Verde desmaiado

Verde contradição.

A notícia chegou, sem causar estranheza. Guimarães não vai ser Capital Verde europeia.
Agora que se conhece o veredicto, ouviremos dizer que o importante não é o resultado alcançado, mas sim o caminho que se andou. Não partilho desse contentamento. Estou entre os que gostariam de perceber porque é que o caminho que se caminhou não conduziu ao resultado que se assumiu como um desígnio.
A notícia de que Guimarães não estava na lista das cidades que podem aspirar a ser Cidade verde Europeia em 2020 chegou, com ironia acidental, no dia em que o calendário das celebrações internacionais assinala os monumentos e sítios arqueológicos. Não há como escapar à comparação entre o processo de reconhecimento de Guimarães como Capital Verde, que agora falhou, e processos anteriores em que Guimarães saiu ganhadora, como o da consagração do seu Centro Histórico como Património Mundial, pela UNESCO.
A candidatura do Centro Histórico foi o corolário lógico de um extenso programa de requalificação, que já tinha décadas de percurso. Primeiro pensou-se a requalificação do Centro Histórico, depois aplicou-se o que foi pensado e só depois se avançou para a candidatura ao reconhecimento, que surgiu como consequência do trabalho feito e não como alavanca para o que faltava fazer. Os trabalhos de requalificação do Centro histórico de Guimarães, desde a sua conceptualização à sua execução, ganharam reconhecimento internacional e cedo se tornaram num caso de estudo e num exemplo a seguir por outras cidades. Mas não foram obra do voluntarismo de um ou dois mandatos autárquicos. Foram o corolário de uma linha de rumo quem já tinha décadas de percurso, que se manteve fiel aos seus princípios, com algum fundamentalismo, inevitável, sábia e pacientemente explicado aos principais interessados, os vimaranenses.
No processo da Cidade Verde o que temos, em larga medida, não são obras realizadas, nem objectivos consumados, mas manifestações de intenção, muitas vezes vagas e, em alguns casos, contraditórias com o objectivo que se pretendia atingir.
Quando se iniciou o processo que agora desmoronou, não faltaram vozes que preveniram que a requalificação ambiental de um concelho com a diversidade e os problemas de Guimarães seria empresa para décadas. Perdida a ilusão, esperemos que não tenha morrido o desígnio de sustentabilidade ambiental de Guimarães. Já é tempo de se voltar a pensar Guimarães a longo prazo e não apenas com a urgência determinada pelos calendários eleitorais.

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