A Colegiada e o Padrão numa fotografia anterior a 1904, com perspectiva idêntica à publicada pelo Abade de Tagilde, no seu livro Guimarães e Santa Maria, pág. 55 |
No
livro Guimarães
e Santa Maria,
de 1904, dedicado ao culto de Nossa
Senhora no concelho de Guimarães,
o Abade de Tagilde amplia o que tinha publicado na Revista
de Guimarães sobre
as festas públicas da comemoração da vitória de Aljubarrota, onde
fala, no trecho que a seguir se reproduz, do altar do padrão “conhecido com
o nome de Padrão
de Nossa Senhora da Vitória,
embora
já existisse quando o oratório
foi
erecto”.
Procissões
e solenidades oficiais
Em
Guimarães, como nas outras cidades e vilas
do
reino onde havia câmara, celebravam-se algumas festividades e
procissões solenes por força de ordenações dos nossos monarcas,
das quais nos ocupamos já em artigos publicados na Revista
de Guimarães,
vol.
XX
e XXI. De
entre elas
destacamos para aqui as que foram instituídas em honra e louvor da
Virgem Maria.
*
É
a primeira a Comemoração
da
vitória
de
Aljubarrota,
decretada
para a véspera de Santa Maria de Agosto, dia em que no ano de 1385
os portugueses sob o comando
de
D. João I derrotaram os castelhanos.
Sabido
que o Mestre de
Avis e
os seus companheiros de armas fiaram da protecção da Virgem a
Vitória;
que uns e outros vieram em piedosa romagem a Santa Maria de
Guimarães, a qual muitos deles
viram
com os próprios olhos na ocasião da memorável batalha, como
confessa o arcebispo D. Fernando da Guerra no seu testamento;
conhecidos os valiosos donativos
com que este monarca testemunhou a sua devoção à Senhora da
Oliveira, entre os quais em prata o peso da armadura que trouxe em
Aljubarrota, o laudel ou pelote que vestia sobre ela e o oratório
tomado
a D. João I, de
Castela
; é de conjecturar qual a imponência e esplendor que teria em
Guimarães este acto religioso, que recordava o generosíssimo
reedificador da sua igreja Colegiada.
O
padre Torcato Peixoto de
Azevedo na
sua monografia de Guimarães relembra esse antigo esplendor.*
Embora
durante os sessenta anos do domínio da Espanha esta procissão
deixasse de celebrar-se em muitos municípios, senão em todos, como
no-lo
indica
a Provisão régia de 12 de Junho de 1641, que a restabelece, como
dantes
se
fazia,
em todas
as
vilas**,
em Guimarães tudo nos assegura que nunca fora omitida.
As
medidas opressoras do governo intruso não tiveram .certamente poder
para expungir do coração vimaranense a gratidão devida ao rei que
houve
batalha
real com el-rei
D.
João de Castela nos
campos de Aljubarrota e
foi dela vencedor
e à honra da Vitória
que
lhe deu
Santa
Maria
mandou
fazer
esta obra
(a
igreja da Colegiada).***
Documenta
esta asserção
não só a representação dirigida pela câmara a Filipe I com o fim
de conseguir a revogação de
uma provisão,
que proibia as despesas com sermões em algumas solenidades
camarárias, entre as quais se contava a da véspera
de Nossa Senhora de Agosto,
como
também o célebre sermão pregado
nesta festa
no ano de 1638 pelo Guardião do convento de S.
Francisco,
Frei Luís da Natividade, que com o título de Retrato
de Portugal Castelhano. Declamação eclesiástica...
sobre
o pelote de el-rei
D.
João I de boa memória,
etc.
;
foi impresso em 1645 no volume Divindade
do Filho de Deus humanado,
pág.
431 a 442.
A
festa a que nos referimos ainda hoje se celebra a 14 de Agosto com
missa e sermão, celebrada ante o oratório
de
Nossa Senhora da Vitória,
que
se levanta sobre os capitéis das duas colunas posteriores, que
sustentam a abóbada, que resguarda o formoso cruzeiro gótico,
erigido no século XIV em frente da fachada da Colegiada, sendo
conhecido com o nome de Padrão
de Nossa Senhora da Vitória,
embora
já existisse quando o oratório
foi
erecto.
Vê-se,
em
parte, na gravura correspondente à pág. 55. A obrigação de vestir
e preparar esta imagem para o dia da festa, e bem assim a de a
alumiar todas as noites, compete à fábrica da Colegiada em virtude
de contrato feito com Francisco António
Peixoto
a 9 de Junho de 1817.***
*Mem.
res. da ant. Guimarães,
pág. 304.
**Arq.
da Câm. de Guim., Livro 9.° das Vereações, fl. 255.
***
Inscrição na fachada da Colegiada.
****
Vide Revista
de Guim.,
vol. XXI,
pág.
28.
J.
G. de Oliveira Guimarães, Abade de Tagilde, Guimarães e Santa
Maria, Tip. de A. J.da Silva Teixeira, Herd., Porto, 1904, pp.
134-136
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