A padroeira de Infias é Nossa
Senhora da Expectação. No entanto, na sua igreja, a maior devoção, como se lê
na Memória Paroquial de 1758 vai para
uma imagem de Cristo Crucificado, que é milagrosíssima, com a invocação do Senhor das Chagas, que faz muitos milagres, tanto nas esterilidades dos tempos, nos quais levam o Senhor à vila de Guimarães e o põem no convento de São José das religiosas do Carmo Calçadas ou em outra qualquer igreja da dita vila, e nunca se recolhe a esta igreja sem que primeiro cumpra com a petição e súplica que lhe fazem os fiéis. Além destes milagres, faz outros muito contínuos, de cujos se vêem os retratos pendurados ao redor do altar e arco do mesmo. A água que se toca em seus santíssimos pés é milagrosíssima para febres e sezões.
A imagem do Senhor das Chagas era
levada pelo povo de Infias em romaria à Senhora do Monte (Serzedelo), no dia 24
de Junho. Esta romaria era exclusiva dos de Infias. No entanto, em 1883, os
moradores de Serzedelo decidiram também ir à capela do cimo do monte. Segundo João Lopes de Faria, formaram uma
procissão com seis andores, que rivalizava com a dos de Infias, que tinha cinco
andores, “qual deles o mais aparatoso e elegante, duas bandas de música e
grande concorrência de povo”. Era evidente a rivalidade entre ambas as
freguesias, mas tudo correu “na melhor ordem”, até à hora das procissões
regressarem às respectivas igrejas: “um indivíduo teimou por força pegar a um
dos andores, originou-se e houve pancadaria basta, obstando à continuação dela
um destacamento de infantaria que ali estava; as procissões regressaram em
desordem e o arraial debandou”.
Infias é uma das freguesias que em
1998 foram desanexadas de Guimarães para a formação do concelho de Vizela.
Infias
Resposta dos interrogatórios que remete o Reitor de Santa Maria de
Infias das coisas a eles pertencentes que se acham nesta sua freguesia.
Está situada a igreja de Santa Maria de Infias na província de
Entre-Douro-e-Minho, no Arcebispado Primaz de Braga, meia légua distante da
vila de Guimarães, e é termo da dita vila, comarca da cidade de Braga.
É esta igreja apresentação da reverenda madre abadessa e mais
religiosas do convento dos Remédios, da mesma cidade de Braga.
Tem esta igreja cento e oito fogos, duzentas e noventa pessoas de
sacramento e menores serão oitenta.
Está a igreja situada ao pé de um vale que lhe fica da parte do
Nascente e do Sul, continua o dito vale para a freguesia de São Miguel das
Caldas e, de Poente e Norte, vizinha com um pequeno monte a quem chamam Lijó,
cujo não excede um quarto de légua, tanto no comprimento como na largura. E do
alto deste monte se descobre parte da vila de Guimarães. Está esta igreja
colocada no meio da freguesia
Tem esta freguesia cinquenta e seis lugares, cujos nomes principiam
a declarar-se: o Pombal de cima, Pombal de Baixo, Souto de Atim, Atim de cima,
Atim de Baixo, Veledos, Portelas, Passos de cima, Passos de Baixo, Pena, Laje
de Cães, Cães, Quintãs de cima, Quintãs de Baixo, Cruz, Bacelo, Bouça, Outeiro,
Soutinhos, Caniço, Lavandeiras, Penedo, Fojo, Carvalho, Preguiça, Pisão,
Munhos, Bouças, Pombal das Bouças, Carvalhal, Casa Nova, Sequa, Pé de Monte,
Redonde, Figueiras, Fonte do Paio, Lameiro, Outeirinho, Galhufe, Souto de
Galhufe, Borreiros, Carreira de Cima, Carreira de Baixo, Souto da Carreira,
Senra, Termo, Bairro, Barrelha de Cima, Barrelha de Baixo, Pias, Boavista,
Devesa, Fonte do Souto, Assento, Igreja.
O orago desta igreja é Nossa Senhora da Expectação. Tem uma só
nave, tem três altares. O altar-mor, em que esta colocado o Santíssimo
Sacramento. E tem irmandade do mesmo Santíssimo. Tem mais, no dito, Nossa
Senhora Padroeira e o Menino Deus e São Sebastião.
Tem dois altares colaterais.
No da parte da Epístola, está o altar de Nossa Senhora do Rosário
e tem confraria da mesma Senhora, e é altar privilegiado perpétuo.
No da parte do Evangelho, está uma imagem de Cristo Crucificado,
que é milagrosíssima, com a invocação do Senhor das Chagas, que faz muitos
milagres, tanto nas esterilidades dos tempos, nos quais levam o Senhor à vila
de Guimarães e o põem no convento de São José das religiosas do Carmo Calçadas
ou em outra qualquer igreja da dita vila, e nunca se recolhe a esta igreja sem
que primeiro cumpra com a petição e súplica que lhe fazem os fiéis. Além destes
milagres, faz outros muito contínuos, de cujos se vêem os retratos pendurados
ao redor do altar e arco do mesmo. A água que se toca em seus santíssimos pés é
milagrosíssima para febres e sezões.
Tem sua irmandade, para a qual tem todos os paramentos necessários
para as funções, funerais de seus irmãos, e tem indulto da Santa Sé Apostólica
para que as missas que se disserem da irmandade em qualquer dos altares desta
igreja são privilegiadas. E vem por tradição antiga de uns a outros que esta
sagrada imagem se achara nas praias do mar e que um filho desta freguesia a
achara e trouxera para ela. Tem no mesmo altar Nossa Senhora da Purificação.
Vem a ter esta igreja duas irmandades, como referido fica, uma do
Santíssimo Sacramento e outra das Sagradas Chagas de Cristo Crucificado, e a
confraria de Nossa Senhora do Rosário.
O pároco desta igreja tem título de reitor e tem cem mil réis de
renda. E as religiosas trazem arrendada a renda deste benefício, em trezentos
mil réis livres, para elas.
Tem uma capela de São João Baptista, com obrigação de cento e duas
missas, na Quinta da Carreira, que é morgado, que deixaram seu instituidor João
Veloso e sua mulher Catarina Gonçalves, que foram da freguesia de São João das
Caldas, e hoje é de Cosme Leite Peixoto, seu descendente.
Os frutos que dá com abundância esta freguesia são milhão, milho
branco e feijão e centeio, trigo, pouco, vinho verde dá bastante.
Desta freguesia à cidade de Braga, capital, são três léguas e meia
e, à de Lisboa, capital do Reino, são sessenta léguas.
Não padeceu no ano de mil e setecentos e cinquenta e cinco esta
freguesia no terramoto dano algum.
E não tenho mais que responder aos interrogatórios. E, por assim
ser verdade, me assinei com os dois reverendos párocos meus vizinhos.
Santa Maria de Infias, 20 de Maio de 1758.
O reitor Dom João de Bento e Abreu.
O vigário de Nespereira, Domingos Antunes.
O vigário de S. Martinho do Conde, Domingos de Sá e Cunha.
“Infias”,
Dicionário Geográfico de Portugal
(Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, vol. 13, n.º 18, p.
161 a 164.
[A seguir: São Miguel das
Caldas de Vizela]
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