O ensino no Convento da Costa



O Convento da Costa tem uma longa tradição ligada ao ensino desde que, em 1537, o rei D. João III para lá transferiu o colégio de estudos que funcionava em Sintra, no Convento de Penha Longa, onde ingressaria um dos seus filhos bastardos, o infante D. Duarte. O Colégio de São Jerónimo da Costa chegou a ser frequentado por mais de uma centena de alunos, que ali estudavam Gramática, Artes e Teologia. A partir de 1541, foi autorizado a atribuir os graus de licenciado, bacharel e doutor em artes, no que se equiparou à Universidade de Coimbra. Perdeu os benefícios régios em 1543, após a morte de D. Duarte, que tinha saído de Guimarães para ocupar, por breve tempo, a cadeira de arcebispo de Braga. Dez anos depois, em 1553, o colégio dos jerónimos da Costa foi transferido para Coimbra.
Com a extinção das ordens religiosas em Portugal, em 1834, o convento da Costa passou para a posse da Fazenda Nacional, tendo sido adquirido em hasta pública pelo fundador da Fábrica de Porcelana da Vista Alegre, José Ferreira Pinto Basto. No final da década de 1880, acolheu o Colégio de S. Dâmaso, que reintroduziu os estudos secundários em Guimarães. Mas esta não seria a última escola a funcionar no velho convento.
Em 1932, a Companhia de Jesus, que tinha sido expulsa de Portugal na sequência da instauração da República, foi autorizada a instalar na Costa uma escola de estudos filosóficos, que se transferiria para Braga em 1934, estando na origem da Faculdade de Filosofia e da Universidade Católica. Nos anos que se seguiram, o Seminário Menor da Companhia de Jesus continuou a funcionar na Costa, para onde os jesuítas transferiram, em 1937, uma escola que funcionava no Convento de Alpendurada. No dia 7 de Julho de 1951, a ala Sul do convento foi destruída por um violento incêndio. A presença da Companhia de Jesus terminaria dois meses depois. No ano seguinte, o Seminário do Verbo Divino começou a funcionar na ala voltada ao Poente do convento, que não havia sido atingida pelo incêndio. Ali ficaria até à sua transferência para as Cancelas da Veiga, no princípio da década de 1960.
Em 1972, o convento da Costa e a sua cerca voltaram à posse do Estado, desta vez por compra.
O Colégio de S. Dâmaso, que acabaria vencido pelos efeitos da reforma da instrução secundária pública, teve um enorme sucesso, que se reflectia na aprovação, sem mácula, dos seus alunos nos exames que realizavam no Liceu de Braga. A ponto de, como contou Albano Belino:
Um ano os Directores até julgaram conveniente inventar as reprovações para que ao público não parecesse inverosímil o quadro sem sombras das numerosíssimas aprovações e distinções.
Em 1899, O Colégio, um quinzenário do Colégio de S. Dâmaso publicou um artigo do padre António Hermano, em que conta um pouco da história do convento da Costa. Este texto seria republicado na edição de Maio do mesmo ano da revista A Voz de Santo António, do Colégio de S. Boaventura, em Braga, como me mostrou o meu amigo Nuno Saavedra.  Aqui fica, com a fotografia que ilustrava a publicação original.


O Convento da Costa (Colégio de S. Dâmaso)
A cerca de dois quilómetros da cidade de Guimarães, meia-encosta do gracioso monte da Penha, estadeia-se na longa linha de sua fachada, o celebrado e antigo convento da Costa, colégio de S. Dâmaso, hoje.
A sua origem remonta ao exórdio da monarquia e deve-se à munificência régia como a de tantos outros, vindos daquela fecunda época de piedade.
Pertenceu aos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, até o ano de 1528 e, de lá, por questões mais curiosas que edificantes, veio às mãos dos frades de S. Jerónimo, que o conservaram e engrandeceram até o ano de 1834.
Teve o convento um período de muito brilho. Foi quando logrou os foros e regalias de Universidade e quando alguns infantes vieram cursar suas aulas. Glórias que passaram e não podem voltar.
Após a data lastimosa de 1834, erma como ficou de seus filhos, a brasonada e velha casa, nascida com o reino, sofreu como quase todas as suas irmãs, as injúrias cruéis da ruína; penou lacrimosa a sua viuvez.
Há nove anos, os actuais possuidores do venerando edifício, generosos e bons, consentiram que alguns padres, unidos na vocação do ensino, fundassem nele um colégio que, em honra do vimaranense que a História mais gloria, se denominou de S. Dâmaso,
Em tão abençoada hora nasceu o novel colégio, que volvidos uns anos breves, a cifra de sua frequência se guindou a 190 alunos internos e, sobretudo na organização, método e eficácia de seu ensino, pôde exceder vitoriosamente os primeiros estabelecimentos congéneres.
As estatísticas relativas a esses memoráveis anos de esforço grande e de êxito sem par, podem jurar a verdade do que levo afirmado.
E, se, devido mormente à última reforma de Instrução Secundária, a frequência teve uma paragem ou um movimento de regressão, nem assim, até hoje, deixou ela de ser auspiciosamente numerosa; de maneira que o colégio está dando uma prova de vigorosa e singular resistência, no momento em que, por toda a parte, as mais das casas similares capitulam, vencidas.
10 – IV – 99.
Padre António Hermano.
O Colégio, n.º 4, 15 de Abtil de 1899

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