Segundo
o Padre Carvalho da Costa (Corografia
Portuguesa,
2.ª ed., pág. 96) Santa Maria de Vila Nova das Infantas tomou o seu nome
“de ali se criarem as irmãs de El-Rei Dom Afonso Henriques, quando
tinham sua corte em Guimarães”. Na
Memória Paroquial que escreveu em 1758, o pároco de Vila Nova
veicula esta hipótese, quando escreve:
E, segundo diz a fama, foi esta freguesia de umas Senhoras Infantas que dizem foram irmãs do Senhor Dom Afonso Henriques, el-rei que foi em Portugal, cujos nomes riscou da memória o tempo e incúria dos antepassados em não conservarem seus títulos. E dizem que estas senhoras deixaram esta freguesia ao real convento de Santo Tirso. E, onde dizem que viveram, se chama hoje o lugar do Paço e Forte, onde ainda se admiram alcatruzes por onde uma água ia para um chafariz que ainda existe e, juntamente, labirintos de murta e viveiro de peixes, com boas casas que ainda mostram antiguidade. Em alguns papéis antigos que tratam deste lugar se lê: Quintã do Paço das Infantas. E destas infantas é que esta freguesia mereceu o nome: Santa Maria de Vila Nova das Infantas. E, atendendo a algumas conjecturas, faz-se verosímil pois, fundando-se uma casa para despensa das coisas da igreja, apareceram quatro carneiros de pedra fina e bem lavrada no cemitério desta igreja, este ano, e, como nos montes circunvizinhos não há pedra fina e só a há num que dista daqui duas léguas, e como não há memória de quem fossem, mostra-se que além de serem antiquíssimos os ditos carneiros, quem os mandou fazer era gente digna de memória, et judicio meo, as mesmas Senhoras Infantas.
Há
notícia de uma doação que o rei D. Sancho I terá feito a dois
infantes, os bastardos que
teve de Maria Aires,
Martinho Sanches e Urraca Sanches, das
herdades de Vila Nova dos Infantes e Golães. Será que daí que lhe
vem o nome?
Vila
Nova das Infantas
Satisfazendo
a uma ordem deambulatória que recebi do Muito Reverendo Senhor
Doutor Provisor deste Arcebispado, com uns interrogatórios inclusos
para dar a execução ao que delas ordena Sua Majestade Fidelíssima,
o que posso dizer é o seguinte.
Chama-se
a esta freguesia Vila Nova dos Infantes [sic].
É do termo da vila de Guimarães, comarca e Arcebispado de Braga
Primaz das Espanhas. Têm domínio directo nela os religiosos do real
mosteiro de Santo Tirso de Riba do Ave, Bispado do Porto. Utilizam-se
dela por prazos os lavradores da mesma. É mediana, tem trezentas
pessoas de maior e, menores, vinte. Avizinha, pela parte do Norte,
com a freguesia de Santo Romão de Mesão Frio e, pela do Sul, com a
de Santo Martinho de Fareja e, pela do Nascente, com a de Cepães e
Santa Cristina de Arões e, pela do Poente, com a de Santa Maria de
Matamá. É da Província de Entre-Douro-e-Minho.
Está
situada esta freguesia numa ribeira, onde seu princípio tem a do
Vizela. É aclive para as partes do Poente e Nascente. Daqui tem sua
situação na raiz do monte de Santo Silvestre e, para o Norte,
atinge as fraldas do monte de Santo Antonino. Descobrem-se dela
algumas freguesias circunvizinhas e muitos montes circunvizinhos e
outros muito distantes, até ao Marão, que dista daqui sete léguas,
parum
minusve(*),
e
também até à serra da Lameira, que dista daqui duas léguas.
Compõe-se esta freguesia de vinte e dois lugares, scilicet,
Burgueiros, Sebelo, São Paio, Feruz, Castanheira, Outeiro, Carreiro,
Casal, Forte, Paço, Serviçaria, Retorta, Pupa, Fojo, Fervença,
Barreiro, Corujeiras, Fonte, Outeirinho, Souto, Ribeiro, Assento,
todos vizinhos uns com os outros.
