O Cortejo das Oferendas de 1943 (fotografia disponibilizada por José Abílio Coelho) |
Há
tempos, quando falava da índole gregária das gentes de Guimarães, que se manifesta sempre que respondem ao chamamento das grandes causas comuns, e dava exemplos, como
o conflito brácaro-vimaranense de 1885-1886, a reconstrução da praça de touros,
em 1947, ou a Capital Europeia da Cultura, em 2012, um amigo falou-me de um
cortejo organizado no “tempo da fome” da primeira metade da década de 1940, de que guardava memória e que classificou como “muito impressionante”. Anotei a referência que, como tantas outras, ficou guradada na secção das tarefas
agendadas para as calendas gregas. Há dias, o incansável Nuno Saavedra chamou-me
a atenção para uma fotografia (a que vai acima), publicada por José Abílio
Coelho, que mostrava o que parecia ser um cortejo etnográfico a passar no
Toural, em data incerta. Dias depois, pela mesma via, recebi a informação de
que Rita Castro Laranjeiro tinha identificado o acontecimento que a fotografia documentava:
era um cortejo de oferendas realizado em 30 de Outubro de 1943. E juntava mais
duas fotografias, que aqui também se reproduzem e a que agora junto a informação que,
entretanto, recolhi.
Os
jornais da época são muito comedidos na descrição da situação, evitando carregá-la
com cores mais negras, mas na memória de muitos ainda perduram as marcas dos
tempos duros que se viveram em Portugal enquanto a Europa e o Mundo se
destruíam numa guerra que se arrastava sem fim à vista. Estava-se em 1943, e viviam-se os dias
da fome. Havia racionamentos, carestia e mercado negro, que também afectavam cruelmente as instituições que tinham como missão acudir aos mais carenciados. No
dia 30 de Julho daquele ano, na sua coluna do jornal O Comércio de Guimarães, a cronista Maria Eduarda reflecte sobre as
dificuldades por que passavam as Misericórdias portuguesas (“que são, na hora
que passa, o lar do faminto e o refúgio do que cai vencido pela miséria e pela
doença”), e lança um desafio:
“— Porque não organizar, entre nós, o Cortejo
das Oferendas?”
O
apelo não tardou a ser escutado. Logo no número seguinte do jornal, foi
anunciado que estava constituída uma comissão, constituída João do Carmo da
Cruz Magro (arcipreste), José da Costa Santos Vaz Vieira, Aprígio da Cunha
Guimarães, Joaquim Lopes Alves Guimarães e Domingos da Silva Gonçalves- (padre)
que, no dia 5 de Agosto, subscreveram um apelo dirigidos aos párocos de todas
as freguesias de Guimarães, onde se lê:
De facto, que custará a cada freguesia deste importante concelho, contribuir com dois ou três carros de ofertas do seu povo cristão e generoso, dando cada casal a esmola proporcional às suas posses, para que se obtenha um avultado e proveitoso pecúlio, em favor do nosso Hospital Geral e dos outros estabelecimentos de beneficência, que tão grave crise atravessam? E de tudo eles precisam, tudo reconhecidamente agradecem: cereais, legumes, animais, lenhas, mato, colmo, etc.
As
adesões foram chegando. Ao que se percebe, as diferentes freguesias do concelho
entre em despique para ver qual a que mais contribui para encherem as despensas
do hospital e das instituições de assistência social de Guimarães. No final de
Setembro, anunciava-se que já estava marcada a data em que o cortejo se
realizaria, 30 de Outubro, e que metade da receita arrecadada com o produto das
oferendas seria entregue à Santa Casa da Misericórdia de Guimarães. A outra
metade seria repartida em partes iguais, a distribuir por várias instituições assistenciais
(Asilo de Santa Estefânia, Casa dos Pobres, Asilo do Campo da Feira, Oficinas
de S. José e Creche da Ordem Terceira de S. Francisco).
