1905: A questão do emblema da Associação Artística (conclusão)



A questão da suposta filiação maçónica do emblema da Associação de Socorros Mútuos Artística Vimaranense ficou esclarecida na época. Aquele símbolo, apesar das inegáveis similitudes com a o insígnia maçónica, apenas pretende representar as artes, no quadro das preocupações daquela colectividade (recorde-se que esta associação mutualista nasceu para reunir todos os indivíduos do sexo masculino, que exercendo alguma arte ou ofício, dela quiserem fazer parte, uma vez que residam na cidade de Guimarães e seu concelho). Mas se, como escreveu o arquitecto Nicola Bigaglia, que desenhou o emblema, há quem veja no esquadro e no compasso o diabo, em Guimarães houve quem, no início do século XX, encomendasse o respectivo exorcismo.
Na iconografia maçónica, o esquadro e o compasso sobrepostos simbolizam a espiritualidade e a materialidade do Homem. Aparecem, quase sempre, acompanhados pela sétima letra do alfabeto, o G, que é associada à perfeição e à geometria. A associação destes três elementos (esquadro, compasso e letra G) constitui o elemento mais recorrente da simbologia maçónica, apresentando, regra geral, uma configuração semelhante à seguinte:

Conjunto simbólico maçónico: compasso, esquadro e letra G.
Observando de perto, são claras diferenças que se identificam no emblema da Associação Artística (ausência da letra G, configuração do esquadro, que aqui tem a forma de um triângulo fechado, enquanto que no ex-libris maçónico é representado sobre a forma de dois segmentos de recta, sendo aberto num dos lados), como se pode ver a seguir:

Emblema actualmente existente à entrada da sede da Associação Artística
(A data que aparece por baixo não corresponde à data de fundação da Associação, que aconteceu em 1869)

Acresce que, no emblema da Associação Artística, ao conjunto formado pelo esquadro e pelo compasso, se sobrepõe, como se vê, um ramo de palma, cuja representação nos remete para o culto dos mortos dos cristãos, por simbolizar o sofrimento ou o martírio e o renascimento ou a ascensão ao reino dos céus. É por lhe ser atribuído este duplo significado que aparece com tanta frequência nos nossos cemitérios. A sua presença no emblema da Associação Artística faz todo o sentido, uma vez que um dos propósitos que presidiram à criação daquela instituição foi a de comparticipar nas despesas dos funerais dos seus sócios e no auxílio aos seus órfãos e viúvas, preocupação comum, à época, entre as instituições de socorros mútuos.

Manifestamente, o ramo de palma não é um símbolo maçónico. O que se existe de mais próximo na iconografia maçónica são as folhas de acácia, que simbolizam a pureza, a inocência e a iniciação para uma nova vida. A sua representação mais frequente toma a forma de jóias, de que a imagem seguinte é um exemplo:
Alfinete maçónico, em ouro e âmbar, representando folhas de acácia.

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