Está a
igreja quase no centro da freguesia situada, num altozinho de onde se
descobre quase toda. O orago da mesma é a Senhora de Assunção. A
igreja é mediana, feita de pedra grossa. Tem três altares, um
principal e dois colaterais. Naquele está colocado o Santíssimo
Sacramento e, da parte direita, está a Senhora de Assunção e, da
esquerda, a Senhora Santa Ana e, no meio, o Menino Deus e pastor. No
da parte do Evangelho, está a Senhora do Rosário e, no da Epístola,
uma imagem do Senhor Crucificado, com o título do Senhor dos Aflitos
e, juntamente, Santo Sebastião e Santo Caetano. Não tem naves. Há
duas confrarias, uma do Rosário, outra do Santíssimo Sacramento per
modum
viatici.
O
pároco é vigário ad
nutum,
removível, apresentado pelos religiosos de Santo Tirso, com
consentimento do ordinário. Tem para sua côngrua o pé de altar e
vinte mil réis, que lhe dá o mosteiro de Santo Tirso, e duas libras
de cera, dois alqueires de trigo com dois almudes de vinho pro
labore. E,
para o mesmo mosteiro, rendem os dízimos trezentos e sessenta mil
réis. Aqui não há beneficiados, alguns clérigos sim. Também não
há ermidas, nem capelas, excepto uma particular na Quinta de
Corujeiras, de quem é senhor Dom António de Noronha Mesquita e
Melo, fidalgo da Casa Real. Nesta capela está o Senhor com a Cruz às
costas. Aqui costuma ir a freguesia em procissão todos os anos, em
vinte de Janeiro.
Os frutos
desta terra são milhão, vinho, painço, azeite, trigo, centeio,
milho alvo e feijão. Do que há abundância é de vinho verde e
milhão.
Está
sujeita às justiças da vila de Guimarães, de onde dista quase uma
légua. É do Arcebispado de Braga, de onde dista quase quatro
léguas, cidade capital deste Arcebispado.
Não
consta florescessem aqui letras ou armas. Isto atendendo à
antiguidade porque, de presente, algumas letras florescem. E, segundo
diz a fama, foi esta freguesia de umas Senhoras Infantas que dizem
foram irmãs do Senhor Dom Afonso Henriques, el-rei que foi em
Portugal, cujos nomes riscou da memória o tempo e incúria dos
antepassados em não conservarem seus títulos. E dizem que estas
senhoras deixaram esta freguesia ao real convento de Santo Tirso. E,
onde dizem que viveram, se chama hoje o lugar do Paço e Forte, onde
ainda se admiram alcatruzes por onde uma água ia para um chafariz
que ainda existe e, juntamente, labirintos de murta e viveiro de
peixes, com boas casas que ainda mostram antiguidade. Em alguns
papéis antigos que tratam deste lugar se lê: Quintã do Paço das
Infantas. E destas infantas é que esta freguesia mereceu o nome:
Santa Maria de Vila Nova das Infantas. E, atendendo a algumas
conjecturas, faz-se verosímil pois, fundando-se uma casa para
despensa das coisas da igreja, apareceram quatro carneiros de pedra
fina e bem lavrada no cemitério desta igreja, este ano, e, como nos
montes circunvizinhos não há pedra fina e só a há num que dista
daqui duas léguas, e como não há memória de quem fossem,
mostra-se que além de serem antiquíssimos os ditos carneiros, quem
os mandou fazer era gente digna de memória, et
judicio meo,
as mesmas Senhoras Infantas.
Aqui não
há feira alguma, há sim em dia de Ascensão concurso de gente, pois
acodem aqui algumas freguesias circunvizinhas neste dia a fazerem
nesta igreja seus clamores. Não se vende coisa alguma, excepto,
algumas vezes, pão cozido.
Também
não há aqui correio, porém servem-se do da vila de Guimarães, que
dista daqui quase uma légua, como acima se disse. Dista esta
freguesia da célebre e insigne cidade de Lisboa, capital deste
Reino, sessenta léguas, parum
minusve.
Aqui também não há fontes, nem lagoas de especial qualidade. Há
sim, na freguesia das Caldas, distante desta légua e meia, parum
minus,
uma fonte ou lagoa onde, em dia de São João, concorre gente de
várias partes e, lavando-se nesta água, dizem que produz vários e
prodigiosos efeitos, e dizem ser água cálida por natureza, como
dizem os que experimentam a sua virtude.
Esta
freguesia tem três privilégios de Nossa Senhora da Oliveira, um da
Santíssima Trindade, outro de Santo António de Lisboa, outro dos
Cativos e outro da Bula.