Na
véspera de acontecer, previa-se que o cortejo das oferendas seria composto por quinhentos
carros. O repórter de O Comércio de Guimarães, que assistiu à passagem do
cortejo na tribuna que foi montada junto ao candeeiro monumental (actual largo
25 de Abril no topo do Toural voltado a Sul), quando descia a avenida desde o largo
da estação do caminho-de-ferro, para seguir em direcção ao Hospital da
Misericórdia, no antigo convento dos Capuchos, contou cerca de mil carros, num
desfile que se prolongou por cinco longas horas.
Outro aspecto do Cortejo das Oferendas de 1943, no Toural (fotografia disponibilizada por José Abílio Coelho).
Cortejo das Oferendas de 1943, vista o Largo Prior do Crato (25 de Abril) para a Avenida (fotografia disponibilizada por Rita Castro Laranjeiro). |
Mais um aspecto do Cortejo das Oferendas de 1943, no Toural (fotografia disponibilizada por Rita Castro Laranjeiro).
A seguir, reproduzimos a reportagem que O Comércio de Guimarães publicou no dia 5 de Novembro de 1943.
CERCA
DE MIL CARROS FORMARAM
“O
CORTEJO DAS OFERENDAS’’
que
no sábado passado escreveu uma página vibrante na história da nossa Terra.
Escrevemos
ainda sob a emoção grata da passagem da mais enternecedora Jornada de Caridade
a que temos assistido.
Não
fora a nossa missão, que nos impõe o dever de gravar no papel o que sentimos e
vimos, e preferiríamos esconder no coração o sentimento que nos invade a alma e
fez humedecer os olhos!
Há
espectáculos que passam como uma visão! Vêem-se, mas não se descrevem!
“O
Cortejo das Oferendas” que Guimarães realizou no sábado passado, não pode
jamais repetir-se!
São
actos espontâneos. Lições que a nossa História contemporânea escreve.
É
a alma de um povo que vive para o trabalho e para a espiritualidade.
Esperava-se que Guimarães correspondesse ao apelo feito em prol das suas Casas
de Caridade, mas jamais se supôs que a generosidade se convertesse em actos de
verdadeira filantropia! Guimarães apontou aos outros o caminho a seguir. Ditou
uma lição.
Dissemos
em o n.° passado, que seria de louvar que o Cortejo fosse filmado. Connosco
estão, decerto, os milhares de pessoas que presenciaram o empolgante e jamais
imitado desfile. Foi pena, realmente, não como trofeu de vaidade, mas incentivo
para que fosse imitado.
Lamentamos
que as nossas dimensões não possam comportar uma minuciosa reportagem. É que, a
imprensa regionalista, neste caso, mais que a outra, tem deveres.
Necessita
transmitir aos vindouros a página doirada que o concelho de Guimarães lhes
lega, como salmo bendito de uma geração de resgate.
Para
isso, descreveremos o que presenciamos, muito resumidamente; pinceladas
rápidas, apontamentos ligeiros, que de forma alguma traduzirão a importância
que revestiu o “Cortejo das Oferendas” que Guimarães organizou, viveu e sentiu!
Doze
horas. A Tribuna de honra, erguida junto do Candeeiro monumental, está quase
repleta.
Vimos
ali, além de representantes da Imprensa, os ilustres presidente da Câmara e
Arcipreste local, os representantes das nossas casas de Caridade, 2.°
Comandante dos B. V., as presidentas das Comissões de Senhoras que procederam à
angariação de donativos na Cidade, alguns membros da Comissão organizadora do
Cortejo, pessoas de representação, etc. etc. .
O
povo comprime-se e contorna o largo central, e as ruas por onde tem que passar
o desfile, estão embandeiradas, pendendo das janelas, repletas de senhoras,
lindas colgaduras.
Os
carros cruzam-se em todas as direcções, vão de extremo a extremo da cidade,
organizando o Cortejo e preparando a sua entrada.
