Crónica do conflito brácaro-vimaranense - 2

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Num primeiro momento, as notícias publicadas a partir de Braga sobre os acontecimentos de 28 de Novembro de 1885 davam mostras de incredulidade e de repulsa, como se pode ver na que se segue, retirada correspondência de Braga do jornal O Parlamento, que então se editava em Aveiro:


Braga, 4 de Dezembro

Conhecem certamente os leitores deste jornal os sucessos ocorridos nesta cidade por ocasião da reunião da Junta Geral do Distrito. São eles de natureza tão grave, que me abstenho de emitir a minha opinião, para que me não acusem de faccioso ou de apreciador apaixonado. É verdade terem sido apupados por uma multidão de indivíduos e às portas do governo civil, quando saíam da reunião em que tinham tomado parte, os procuradores pelo concelho de Guimarães. Que o facto era já sabido na cidade antes ainda da chegada a Braga daqueles cavalheiros, é facto averiguado.

Quem promoveria o conflito? Quem prepararia as arruaças? Não sei, nem devo mesmo sabê-lo, para honra da minha terra e para garantia da minha imparcialidade. Que os sucessos têm um carácter muito grave e um alcance maior do que à primeira vista se julga, é inquestionável. Que as represálias vão custar-nos muitas horas de arrependimento e de vergonha, é fora de toda a dúvida. Quem tomará a responsabilidade do sucedido? O futuro que responda, e eu sou dos que preferem espera, a ver contrariada e desmentida a minha maneira de ver as coisas. No entanto, lamento do fundo do coração estes actos de desvairamento, que dão um triste testemunho do nosso adiantamento moral, e nem por isso abonam a nossa índole pacífica e cordata. Vivemos numa época em que os povos se fazem respeitar pela seriedade do seu procedimento e em que as arruaças preparadas adrede como manifestação de descontentamento não conseguem mais que mostrar em toda a sua nudez os defeitos da nossa organização social e os vícios da nossa educação política. Bem sei que custam a ouvir estas verdades amargas, mas podem crer que não custa menos a senti-las fugir dos bicos da pena, a quem, como eu, tem fatalmente de obedecer aos ditames e aos impulsos da consciência. O fel que elas destilam, passam primeiro os meus lábios, e sou eu o primeiro a sofrer-lhe o amaríssimo sabor.

Deixo, porém, em paz os promotores do escândalo – e nisto não faço referências a ninguém – com as responsabilidade e as glórias que dele provierem, e passo ao meu mister de noticiarista, pedindo um bill de indemnidade por ter exorbitado das minhas atribuições.

[O Parlamento, n.º 3, ano 1, Aveiro, 6 de Dezembro de 1885]


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