da Caldeiroa e da travessa que liga as duas últimas. Anuncia-se para hoje uma
“sessão informativa sobre o projecto de execução do parque de estacionamento
adjacente às ruas da Caldeiroa, Liberdade e Camões”, promovida pela Câmara
Municipal. Não estou seguro de que essa sessão seja resposta àquela solicitação
de cidadãos. ‘Sessão informativa’ afigura-se-me como algo diferente de ‘debate
público’, parecendo revelar uma menor predisposição para uma discussão aberta e
franca. Pode ser que esteja enganado. A ver vamos.
Em boa verdade, continuando
a tomar pelas aparências, parece que esta iniciativa se configura para ser mais uma
sessão de divulgação e propaganda do que debate esclarecedor e capaz de
dissipar as muitas dúvidas que andam no ar. Como não estou certo de que os
cidadãos tenham a possibilidade de colocar todas as questões que entendam dever
ser esclarecidas, aqui deixo algumas.
Antes de mais,
notarei que a disponibilidade para apresentar publicamente este projecto
(divulgação que deveria ser assumida como obrigação da autarquia, sempre que
estivessem em causa projectos susceptíveis interferirem com a vida dos cidadãos
— e antes que estes produzam efeitos dificilmente reversíveis) chega
tarde. Demasiado tarde para não ser confundida com uma iniciativa no âmbito de
uma campanha eleitoral que já vai no adro. Ninguém pode ignorar que a maior força
da oposição já apresentou uma proposta eleitoral que conflitua com este
projecto e que teve significativa ressonância pública e mediática. Assumo que
esta inquietação pode ser injusta, mas parece-me que não serei o único a
alimentá-la. Se se trata de uma acção de resposta à proposta da oposição, e não
ao pedido de um grupo de cidadãos, que lhe é anterior, é natural que se
questione a mobilização de recursos da autarquia para essa iniciativa.
Estou seguro de que
a apresentação do projecto, quanto à natureza do que se pretende construir, será
competente e esclarecedora. Assim o garantem os nomes anunciados para a sessão que
são pessoas cuja competência técnica ninguém de boa-fé colocará em causa. No
entanto, confesso que, antes de quaisquer esclarecimentos sobre o projecto em
causa, há questões que carecem de esclarecimento prévio que afaste todas as
dúvidas.
A primeira será,
obviamente, a da necessidade de mais parques de estacionamento pagos na cidade
de Guimarães.
Julgo que esta
questão será a mais fácil de responder. Basta para isso que se divulguem os
estudos técnicos que sustentem tal necessidade, assim como as informações
acerca das taxas de utilização dos parques já existentes.
Uma tão assertiva convicção,
como a que por aí vai, de que há falta de oferta de estacionamento em Guimarães
estará, necessariamente, fundamentada em estudos e dados quantificáveis. Não se
percebe porque é que esses dados não são públicos.
Os únicos números que
conheço, referentes à utilização da oferta de estacionamento disponível foram
divulgados pelo jornal Mais Guimarães,
cingindo-se, exclusivamente, ao estacionamento de rua, regulado por
parcómetros. Esses dados, à falta de outros, autorizam que se conclua que a
oferta de estacionamento disponível supera substancialmente a procura efectiva.
Desconhece-se
qualquer informação quanto ao grau de utilização do estacionamento nos parques
cobertos. Assim sendo, a única conhecimento de que dispomos é o que resulta do
que os nossos olhos vêem. É certo que não será o mais objectivo, mas não temos
outro. E o que nos mostra, com a força da evidência, é que, também aqui, a
oferta supera largamente a procura. Note-se que estamos a falar de parques que
ficam, no máximo, a uma confortável meia dúzia de minutos, a pé, do Toural ou
do Centro Histórico.
Um dos argumentos
que têm sido esgrimidos para justificar a necessidade de mais estacionamento no
centro urbano de Guimarães prende-se com as tão propaladas fragilidades do
comércio local, cuja solução seria mais, e mais próximo, estacionamento. Esta
ideia de fragilidade resulta de simples observação empírica ou já foram feitos estudos
que demonstrem a relação de causa-efeito entre a suposta falta de estacionamento
e a tão afirmada debilidade do comércio local?
É que, mais uma vez,
não obstante velhas ideias feitas, o que vemos não nos dá assim tantas certezas
quanto à natureza da moléstia e à eficácia da panaceia receitada. Olhemos para
o que aí está. Se há locais onde o comércio exibe sinais de decadência são os centros
comerciais Santo António, Palmeiras e Triângulo. Porém, nos três casos, o que
não falta por lá é onde estacionar. Todos têm parques de estacionamento
próprios. Maior proximidade deve ser difícil conseguir em qualquer outro local
da cidade. E, no entanto…
Outra questão que era
importante ser esclarecida é a que resulta de um anúncio recente. Num tempo em
que o parque da Caldeiroa já era dado como irreversível, foi anunciado que a
Câmara tinha encomendado um estudo de viabilidade da construção de novo(s)
parque(s) de estacionamento na Alameda e no Campo da Feira. Tal anúncio gerou
perplexidade, instalando uma dúvida: será que se equaciona construir mais
estacionamentos, para além do parque da Caldeiroa, ou será que o estudo
encomendado visa tentar encontrar uma melhor alternativa para ele?
Há muito que
esclarecer, portanto. A começar pelas prioridades de investimento no nosso
concelho. Provavelmente, já vai sendo tempo de começar a pensar, de um modo
mais consistente e articulado, Guimarães como um todo.
Vivemos um concelho
onde há jovens que têm que recusar estágios profissionais por falta de transportes
que lhes permitam chegar em tempo útil aos locais onde essa oferta existe. Um
concelho onde, pela mesma razão, há pessoas que se vêem obrigadas a recusar
ofertas de emprego. Salta aos olhos que Guimarães tem um sério problema de
mobilidade em transportes públicos. Não obstante, dispõe-se a investir, na construção
de parques de estacionamento, dinheiro público afecto a programas de
mobilidade. Ora, salvo melhor opinião, estamos perante um contra-senso gritante.
Mobilidade não é sinónimo de estacionamento. É o contrário.
Até que me
demonstrem algo diverso, continuarei a defender que Guimarães não carece de
investir em mais estacionamento no centro da cidade. Em Guimarães urge pensar o
concelho como um todo e a definir políticas e projectos que favoreçam a sua
coesão territorial.
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