No
final de Abril de 1861, começou
a falar-se
em Guimarães da
intenção da Câmara de substituir a máquina do velho relógio
municipal por uma nova e mais moderna,
adicionando-lhe
as meias horas e um mostrador. O
jornal O
Conciliador ao
comentar e aquele projecto do município, na sua edição de 25 de
Abril daquele ano, dá conta da importância do relógio no
quotidiano da cidade:
Era
isto uma necessidade geralmente já reconhecida, e nesta época ainda
o é mais, não só para regular a partida dos correios, mas até da
diligência, porque os relógios destas repartições devem
regular-se pelo do município, assim como a direcção de todos os
negócios de quaisquer repartições públicas, mas, para correr com
verdadeira regularidade, é de absoluta necessidade que o relógio do
município seja capaz e não ande como a cabeça dos políticos.
Em
sessão realizada no dia 29 de Maio daquele ano, a Câmara de
Guimarães procedeu à arrematação da construção e colocação de
um relógio novo para ser colocado na torre da Colegiada, porque o
maquinismo existente estava de tal modo desgastado que já
não tinha conserto. As condições que foram fixadas para a
arrematação da nova máquina dão-nos uma descrição que nos permite ter uma ideia aproximada das
especificações
requeridas, à época, para um relógio de torre:
1.ª
– Fazer-se-á um relógio de torre para ser colocado na dos sinos
da Igreja da Colegiada, de castelo de ferro, com rodas de metal de
bronze ou latão, carretos de aço embuxado de metal amarelo; com
dois martelos, um para as horas, e outro para as meias horas, que
serão dadas em diferente sino, pela câmara para isso destinado;
2.ª
– o dito relógio será de quatro dias de cordas e terá dois
ponteiros também de metal amarelo, um para indicar as horas e outro
os minutos, na frente da torre.
3.ª
– Que o dito relógio seja no seu maquinismo bem construído, e
será feito e colocado por conta do seu arrematante.
A
obra foi adjudicada ao menor lance, proposto por Domingos José
Rodrigues, relojoeiro da freguesia de Palmeira, no concelho de Braga.
Encomendada
a máquina do relógio, havia que providenciar a principal novidade
que iria ser introduzida, o mostrador, e o sino que iria bater as meias-horas.
O fornecimento, o transporte, o abrimento
de letras numerais
e a colocação do mostrador (uma
pedra de mármore branco,
redonda,
com dimensão de um metro)
foram objecto de adjudicação em nova sessão da Câmara, realizada no dia 10
de Novembro. A empreitada foi entregue ao vimaranense Jerónimo José
Leite Mendes, por 34$440 réis. Três dias depois, a Câmara
deliberou que
o sino que dantes servia no Castelo desta Cidade para toque de
recolher fosse colocado
na torre da Igreja da Insigne e Real Colegiada desta cidade, ao pé
do relógio, para servir de dar as meias horas, sendo tanto este como
aquele propriedade do concelho.
Pelos anos adiante, as
queixas contra o mau funcionamento do relógio da Oliveira
continuaram a ser recorrentes. Em 1887, reclamava-se a substituição
do dorminhoco
por
um outro mais moderno, mas páginas de O
Comércio de Guimarães
de 6 de Novembro daquele ano:
O
único batedor que havia em Guimarães, dorme ainda profundamente!
Em
nome dos habitantes da cidade, a quem ele faz imensa falta, pedimos à
exmas Câmara
que se digne mandar despertar o dorminhoco.
Parece-nos
que a exma. Câmara procederia acertadamente se comprasse um relógio
moderno que pudesse ser consertado por qualquer relojoeiro, porque
assim passaremos a maior parte do tempo sem ouvirmos as horas.
Apesar
das sucessivas queixas com
paragens, atrasos e outras
avarias, o relógio municipal lá ia dando conta do recado. Até que
chegou a República que, por um decreto-lei de 26 de Maio de 1911, declarou a extinção da hora local (meridiano de Lisboa),
passando a contagem do tempo em Portugal a regular-se pelos fuso das 00:00 horas (meridiano de
Greenwich). Ao mesmo tempo, as horas entre o meio-dia e a meia-noite passaram oficialmente a dizer-se das 13
às 23. Para se adaptar à inovação das 24 horas, o velho relógio foi sujeito a tratos de polé, às mãos do relojoeiro João Doutrinas. E, como
profetizava um jornal da época:
Para todos era ponto seguro que mais fácil era enlouquecer o mestre que o mestre pôr o relógio a dar as 24 oficiais!
[Continua]
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