Contributo para a compreensão do espírito do lugar



Estando a preparar uma comunicação para um colóquio sobre a implantação da República em Guimarães, deparei-me no jornal O Comércio de Guimarães com um texto de 1911 em que, a propósito das comemorações do VIII centenário do nascimento de D. Afonso Henriques, se dá uma expressiva contribuição para a compreensão do modo generoso como os vimaranenses, esquecendo as suas diferenças, se envolvem nas grandes causas colectivas que dizem respeito à sua cidade. Um texto que pode contribuir para uma reflexão urgente que se impõe no contexto da preparação da Capital Europeia da Cultura. Aqui fica:




O Centenário de D. Afonso Henriques


Consola ver este movimento duma cidade inteira que se prepara para prestar uma homenagem condigna ao seu filho mais ilustre!


Desde a primeira corporação administrativa, que e, como se sabe, a câmara municipal, até ao mais humilde dos cidadãos, ninguém se recusa a colaborar nas festas grandiosas com que vamos solenizar o VIII centenário do nascimento de D. Afonso Henriques.


Nem podia deixar de ser assim.


Os filhos de Guimarães tiveram sempre por timbre honrar as glórias da sua terra.


Podem separar-nos as convicções políticas ou as crenças religiosas; podem isolar-nos as dissensões pessoais; mas, quando se trata do progresso da terra querida em que nascemos, quando se procura glorificar os heróis que dão brilho à nossa história, não há liberais nem reaccionários, não há cristãos nem judeus, não há amigos nem inimigos — há vimaranenses: todos por um e um por todos.


É por isso que as festas em honra de Sarmento revestiram o brilhantismo que as tornou notáveis; é por isso que as festas gualterianas se tornaram famosas a ponto de serem julgadas as primeiras do país; é por isso que o centenário do nascimento de D. Afonso Henriques há-de ser digno do Herói que se comemora e da cidade que o realiza.


Uma terra que assim se manifesta, zelosa das suas glórias, briosa nos seus empreendimentos, fidalga no rigoroso cumprimento do programa das suas festas, há-de progredir e impor-se ao respeito e consideração de todos.


Feliz a terra em que todos os seus filhos colaboram em tudo o que possa engrandecê-la!


X.



(O Comércio de Guimarães, de 28 de Julho de 1911)


As festas em honra de Sarmento que aqui são referidas são as da homenagem  da cidade a Francisco Martins Sarmento realizada em 1900, no ano seguinte à morte do descobridor da Citânia de Briteiros. As comemoração do VIII centenário viriam a constituir também uma notável manifestação cívica.

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