A Colegiada da Senhora da Olvieira |
6 de Julho de 1917
Portaria do Ministério da Justiça autorizando a Sociedade Martins
Sarmento a receber a título precário e por inventário o tesouro de Nossa Senhora
da Oliveira que o Estado havia confiscado. Por terem surgido diversas
dificuldades a Sociedade só tomou posse e assumiu a responsabilidade da guarda
dele em 15 de Março de 1920.
(João Lopes de Faria, Efemérides
Vimaranenses, manuscrito da Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento, vol.
III, p. 15 v.)
Extinta a Colegiada de Guimarães, em 1912, o seu património passou para a posse do Estado, mas não sairia de Guimarães.
No dia 6 de Julho foi publicada uma portaria assinada pelo Ministro da Justiça
e do Culto, Alexandre Braga em que entregava à Sociedade Martins Sarmento os objectos do culto com valor artístico
e histórico pertencentes à extinta Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira, estabelecendo
os procedimentos para a sua selecção e transferência para o Museu da SMS. A
Sociedade Martins Sarmento apenas entraria na posse do Tesouro da Colegiada em
1920. Por não ter instalações suficientes para o alojar, ficou guardado na Casa
do Cabido.
Quando, em 1921, tomou posse a primeira Direcção da Sociedade
Martins Sarmento presidida por Eduardo de Almeida, logo tratou de “melhorar
as instalações das preciosíssimas jóias que constituem o tesouro da Colegiada”,
empenhando-se no projecto de aproveitamento da Capela de S. Brás, no claustro
da Colegiada, para instalar um museu de Arte Sacra. No entanto, este projecto
não se concretizaria, porque Guimarães foi surpreendida pela publicação de um
decreto de 30 de Julho de 1921, que entregava à Caixa
Geral de Depósitos a Casa do Cabido da Colegiada, com a obrigação de “conservar
no compartimento da «Casa do Cabido», onde actualmente se encontra, o tesouro
da extinta Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira, até que seja removido para o
edifício da Sociedade Martins Sarmento”.
De imediato, a Sociedade Martins Sarmento tratou da transferência para a
sua sede do Arquivo da Colegiada, que ficaria concluído no dia 18 de Agosto de
1921, em carro de bois, tendo sido necessários sete carregamentos. Diria
Eduardo de Almeida, em reunião da direcção da SMS realizada no dia 11 de
Agosto:
Quanto ao Arquivo, não
haveria outro remédio senão trazê-lo às costas e depressa, para não se
misturarem os forais da nossa terra com os verbetes e cautelas de depósitos e
penhores, sem bem sabermos onde havermos de agasalhá-lo, pois de há muito
lutamos embaraçadamente com falta de espaço e aquilo é um tesouro!
E,
disse também, a propósito dos projectos que a Sociedade tinha para a Casa do
Cabido, que a entrega àquela instituição bancária inviabilizaria:
A Casa do Cabido interessava
já muito de perto a Sociedade Martins Sarmento. É nela que se encontra o
Tesouro da Oliveira, escrínio de algumas das melhores jóias portuguesas, pelo
altíssimo valor histórico e pela encantadora, maravilhosa cinzeladura
artística, e os restos, escapos à triste monomania de levar para Lisboa velhos pergaminhos
e códices, mas ainda de raro valor para estudiosos, do muito precioso Arquivo
da Colegiada.
Tesouro e Arquivo haviam-nos
sido entregues. Lutando a Sociedade com sérias dificuldades, apenas removíveis
com tempo e sacrifício, para a sua condigna instalação no próprio edifício,
tem, ainda assim, procurado honrar a confiança que justamente nela depositaram,
do que será prova não só a publicação do Catálogo em breve, como facto por si
eloquente de, até esta altura do ano, as visitas ao Tesouro haverem sido bem
superiores às realizadas durante a última meia dúzia de anos. Estávamo-nos
mesmo habilitando para mandar construir algumas estantes mais, destinadas à
conveniente exposição de peças de valor da indumentária católica.
E
Eduardo de Almeida não pouparia nas palavras para expressar a sua revolta
contra aquele negócio:
O atentado consumou-se. A
cessão fez-se. E fez-se com acinte, com desprezo, com ultraje, para a cidade de
Guimarães.
Amanhã nos dará razão. Mas
amanhã é tarde.
Cada visitante, cada
forasteiro de cá ou de fora, ao dobrar do Largo da Oliveira para a Senhora da
Guia, e ao ver a tenda do negócio nas dependências do Templo, há de justiçar-nos
com palavras duras para nossa ignomínia e para nossa vergonha.
Porque é chapadamente uma
vergonha!
O contrato é em tudo
infeliz, vesgo, apressado. A cedência é uma pouco ladina defraudação dos
dinheiros do Estado. O preço pelo qual a Caixa Geral dos Depósitos adquiriu o
prédio — seis contos — é simplesmente irrisório, nos tempos que correm. Foi por
tuta e meia. Foi por muito menos do que o seu valor real. Toda a gente o diz,
toda a gente o sabe.
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