O nome do Padrão (05)

 

Serões, Revista Mensal Ilustrada, n.º 63, 1910, p. 215. Por trás da cruz, está visível o altar em estuque da Senhora da Vitória.
Via Nuno Saavedra/Fototeca de Guimarães 

[Continua daqui]

Na viragem do século XIX para o século XX, os estudos históricos em Guimarães tornaram-se especialmente produtivos. Nesses estudos, são inúmeras as referências ao Padrão que se ergue na Praça Maior de Guimarães. Em nenhum há qualquer referência à evocação da Batalha do Salado. Francisco Martins Sarmento chama-lhe, simplesmente, o Padrão. O padre António Caldas, Albano Belino, João de Meira ou o Abade de Tagilde, designam-no pelo nome que passou a ter, depois da Batalha de Aljubarrota, da peregrinação a Guimarães de D. João I e das cerimónias que naquele local celebrariam, todos os anos, em todos os séculos que se seguiram, o sucesso do exército do Mestre de Avis: Padrão de Nossa Senhora da Vitória. Ou, simplesmente, Padrão da Vitória.

Como a seguir de documenta, nenhum destes historiadores vimaranenses associa o cruzeiro da Praça da Oliveira como Padrão do Salado. Ainda faltariam algumas décadas até que fosse desencantada tal designação.

 

Martins Sarmento:

Seja o que for, os procuradores das obras da Colegiada pediam traslados destes milagres, para os “mostrar aos fiéis de Deus cristãos para fazer de suas ajudas para a obra de Santa Maria”, e a caixa de esmolas do Padrão estava tão afreguesada que o Prior propôs aos cónegos a troca dela pelos dízimos da igreja de Azurém, como já dissemos. O Cabido aceitou o contrato; mas, feito ele... os milagres acabaram!

Segundo o Padre Torcato, que fustiga violentamente a cobiça dos Priores, poupando a dos Cónegos, o Padrão do seu tempo só servia para assento de conversações.

Releve-nos o leitor esta digressão pela muita luz que ela dá sobre o assunto.

Sarmento, Francisco Martins Sarmento, “Delenda Cartago”, O Vimaranense, Guimarães, 7 de Fevereiro de 1871.

 

António José Ferreira Caldas:

Quase defronte da porta principal da igreja de Nossa Senhora da Oliveira, e como a terminar o adro da mesma igreja, levanta-se o padrão de Nossa Senhora da Vitória, mandado ali erigir no reinado de D. Afonso IV.

É uma construção modesta, composta de quatro arcos ogivais, formando um quadrado, coberto de abóbada de pedra.

Cada um destes arcos compõe-se de várias colunas delgadas, com seus capitéis de figuras e folhagens, toscamente insculpidas: e servem de encosto aos mesmos arcos quatro grossos pilares de cantaria, que formam os ângulos de suporte à abóbada.

Sobre o vértice de cada um dos arcos, vê-se o escudo das armas reais, segundo as usava D. Afonso IV; e no arco do fundo a principiar na linha dos capitéis, em que se estriba a abóbada, fez-se mais tarde um altar de estuque, envidraçado pela frente, dedicado à imagem de Nossa Senhora da Vitória, que ali se venera, em comemoração da gloriosa batalha de Aljubarrota.

Caldas, António José Ferreira,  Guimarães, Apontamentos para a sua História, Câmara Municipal de Guimarães/Sociedade Martins Sarmento, Guimarães, 1996, pp. 418-419.

Albano Belino:

Na faceta da frente da coluna oitavada do cruzeiro gótico que se levanta sob a abóbada do padrão de Nossa Senhora da Vitória, mandado construir no reinado de D Afonso IV, em frente à porta principal da Colegiada, está embebida uma pequena lâmina de bronze com esta inscrição gravada em caracteres góticos miúdos [segue-se transcrição da inscrição da placa de bronze].

Belino, Albano, Arqueologia Cristã, Empresa da História de Portugal, Lisboa, 1900, p.124

 

João de Meira:

Naquele tempo o largo da Oliveira ainda conservava a sua fisionomia antiga com três renques de casas alpendradas sobre toscas colunas de pedra. O edifício da câmara, a norte, assentava sobre arcos em ogiva, coroado de ameias com a sineira ao meio e o relógio de sol a um canto; ao nascente fazia ressalto a torre quadrangular. Em frente da igreja erguia-se o padrão de Nossa Senhora da Vitória com o velho cruzeiro vindo da Normandia e num polígono de granito florescia a oliveira sagrada, miraculosamente reverdecida, que o brasão da vila representa.

Meira, João de, “Revolução de Setembro”, Independente, Guimarães, 7 de Setembro de 1902

 

Abade de Tagilde:

A festa a que nos referimos ainda hoje se celebra a 14 de Agosto com missa e sermão, celebrada ante o oratório de Nossa Senhora da Vitória, que se levanta sobre os capitéis das duas colunas posteriores, que sustentam a abóbada, que resguarda o formoso cruzeiro gótico. erigido no século XIV em frente da fachada da Colegiada, sendo conhecido com o nome de Padrão de Nossa Senhora da Vitória, embora já existisse quando o oratório foi erecto.

Guimarães (Abade de Tagilde), J. G. de Oliveira, Guimarães e Santa Maria, Tip. A. J. da Silva Teixeira, Herd, Porto, 1904, p. 136

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