O Campo da Feira no início do século XX. O Teatro D. Afonso Henriques é o que se situa em primeiro plano, do lado direito da imagem |
5 de Julho de 1854
Neste dia (e
não em 14 de Julho, como diz o padre Caldas no "Guimarães, apontamentos
para a sua história", vol.1, pág.155, e alguns jornais desta cidade, em
efeméride) foi a catástrofe na construção do teatro de D. Afonso Henriques,
como se vê dos livros respectivos de entradas e óbitos no hospital da
Misericórdia, pois neste dia deram entrada nele: Francisco José Fernandes,
solteiro, carpinteiro, natural de S. Mamede (?), Manuel José Antunes, de 30
anos, casado, carpinteiro, de Briteiros, António Alves, natural e residente em
Adaúfe, 50 anos, filho de Maria Fernandes, solteira, casado com Josefa da
Silva, carpinteiro. Todos faleceram da queda; os dois primeiros neste mesmo dia
da entrada, em que tão mau era o seu estado que não puderam dar
esclarecimentos, e o terceiro faleceu no dia 9 deste mês, sendo todos 3
sepultados na igreja dos Capuchos. O livro das entradas chama ao primeiro
Gonçalves e o dos óbitos Fernandes. Morreram mais dois operários, mas não
entraram no hospital porque tiveram morte instantânea.
(João Lopes de Faria, Efemérides
Vimaranenses, manuscrito da Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento, vol.
III, p. 13 v.)
O Teatro D. Afonso Henriques, que esteve para se chamar Teatro
Vimaranense, foi construído de raiz no largo do Campo da Feira, tendo sido
inaugurado com um baile de máscaras, no dia 12 de Agosto de 1855. No dia da
abertura, já estava quase esquecido um desastre resultante da derrocada de uma estada (andaime?) ocorrida um ano antes,
no dia 5 de Julho de 1854, de que resultou a morte de cinco operários que aí
trabalhavam.
A referência do Padre Caldas a este acidente, a que se refere João Lopes de Faria, é a seguinte:
Em 1853, igualmente [referência a um teatro que funcionou num salão do
antigo convento de S. Francisco, inaugurado no dia 6 de Maio de 1849] por meio
de acções de 10$000 réis, principiou-se no largo do Campo da Feira o actual
teatro, intitulado de D. Afonso Henriques, como nascido aqui nesta nossa terra.
No ano seguinte, a 14 de Julho, andando ainda em construção, teve lugar ali a
lastimosa catástrofe do desabamento duma grande estada, que quase do alto do
edifício veio abaixo com os operários, que nela trabalhavam; causando a morte
instantânea a dois, e falecendo mais três daí a pouco, no hospital geral.
Este teatro foi inaugurado com os bailes de máscaras no carnaval de 1855;
e continua funcionando, tendo por várias vezes sido honrado com a visita dos
primeiros actores dramáticos portugueses, como consta do Livro do registo de inspecção
o mesmo teatro.
António José Ferreira Caldas, Guimarães,
apontamentos para a sua história, vol. 1, Tipografia de A. J. da Silva Teixeira,
Porto, 1881, pp. 155-156
0 Comentários