Chegam
o ilustre Governador Civil do Distrito e exma. Esposa, que nos deram a honra de
vir presidir à nossa Parada de Caridade e de auxílio ao Próximo.
São
perto de 13 horas. Repicam sinos; estralejam morteiros, e ao cimo da Avenida
Cândido dos Reis, põe-se em marcha o Cortejo.
O
aspecto é surpreendente, de luz e de emoção!
Passa
à frente da Tribuna o 1.° carro, — uma artística camionete, florida e bem
disposta. São as oferendas da Cidade: tecidos, atoalhados e cobertores
fabricados nas nossas fábricas. Milhares de escudos! Estrugem palmas e a emoção
contagia o povo que em ondas se comprime na ânsia de melhor presenciar o
surpreendente e belo espectáculo!
E
o cortejo segue, sem interrupção: uma enorme camionete de rachões, oferecidos
pela firma Xavieres Lda.; mais carros de lenha, individualmente oferecidos
pelos componentes da mesma firma; e a fila avança: carros de lenha e de molhos
de palha. Formosas moçoilas formam filas e conduzem açafates com ovos, frutas e
ovos; mais carros pejados de géneros agrícolas, enfeitados com arte;
sobrepõem-nos gaiolas com coelhos de boa casta; galinhas, muitas galinhas,
dizem-nos que na totalidade, mais de um milhar! Segue um carro de bata-tas,
grandes e lindas; mais carros, com colmo e mato.
Surge
a freguesia de S. Torcato: À frente, conduzindo as ofertas, vem um carro puxado
a duas juntas de bois, seguido de mais de uma dezena de carros de pinheiros,
géneros agrícolas, colmo, etc. etc.
De
quando em quanto os carros são palmeados. É agora a casa da Cantonha que
oferece vinho; telhando o lindo carro, uma viçosa parreira traz pendentes
doirados e apetitosos cachos de uvas, que assentam em vigas de ferro.
Ao
microfone, o rev. Domingos Gonçalves, o grande impulsionador desta grandiosa
Jornada, pede silêncio e fala ao povo.
Emudece
a voz para que vibre o coração. Há sentimento, ternura e gratidão. Mas o tempo
avança; poem-se os carros novamente em marcha.
O
cortejo já passa há mais de duas horas, e chegam notícias de que às portas das
barreiras estão extensíssimas filas de carros. Determina-se que estes avancem
em duas filas. Lindo e surpreendente! A Cidade e o concelho estendem os seus
braços e oferecem os cheios de ofertas! Mais vinho e um cesto de linho. Muitos
carros com dísticos; Um: — “Quem dá aos pobres, empresta a Deus!” — Mais carros,
— oferta das Quintas de Fermentões. Um, traz no tejadilho gaiolas de pombas e
coelhos, — oferta das Senhoras de Fermentões. A freguesia fez-se representar
galhardamente. Deu tudo quanto pôde. Um dos carros traz pendente um martelo de
ferro, novo. A chiadeira dos carros é infernal. O bronze dos sinos leva ao
largo e ao longe a grande nova da carreada das Ofertas.
A
freguesia de S. João da Ponte abre com um carro de cereais, seguido de 27, que
conduzem lenha, feijões, aves, legumes, etc, etc. A Companhia de Fiação de
Campelos mandou-nos, além de outras ofertas, um carro de batatas, cebolas e
aves.
Segue
mais um carro com o dístico: — S. João de Ponte: Presente!
É
agora Urgezes que passa em frente da Tribuna. Abre a sua representação um carro
triunfal sobrepujado por uma linda figura que representa a Rainha Santa Izabel.
Traz um letreiro que diz: levo rosas!,
e à passagem pela Tribuna, abre o regaço e lindas pétalas de rosas juncam o solo!
