É publicada na Praça (largo da Senhora da Oliveira)
por Pedro de Oliveira, com assistência de parte da nobreza e de muito povo, a
lei sobre as pessoas que assistem nas grades dos mosteiros das freiras,
declarando as penas por ela postas a quem a não cumprir e for contra ela.
(João Lopes de Faria, Efemérides
Vimaranenses, manuscrito da Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento, vol.
II, p. 279)
No passado, as freiras de Santa Clara eram conhecidas pelos seus dotes de
confecção de doces e de exposição a galanterias mais ou menos secretas, que as
faziam estar sempre debaixo do olho de mexeriqueiros e moralista. Em Guimarães,
os freiráticos, aqueles que conversavam religiosas, eram, não raras
vezes, religiosos, por regra cónegos da Colegiada da Oliveira. A legislação em
vigor estabeleciam penas particularmente severas para os que cometiam este
tipo de actos, classificados, pela sua natureza, de sacrílegos, podendo ir à pena de morte. Não faltaram, em Guimarães, devassas a acusações desta natureza.
O entanto, os culpados eram punidos, quando o eram, com penas suaves, que
raramente passavam de multas reconhecidamente módicas.
Aqui fica, como exemplo, uma história que já contei noutro lugar. O
personagem principal é o cónego Miguel de Macedo Portugal, neto de um outro
cónego a quem sucedera na prebenda, e que em 1712 tinha perfilhado quatro
filhos, entre os quais Micaela de Macedo, a mãe do cónego freirático.
Uma das testemunhas ouvidas no processo afirmou que tinha visto, repetidas
vezes, o cónego Portugal quando este se dirigia para o interior da porta de
Santa Cruz (uma das portas públicas da vila de Guimarães), sítio escuro e não frequentado, transportando uma escada, com a
qual vencia o muro do quintal de umas casas, de onde escalava o muro do
mosteiro, contíguo ao quintal. Diversas testemunhas relataram que o costumavam
ver entrar furtivamente no interior do recinto do mosteiro, entre as nove e as
dez horas da noite, e que das vezes que o viram sair seria entre as onze da
noite e as três horas da madrugada. As diferentes testemunhas repetiram o que
era público: tais visitas nocturnas tinham como destino a cela da religiosa sua
prima, com quem era notório que mantinha um namoro clandestino. Três freiras de
Santa Clara confirmaram que era franqueada a entrada a homens no interior do mosteiro,
pela calada da noite, o que elas sabiam por os ouvirem dando assobios, fazendo escarradas e senhas. Por tais sinais uma
das religiosas não teve dúvidas em identificar o cónego Portugal. Para estas
testemunhas, era perceptível que os intrusos entravam no convento socorrendo-se
de escadas de mão, que identificavam pelo
ranger e estrondo delas. Este facto seria corroborado pela descrição de uma
estranha ocorrência: uma manhã, foi encontrada uma destas escadas no interior
de Santa Clara, sem que ninguém pudesse explicar como teria ido ali parar.
Na sequência deste processo, o cónego Miguel de Macedo Portugal seria
mandado preso para o aljube de Braga, onde ficaria pouco tempo. Um pouco mais
tarde, voltaria a apresentar-se ao Cabido de Guimarães, sendo portador de uma
certidão da sentença, que, anos depois, se comprovou estar viciada.
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