D. João VI |
18 de Junho de 1808
O Cabido de Guimarães com o povo, são os primeiros, na sua igreja
Colegiada, a aclamar como legítimo rei a D. João VI, conduzindo os retratos de
Suas Majestades e Altezas debaixo do pálio pelas ruas da vila, que foi a
primeira das vilas e cidades a quebrar os ferros da escravidão francesa. Houve
iluminação na torre.
(João Lopes de Faria, Efemérides
Vimaranenses, manuscrito da Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento, vol.
II, p.6)
Perante a ameaça da invasão francesa, a família real portuguesa zarpou
para o Brasil na nau Príncipe Real no dia 29 de Novembro de 1807. Por essa
altura, já Junot entrava em Lisboa. Ficaria “a ver navios”. Portugal era
ocupado, mas não perdia a independência, que seguiu, rumo ao Rio de Janeiro, na
bagagem da Rainha e do Príncipe Regente.
Cumprindo o estipulado na convenção secreta de Fontainebleau entre
Napoleão e o reid e Espanha, o general Aranco y Liano, à frente de uma força de
composta por mais de seis mil homens, ocupa o Porto, no dia 13 de Dezembro,
depois de vencidas algumas dificuldades.
Em Guimarães, tardará a ser admitida a soberania dos franceses e dos
espanhóis, seus aliados. A vila seria ocupada por tropas espanholas em meados
de Dezembro, mas só no final de Janeiro de 1808 é que aparece formalizada nos
documentos da Câmara a autoridade do “Imperador dos Franceses”.
Em meados de 1808, o Norte de Portugal sublevou-se contra a dominação
francesa, afirmando a sua obediência ao Príncipe Regente, D. João. Guimarães
seria a primeira terra do Entre-Douro-e-Minho a anunciar a aclamação pública do
Príncipe, pelas quatro da tarde do dia 18 de Junho, antecedendo o Porto em
algumas horas. Os acontecimentos que se seguiriam à aclamação ficariam gravados
nos anais de Guimarães e das suas gentes solidárias e aguerridas.
Tal submissão não se prolongaria por muito tempo. Já nos primeiros dias
daquele Maio se desencadeara em Madrid uma rebelião do povo espanhol contra a
dominação francesa, que seria perpetuada por dois célebres quadros, O Dois de Maio ou a Carga dos Mamelucos
e os Fuzilamentos da Moncloa, de
Francisco Goya, ele próprio testemunha dos acontecimentos daqueles dias. O
levantamento contra os franceses, vitorioso em Espanha, teria reflexos em
Portugal. São dadas ordens aos chefes militares espanhóis que se encontravam em
Portugal para regressarem ao seu país, aprisionando e levando consigo os
franceses. Obedecendo a estas ordens, o general Ballesta, que substituíra
Taranco, entretanto faleciudo, prendeu, no dia 6 de Junho, o Governador do
Porto, o general francês Quesnel e partiu para a Galiza. Uma primeira intenção
de aclamação do Príncipe regente no Porto prevista para a madrugada do dia
seguinte, ficaria adiada.
Em Lisboa, o levantamento dos militares espanhóis não teve o mesmo
sucesso do Porto. Junot desarma-os e prende-os sem que tivessem tempo de pôr em
prática as ordens que chegavam de Espanha, e logo dava início à repressão do
levantamento em curso no Norte, depositando essa missão nas mãos de Loison, o
famigerado Maneta. Ao mesmo tempo,
punha em curso um processo de mobilização geral, com que pretendia criar um
exército de 50.000 portugueses para combater Espanha, intenção que em muito
contribuiu para agudizar as inquietações e a revolta contra os franceses, cada
vez menos surda.
No dia 16 de Junho de 1808, dia do Corpo de Deus, houve festa em
Guimarães, onde já foram explícitas as manifestações de desafio ao usurpador.
Circulavam notícias de que, em Bragança, o velho General Sepúlveda se havia
colocado à frente da sublevação contra os franceses. Na festa vimaranense desse
ano, não faltou quem ostentasse no chapéu um laço que simbolizava a soberania
portuguesa. As manifestações anti-francesas prolongaram-se pelo dia seguinte,
com música, luminárias e ladainhas.
O dia 18 seria o dia do levantamento em Guimarães. A iniciativa de
convocar o povo para aclamar o príncipe regente fora do Corregedor da Comarca,
António Manuel Borges que, por volta das 4 horas da tarde, na Praça da Oliveira,
para onde mandara convocar o povo ergueu a sua voz: Viva o nosso Príncipe, e vivam os portugueses.
Após a aclamação de D. João como legítimo Príncipe Regente de Portugal,
as ruas foram percorridas por um grande cortejo, no qual os retratos da família
real foram conduzidos debaixo de um pálio.
No dia seguinte, era enviada do Porto para Guimarães uma carta mandando
aclamar o príncipe regente. As gentes de Guimarães haviam-se antecipado. Nesse mesmo
dia, organizou-se o Batalhão dos Privilegiados de Nossa Senhora da Oliveira
que, juntamente com o Regimento de Milícias de Guimarães compuseram a hoste de
Guimarães que teriam um papel fundamental na perseguição às tropas do célebre
maneta, o sanguinário General Loison.
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