Ouvem-se palmas. No carro, de guarda de honra à figura, um rapaz da M. P.,
fazendo a saudação. Rodeando-os, açafates de boroas de pão, cobertas de rosas.
Um encanto!
Seguiam
o carro um grupo de rapazes da M. P., em saudação às entidades oficiais. E o
cortejo marcha. Vêm mais carros, quase todos com dísticos. Um: porque
egoístas sois, se Cristo dividiu? É ainda Urgezes que passa em
nossa frente. Outro dístico: Ninguém
empobrece por dar esmolas! — Vem agora Aldão, fidalga, com lindos carros
enfeitados a primor. Alguns carros vêm seguidos de perto pelos párocos das
freguesias, sem dúvida a quem Guimarães fica a dever a grandiosidade do Cortejo
que tanto veio beneficiar as nossas casas de beneficência. É linda Aldão que
passa. Nos fueiros de um carro de colmo, um montão de notas de 20.00 e 50.00.
Passa
agora S. Salvador de Briteiros. Um carro representa um andor, que traz por
peanha, valiosas ofertas.
Vem
S. Romão, fila extensa de carros, que conduzem ofertas. Um deles, com cereais,
foi oferecido pela Escola Primária. Os pobres de S. Romão, não tendo valores
para dar, mandaram nos um carro de chamiça! A grande alma do povo a
manifestar-se!
Lá
vem Creixomil. Abre-a um carro triunfal representando um barco, seguido de um
carrinho conduzido por crianças e tapetado de notas de 20$00. Seguem-se mais
ofertas. Um carro oferecido pelas JOC. A freguesia representou-se
galhardamente. A polícia, a custo mantém a ordem do povo que se agita e
comprime em todo o percurso. É ainda S. Miguel que passa. Vão açafates de maçãs,
carros com molhos de lenha, outros com ofertas várias, onde sobressaem enormes
abóboras; um carro de colmo com uma interessante cercadura de cântaros e
panelas de barro, de todos os tamanhos e feitios; muitos dos carros trazem
dísticos expressivos. Segue meio carro de pão, enfeitado com espigas. É agora
Silvares que avança. Precede as ofertas, empilhadas em 23 carros, um lindo
touro, avaliado em 900 escudos. Silvares brilha a grande altura, sendo de justiça
salientar o esforço despendido pelo seu incansável pároco, eficazmente
auxiliado pelo seu dedicado rebanho. É ainda Silvares que está presente. A casa
Sendelo ofereceu 400.00 em dinheiro; a Casa Ardão, 300.00; a mesma freguesia teve
casas que ofereceram 1.000.00, outras, cereais em abundância, lenha, tudo que
pôde. O cortejo passa em nossa frente em filas cerradas, na melhor ordem.
A
chieira dos carros quase nos ensurdece! É contínua e persistente! Horas
seguidas, e o manancial a gotejar pão, conforto e agasalho para os pobres!
Lá
vem Infantas, que traz como troféu de glória um carro com lindas raparigas com
trajes regionais; trazem oferendas em cestos novos. À passagem da Tribuna,
saúdam, acenando com lenços brancos. Avança um enorme eucalipto, ligeiramente
erguido. No dorso, a giz branco, as letras: D. C. T. Lá vem Nespereira; abre as ofertas um carro todo enfeitado
com tecidos, montões de tecidos: — agasalho e limpeza para os pobres; segue-o
um numeroso grupo de raparigas conduzindo aves. O carro e o grupo são muito
palmeados. Seguem mais carros, todos com tecidos, enfeitados com vistosas
colchas. Um dos carros trazia no tejadilho uma linda gaiola, com um nédio
cabrito. Um carro trazia, de um lado, uma janela, com cortinas brancas e um
craveiro na frente. E o cortejo passa, num ritmo acelerado. Seguem mais freguesias.
Infias, Riba de Ave e tantas outras de que não podemos tomar nota.
