Guimarães em gravuras de António-Lino


Vista parcial de Guimarães. Xilogravura de António-Lino, 1948.
[Com Nuno Saavedra]

Tendo sido designado, em 1947, consultor artístico dos CTT, o pintor e ilustrador Jaime Martins Barata deu corpo a um projecto de renovação da arte postal portuguesa que elevaria os selos e os portais ilustrados à condição de obras de arte. Até àquela altura, os postais não primavam nem pela qualidade gráfica, nem pelo esmero artístico. Sob a direcção de Martins Barata, os CTT passaram a trabalhar com artistas conceituados para a concepção dos seus selos e postais. Uma das suas primeiras iniciativas foi a de produzir novas colecções de postais e uma das primeiras colecções foi dedicada a Guimarães. O trabalho foi encomendados a um pintor vimaranense ainda jovem, António-Lino Pedras (1914-1996). São nove xilogravuras (gravuras em madeira), representando interpretações artísticas muito pessoais de monumentos e trechos da cidade de Guimarães.
António-Lino nasceu em Guimarães e estudou desenho e pintura na Escola de Belas-Artes do Porto, sendo discípulo de António Teixeira Lopes, Acácio Lino e Dórdio Gomes. Foi um artista multifacetado e prolífico em diferentes disciplinas das artes plásticas: desenho, pintura, aguarela, gravura, escultura, cerâmica, azulejo, tapeçaria, mosaico, tapeçaria, vitral. Para os CTT, também produziu, em 1955, uma notável série de nove selos com os reis da primeira dinastia.
Conheci-o, de longe, no final da década de 1970, na estação da Avenida de França, no Porto, à espera do comboio que nos havia de trazer para Guimarães. Não era possível deixar de notar a sua figura peculiar: longas barbas, óculos tão grossos como o fundo de uma garrafa, trajo negro. Um dia alguém me disse que aquele era “o Pedras”, e eu fiquei sem saber se era apelido ou alcunha, porque logo me explicou que era o pintor António-Lino, de quem eu já conhecia algumas obras, nomeadamente os mosaicos com as cortes de Guimarães e o fresco com a Batalha de S. Mamede, do Tribunal de Guimarães, e algumas capas memoráveis do Notícias de Guimarães.
De todas as técnicas que utilizou para exprimir a sua arte, aquela que melhor espelha a imagem que eu retive de António-Lino é a gravura sobre madeira. As xilogravuras de António-Lino parecem imagens saídas de um mundo fantasmático, sombrio e nocturno, mesmo quando traçam retratos de paisagens e monumentos destinados a postais turísticos, como é o caso da série com retalhos de Guimarães que aqui se mostra.
Estas gravuras, antes de entrarem em circulação na forma de postais ilustrados, foram publicadas no Panorama – Revista portuguesa de arte e turismo, n.º 36-37, de 1948. Foi lá que o Nuno Saavedra os encontrou. Vão acompanhadas pelas respectivas legendas. Chama-se a atenção, em particular, para a gravura que mostra um aspecto da antiga rua de Trás-os-Oleiros (actual Travessa de Camões, para onde dão as traseiras do edifício da Caixa Geral de Depósitos). Tinha uma casa que a atravessava por cima, ligando os dois lados da rua, à imagem do que ainda hoje podemos ver na rua de Santa Maria ou na Arrochela (também chamada de Viela dos Caquinhos).
Para conhecer melhor António-Lino e a sua obra, recomenda-se uma visita à exposição Mestre António-Lino, que está patente, até 23 de Novembro de 2018, no arquivo Municipal Alfredo Pimenta.
Um original enquadramento do Castelo. Xilogravura de António-Lino, 1948.

O cruzeiro da Cruz de Pedra.  Xilogravura de António-Lino, 1948.

A nobre fachada da antiga Câmara Municipal, um dos belos monumentos arquitectónicos da cidade de Guimarães. Xilogravura de António-Lino, 1948.

A Casa das Rótulas, na rua de Val-de-Donas. Xilogravura de António-Lino, 1948.

O Paço dos Duques de Bragança, Barcelos e Guimarães.  Xilogravura de António-Lino, 1948.

Um curioso aspecto da rua de Trás-dos-Oleiros. Xilogravura de António-Lino, 1948.

A Insigne e real Colegiada de Santa Maria da Oliveira. Xilogravura de António-Lino, 1948.

A igreja de São Miguel do Castelo onde foi baptizado D. Afonso Henriques. Xilogravura de António-Lino, 1948.

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