Nestes
últimos tempos, por mais do que uma vez, me têm chegado sinais de
desagrado por insistir em dizer que é uma praça o espaço de
Guimarães que sempre conheceram por Largo da Oliveira. Permitam que explique a minha insistência, a partir de duas perspectivas: a da forma
e a da História.
Começando
pela forma: o que é uma praça? O que é um largo?
Segundos
os dicionários, como já aqui se escreveu antes, o vocábulo largo,
atribuído a um, sítio específico do território urbano, designa,
por definição um “espaço desimpedido numa povoação, mais amplo
que as ruas que nele desembocam, e menor, geralmente, que uma praça”,
enquanto que uma praça é um “lugar público, grande
largo, geralmente rodeado de edifícios, para embelezamento de uma
cidade, vila, etc., e como meio higiénico para melhor circulação
do ar e plantação de árvores” (definições colhidas no Grande
Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado).
Como
se vê, o que distingue um largo de uma praça é, principalmente, a dimensão: um
largo é uma praça pequena.
Será
a Oliveira uma praça pequena?
A
Oliveira é um dos espaços públicos menos alterados desde que há
memória da configuração do espaço urbano de Guimarães. É
verdade que já foi maior, antes das fachadas dos edifício que a
circundam pelos lados do Poente e do Norte terem dado um passo em frente
e engolido as alpendradas que lá existiam, visíveis no ponteado do
pormenor da planta quinhentista que acompanha este texto (só se
salvaram os alpendres das casas que estão por trás do Padrão, no prolongamento da rua
da Rainha), mas será manifestamente exagerado dizer que essas
pequenas alterações diminuíram assim tanto a praça, reduzindo-a à condição, menos nobre, de largo.
Por
outro lado, para além da dimensão, o conceito de praça também
decorre do uso que é dado ao espaço. A Oliveira corresponde ao que, nas cidades de Espanha, se chama de Plaza Mayor, nas de Itália, de Piazza
Maggiore, para definir o centro cívico, ponto de encontro dos
cidadãos, circundado por edifícios públicos emblemáticos. Não é
por acaso que a esta praça de Guimarães se chamou, durante séculos,
a Praça Maior, nela se reunindo as sedes e os símbolos dos
diferentes poderes, religioso, na Colegiada, político, na Casa da
Câmara, judicial, na Casa das Audiências, contígua à Câmara, e
estavam implantados o pelourinho, a torre dos sinos, o relógio, o
tanque-fontanário.
Início do capítulo 86.ª das Memórias ressuscitadas da antiga Guimarães, do padre Torcato Peixoto de Azevedo (1695). |
Por
outro lado, do ponto de vista da História, nos muitos séculos que
aquela praça já leva, sempre se chamou Praça, embora variassem os
vocábulos que lhe completavam o nome: no princípio, Praça da Vila
de Guimarães ou Praça de Santa Maria, mais tarde, e
consistentemente a partir do século XV, Praça da Senhora da
Oliveira ou Praça da Oliveira. Ou, simplesmente, como vemos na
planta mais antiga da cidade de Guimarães, do início da segunda
metade do século XVI, A Praça. São incontáveis as vezes em
que a encontrámos identificada como a praça de Guimarães.
A
partir de finais do século XIX, deram para lhe chamar Largo da
Oliveira, assim como ao Toural, que também é uma praça, passaram a
chamar Largo do Toural, e até ao Campo da Feira, que é um campo,
passaram a chamar Largo da República do Brasil. E, vai daí, em
Guimarães, onde não havia rua ou travessa, passámos a ter,
somente, largos, inovação toponímica a que que só terá escapado
a Praça de S. Tiago (embora algum dia também a tivessem chamado de
Largo 13 de Fevereiro).
Não
é por lhe chamarem Largo da Oliveira que a Oliveira deixou de ser
uma praça.
E,
como não dá muito jeito chamar-lhe praça do Largo da Oliveira,
continuarei a dizer como sempre disse:
–
Vou à Oliveira.
0 Comentários