Lá
vem um touro, numa linda gaiola! Surge Moreira de Cónegos. Um carro triunfal,
artisticamente enfeitado com cebolas, seguido de um enorme rancho de raparigas
entoando canções regionais; são muito palmeadas. Sobre um carro, carregado de
ofertas, vem uma ninhada de lindos bacorinhos! Mais uma pipa de vinho; um carro
com tecidos, mato, e um friso de rapazes e raparigas vestidos à minhota. De
quando em quando estrugem salvas de palmas.
Aparece
Ronfe, uma das freguesias que melhor se fez representar.
Carros,
muitos carros. Nossa vista cansada, não os numera. Trazem dísticos
interessantes. Grupos de raparigas lindas, como linda é a nossa camponesa! Duas
lindas vacas, carros, mais carros cheios de ofertas. Ronfe, Ronfe, passa e
repassa em frente da Tribuna. A Casa da Mogada de Ronfe faz-se representar por
um carro puxado por três cavalos, que trazia uma pipa de vinho, tecidos e artigos
vários, com um dístico que dizia serem destinados à Ordem de S. Francisco.
Segue uma toura, linda, um carneiro, etc. etc.
O
microfone anuncia a aproximação da freguesia de Lordelo. Entretanto, passam
mais freguesias: S. Salvador de Pinheiro, traz um carro formando uma gaiola
cheia de aves, com marrecos, perus, etc., embalados peta dístico — Nós, alegres e contentes, daremos a nossa
vida pelos doentes. Outro carro com aves. Mais de uma centena! Segue,
Pinheiro, Abação e tantas outras...
Surge
Lordelo, ansiosamente esperada. À frente, um gracioso grupo de 16 senhoras,
vestidas a primor, à moda de Guimarães (antiga) que em estrado junto da Tribuna
de Honra desempenharam, em entreacto, o Auto
das Oferendas expressamente escrito para este fim, pelo mavioso poeta o
snr. J. M. Pinto de Almeida. Pena temos de o não podermos publicar. Tem
sentimento, tem alma e vibração; tem ternura e enlevo, frisando a nota
patriótica e bairrista.
………………………………………………………………………….
...Vamos
chegando ao Toural
ao centro
desta cidade.,
— No
Berço de Portugal
embala-se
a Caridade!
………………………………………………………………………….
Ó Senhora
da Oliveira
Lordelo
se recomenda.
Eu sou a
vossa caseira,
venho
pagar-vos a renda.
E perdoe
a Senhoria
não
trazer mais, que não posso;
com o
calor que fazia,
nem
chegou para o pão nosso.
………………………………………………………………………….
Enquanto
houver no moinho
grão a
cair da tremonha
a Terra
Santa do Minho
é uma
cantiga risonha...
………………………………………………………………………….
Mas...
o espaço foge! Que nos perdoe o autor do lindíssimo trabalho com que se dignou
enriquecer a nossa festa. Os ligeiros retalhos que acima se lêem, dizem-nos de
sentimento e inspiração do poeta, que foi calorosamente felicitado e abraçado.
As
gentis senhoras, que se houveram magistralmente, no fim da representação,
ofereceram as suas dádivas às entidades oficiais e a algumas senhoras. A
primeira, um lindo e manso cordeiro, foi oferecido ao ilustre Arcipreste, que
comovido, agradeceu.
A
exma. snra. D. Rosa Aldão, em nome da Comissão de Senhoras que procederam ao
peditório na Cidade, ofereceu à presidenta do grupo coral, um lindo ramo de
cravos e avenca.
E
o cortejo segue. Lordelo, é ainda Lordelo que passa com carros artísticos e
oferendas preciosas. 40 carros, com tudo que pode ser útil a quem precisa 1
Segue
um carro oferecido pelas classes trabalhadoras: duas lindas touras, uma
movimentada tocata regional, carros com ofertas, tecidos, aves, dúzias de
coelhos, mais uma ninhada de bacorinhos, uma torre formada com cebolas, — arte
e bom gosto, mais uma pipa de vinho, abóboras, um carro com ofertas adornado
com chouriços de carne de porco; um carneiro, cestos de nozes, azeitonas, figos
e lenha; é ainda Lordelo progressivo que passa. Brioso povo! Guimarães te
agradece!