Como esta
freguesia está, para a parte do Poente, nas raízes da serra de
Santa Catarina, dela se utilizam os lavradores, colhendo matos de que
tem alguma abundância. Acha-se este monte demarcado, onde cada
lavrador tem sua sorte ou sortes. Corre do Sul para o Norte, e tem
seu princípio nas Vendas da Serra, freguesia de São Lourenço de
Calvos, e fenece ao cerco do convento da Costa. Tem, de comprido, uma
légua quase e, de latitude, tem, em partes, um quarto de légua.
Traz caça de coelho, lebre e perdiz, ainda que pouca. Nesta serra
está situado o convento da Costa e no cume da dita serra está uma
capela de Nossa Senhora da Penha. E, correndo para a parte do Sul,
dista pouco desta outra capela de Santa Catarina. E, para a parte do
Nascente, fica outra de Santo Tomé, na freguesia de Matamá, e,
continuando o curso para a parte do Sul, está outra de Nossa Senhora
da Lapinha. E, daqui procedendo para o Poente, está outra de Santo
José, junto à estrada que vai das Vendas da Serra para Guimarães.
É a
serra, em partes, cultivada e dela manam algumas águas. É de
temperamento áspero e frio. Tem penedos não pequenos e de pedra
grossa. É serra alta.
Nas
fraldas deste monte, para a parte do Nascente, na freguesia de
Fareja, tem ubicação um convento do Senhor do Bonfim, casa da
Missão. É feito de pedra grossa e bem lavrada. Tem a igreja três
altares bem ornados, com as imagens do Senhor do Bonfim, São Vicente
de Paulo e outras. Tem a igreja uma torre com quatro sinos e seu
relógio. E, logo para a parte do Norte, pouco distam as casas de Dom
António de Noronha Mesquita e Melo, fidalgo da Casa Real. São casas
bem situadas, aprazíveis e vistosas. Estão ubicadas nesta freguesia
de Santa Maria de Vila Nova das Infantas. E, procedendo para a parte
do Norte, oferecem-se ao encontro as casas de Constantino da Cunha,
fidalgo bracarense, nas fraldas do dito monte. Outros lhe chamam da
Lapinha, por mediar um breve vale, na freguesia de Matamá.
Para a
parte do Nascente está o monte de São Silvestre, a quem atinge
parte desta freguesia. É fértil de pedra grossa, tem mato de que se
utilizam os lavradores, em cujo ápice está uma capela de São
Silvestre. E, para a parte do Norte, na sumidade do mesmo monte, está
outra capela de Santo Antonino. Tem princípio este monte na
freguesia de São Romão de Mesão Frio e finaliza na freguesia de
São Martinho de Fareja. Tem de longitude meia légua e de latitude
um quarto de légua. Ornado de frondosas árvores, em partes de suas
fraldas admite cultura e dele descem algumas águas. É de
temperamento frio. Traz caça de perdiz, coelho e lebre, ainda que
pouca.
Pelo meio
desta freguesia desce um regato, por nome o rio da Cabra, leva pouca
água, não tem caça, nem curso arrebatado. Tem seu princípio nesta
freguesia, junto à extremidade da freguesia de São Romão de Mesão
Frio, corre de Norte a Sul. Tem quatro rodas de moinhos, alguns
destes de Verão não moem, por lhes faltar água. Ao redor deste
estão campos cultivados e arvoredos silvestres e frutíferos de
vinho. Daqui passa à freguesia de Fareja, onde leva mais águas e
onde tem alguns moinhos, e fenece na freguesia de São Miguel de
Serzedo, metendo-se no rio de Pombeiro. Uns e outros usam livremente
das suas águas.
Não
respondo a alguns interrogatórios, por não haver aqui matéria de
que eles tratam, além do acima referido nesta fiel descrição,
conferida com os reverendos párocos abaixo assinados.
Santa
Maria de Vila Nova das Infantas, Maio vinte e dois de mil e
setecentos e cinquenta e oito.
O vigário
Manuel José Teixeira Barros.
Miguel
Soares da Costa, vigário de S. Lourenço de Calvos.
Francisco
Pinheiro, vigário nesta freguesia de S. Martinho de Fareja.
(*)Um pouco menos.
“Infantas,
Vila Nova das”, Dicionário Geográfico de Portugal
(Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo,
vol.
10, n.º
240, p. 1455 a 1459.
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