Caixa usada nas festas Nicolinas por Leandro Vale. Foto obtida aqui.
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A antiguidade do Pinheiro
A referência mais antiga, das que até hoje encontrei, ao pinheiro como o mastro onde era erguida a bandeira dos estudantes remete-nos para o ano de 1842 e aparece no diário do cónego Pereira Lopes, de que conhecemos as transcrições anotadas por João Lopes de Faria nas suas Efemérides Vimaranenses. Naquele ano, aconteceu um dos acidentes mortais resultantes da queda do pinheiro de que há notícia. Debaixo do mastro, que estava a ser erguido "conforme o costume", ficaria, sem vida, uma criança de Trás-o-Muro (actual Alameda de S. Dâmaso). Este não seria o único incidente das festas daquele ano, como se percebe pelos apontamentos de Pereira Lopes:
29 de Novembro de 1842: "Pelas 8 horas da noite, indo os Estudantes desta vila a içar a Bandeira na Praça do Toural (era um pinheiro muito grande) conforme o costume, por haverem de principiar no dia seguinte as Novenas de N. Sra. da Conceição, caiu o Pinheiro e matou logo um rapaz, enteado de um pedreiro Gago de Trás-o-Muro, o qual tinha 10 anos, pouco mais, ou menos, e o qual estava vendo levantar a Bandeira. Logo que houve este infeliz acontecimento, retiraram-se todos os Estudantes e mais circunstâncias, levando consigo a dor e a consternação, e cessando desde então todos os sinais de regozijo que costuma haver em tais ocasiões, ficando na Praça só o cadáver da infeliz vítima para ser levantado pela Justiça no dia seguinte". P. L. NB o rapaz era aprendiz de alfaiate, chamava-se António da Silva Guimarães, o seu padrasto era o Leite, pedreiro e gago, e era irmão do José Leite da Cruz, que foi alfaiate no Pita e criado no Lixa da Porta da Vila.
30 de Novembro de 1842: "Depois de ter sido levantado pela justiça o cadáver do infeliz rapaz, que tinha sido vítima na Praça do Toural na noite antecedente, foi conduzido para S. Domingos para aí ser vestido e para ser dado à sepultura na tarde deste mesmo dia como os Estudantes haviam destinado, sendo pelas 3 horas da tarde acompanhado pela Irmandade de S. Nicolau e muitos padres, indo a pegar ao caixão 4 irmãos de S. Nicolau. O seu cadáver foi conduzido para a igreja dos Capuchos aonde foi depositado e sepultado, tendo um responso de música. O acompanhamento foi grande, e o povo que concorreu este acto foi imenso, e ainda seria maior senão fosse a muita chuva. Toda a despesa foi feita à custa dos Estudantes." P. L.
6 de Dezembro de 1842: "Saíram mascarados o Maneta (era Manuel de Matos Costa), da rua de Coiros, e o Abade, filho do Joaquim Peixoto, não sendo considerados já como Estudantes, por cujo motivo, foram uns poucos de Estudantes, dos mais taludos que andavam em uma exibição, em procura deles, e encontrando-se na Praça da Senhora da Oliveira, a querendo-lhe tirar as mascaras, puxou por um punhal o Maneta para eles, de que lhe resultou o darem uma tosa, tirando-lhe a mascara, e sendo informado o administrador do concelho deste acontecimento, mandou prender por duas escoltas de infantaria nº 14 os Máscaras Estudantes, que tinham maltratado o tal Maneta, as quais escoltas tendo chegado a Santa Clara onde estavam os Estudantes, o Povo entrou a dizer = fora a tropa = e vendo os soldados que não tinham partido contra o Povo deixaram fugir os Estudantes. Por causa desta desordem andaram a rondar escoltas do 14, e polícia, e o administrador e todos os seus empregados. À noite saíram os Estudantes com cavalhadas, recitando quadras, sendo este ano o primeiro que saíram com este divertimento" P.L.
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