Párocos
diversos atravessam o cortejo, estão presentes. Vem agora Azurém, vizinha e
risonha, traz muitos carros e todos com dísticos.
É
agora Gonça que encanta nossos olhos, seguida de S. Faustino de Vizela que nos
enviou 7 carros, recheados de ofertas. A freguesia de Castelões, muito
distante, substituiu os carros por um dístico que atravessa o Cortejo e diz; — A freguesia de Castelões oferece mil
escudos — Segue S. Paio de Vizela, com seis carros, oferecidos pelo seu
povo e artistas. Lá vem S. Tiago de Candoso, Arosa com 9 carros, lindos e
sugestivos; lenha, madeira, mato etc. É agora Donim, Sande, S. Martinho, que se
fez representar por 16 carros; Atães, Sande, S. Clemente, com 20 carros;
entrecorta o cortejo um carro de mão com sacos de carvão. Segue Brito.
Principia
a chover, mas o entusiasmo não esfria e o cortejo
Surge
agora o Pevidém, precedido de uma banda de música. Abre a sua representação um
artístico Castelo formado de algodão, vendo-se, na sua base, espalhadas, notas
de 20$00. Segue um carro com tecidos; mais carros com aves, hortaliça, mais uma
ninhada de bacorinhos, etc. Quase todos os carros, e eram em grande número,
traziam di: ticos. Um: Senhor, protegei
as nossas fábricas!
Não
pudemos tomar nota do carros que representavam esta freguesia.
Seguem-se
ainda outras: — Polvoreira, 20 carros; S. Faustino de Vizela, 7; Gémeos, 6; S
Clemente de Sande, 20; S. Lourenço de Sande, 7, e 500$00; Balazar, 9.
O
que fica impresso, são, como dissemos, rápidas pinceladas escritas sobre o
parapeito da Tribuna de honra, entre o constante chiar dos carros e o vozeirar
de milhares de pessoas.
O
cortejo levou cinco longa horas a passar. Não era possível pois, fazer uma
descrição completa.
Há
freguesias que não pudemos anotar, e outras de que pouco dizemos.
Não
há, nem pode haver, desconsideração para ninguém.
São
lacunas que não podemos evitar. Guimarães, de lado a lado cumpriu, esteve
presente!
Não
houve defecções. Todas as nossas
freguesias teceram um formoso ramalhete, e o ofereceram à Terra-Mãe.
Guimarães
está-lhes grato, e o seu coração lhe grita um: Muito obrigado. Sua alma, ajoelhada, as Bendiz!
—
Houve um cavalheiro que adquiriu um “Auto das Oferendas”, por 100$00.
Reconhecidos
agradecemos ao seu autor, o snr. J. M. Pinto de Almeida, a gentil oferta do seu
mimoso trabalho, bem como a expressiva dedicatória que o acompanha.
Na
próxima 3.ª feira está marcada uma reunião das Senhoras que procederam ao
peditório na Cidade, e dos representantes de todas as Casas beneficiadas, para
se dar conhecimento do montante das ofertas e do destino exacto que lhes foi
dado, moroso e delicado trabalho a que a Comissão executiva vem procedendo.
Como
a aglomeração de gado era muita e podia haver qualquer desastre, a Mesa da
Santa Casa da Misericórdia estabeleceu naquela Casa hospitalar um serviço
médico permanente, constituído pelos médicos: Hedwiges Machado, João de
Almeida. Augusto Cunha, e João Afonso de Almeida.
Felizmente,
nada de anormal aconteceu.
O Comércio de Guimarães, 5 de
Novembro de 1943
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