E,
de
ter boa vista, é que se chama Vermil:
quem o diz, é o pároco da freguesia que respondeu ao questionário
das memórias paroquiais de 1785. Compunha, com territórios de
outras freguesias, um couto de que era donatário o conde de Castelo
Melhor, que, segundo o mesmo pároco, “antigamente se denominou
couto de Vermil e hoje se apelida de Ronfe, talvez porque a freguesia
de Ronfe é mais de duas vezes maior que esta de São Mamede de
Vermil”.
Quando
andou por lá, Francisco Martins Sarmento encontrou os restos de um
castelo, que passava por ser de mouros, que descreveu assim:
É uma torre quadrada e de muito menor diâmetro que o Castelo de Guimarães, conservando apenas um a dois metros de parede (talvez de largura de sete palmos) do lado do norte. Fica numa pequeníssima colina.
Vermil
Freguesia
de São Mamede de Vermil.
Está
esta freguesia situada na Província de Entre-Douro-e-Minho,
Arcebispado de Braga Primaz, comarca e termo da vila de Guimarães,
distante desta uma légua, daquela duas e da cidade de Lisboa
sessenta. Num vale que, descendo pela parte do Norte em direitura ao
Sul, termina em planície, se acha situada a povoação e freguesia
de São Mamede de Vermil. Esta é couto, que compreende toda a
freguesia de São Tiago de Ronfe, com que próximo confina, e
compreende mais partes de outras vizinhas. Antigamente se denominou
couto de Vermil e hoje se apelida de Ronfe, talvez porque a freguesia
de Ronfe é mais de duas vezes maior que esta de São Mamede de
Vermil. Se transmutou, pelo discurso do tempo, para ela o nome e a
origem do couto.
Deste é
senhor donatário o excelentíssimo Conde de Castelo Melhor e
Reposteiro-mor. Actualmente, este é administrador, e o foram há
muitos séculos os seus antecessores de um morgado anexo a este
couto, de que desfruta certas rendas, pelo título de doações que
do dito morgado fizeram as majestades aos referidos senhores.
Em
memória da instituição deste couto e morgado, existe ainda hoje,
distante da igreja paroquial desta freguesia poucos passos, uma
torre, com seu muro já em partes demolido, na qual dizem habitara
uma senhora Dona Branca Loba, que tinha umas rendas a que chamam
teigas, por os antigos darem às nossas rasas este nome, que é a
mesma renda que hoje pertence ao dito excelentíssimo Conde de
Castelo Melhor.
Tem esta
freguesia vizinhos, cinquenta e nove, casados, vinte e cinco, viúvos
e viúvas, dezanove, solteiros e solteiras, cento e quinze, pessoas
de sacramento, cento e noventa e uma, menores, vinte e um, ausentes,
vinte e nove. Lugares, dezassete, a saber, Assento, Vessada, Couços,
Barreiros, Covilhã, Pombal. Labruje, Portela, Carreira Nova, Monte,
Gavim, Lamas, Jogo, Vinha Velha, Côrrego, Aldeia, Picoto, cima de
Vila, Quintãs.
A igreja
paroquial está situada no mais alto lugar, que divide em duas partes
a freguesia. Deste lugar se descobre, se bem que confusamente, a vila
de Guimarães e, mais claramente, os paços antigos da Senhora Rainha
e convento da Costa, em que habitam religiosos de São Jerónimo.
Para a parte do Sul, se divisam várias terras em distância de cinco
léguas e, de ter boa vista, é que se chama Vermil.
Serra.
Pela
parte anterior da igreja, em direitura ao Sul, defende a esta
povoação do vento Norte o monte chamado de São Miguel, porque, num
de seus outeiros, sustenta uma pequena ermida com respeito à dita
paróquia, em que a devoção particular dos fiéis venera a imagem
sagrada do Arcanjo São Miguel. Está pobremente venerada, porque
vive de esmolas.
Terá de
comprido este monte, de Norte a Sul, um quarto de légua, de largo,
pelos lados que respeitam ao Nascente e Poente, o mesmo, em círculo
fechado, uma légua. Tem vários penedos e, nas partes mais
superiores dele, são mais avultados. O produto deste monte é mato,
muito útil para o adubo das terras, particularmente cortado no mês
de Maio, em que reverdece. Nele se cria caça de coelhos e lebres.
São, porém, com estas pouco afortunados os galgos e as carreiras
pouco vistosas, em razão de não ser plano o dito monte. Também
cria suas perdizes, mas quase sempre se fatigam debalde ainda os bons
caçadores, porque não são das melhores as revoadas.
Nas
raízes deste monte nascem algumas fontes limitadas, das quais uma
chamada de Amorim, é de água excelente, pelo limitado peso dela.
Do alto
deste monte se descobrem muitas terras para todas as partes,
especialmente para a do Sul, cujo nome não sei e por ficarem
remotas. E também se descobre a capela ou igreja da milagrosa imagem
de Nossa Senhora do Porto, que fica para a parte do Nascente.
O patrono
e orago da freguesia é São Mamede Mártir, verdadeiramente egrégio
em dar a vida pela nossa santa fé de idade de doze anos, como consta
da história de sua vida e procedimentos. A sagrada imagem deste
menino mártir se acha juntamente colocada no altar-mor. Há mais
dois colaterais, em que se adoram as santíssimas imagens de Nossa
Senhora, uma com o título do Rosário, outra com o da Imaculada
Conceição.
Esta
igreja de S. Mamede de Vermil é vigairaria anexa à reitoria de São
João de Brito, à qual apresenta o mesmo reitor, e é da mesma
comenda da Ordem de Cristo. Rende para o vigário cinquenta mil réis.
Além da
ermida de São Miguel, já expressada, há uma capela de São Roque
muito bem ornada, tem fábrica e está sita poucos passos distante da
matriz.
Os frutos
deste país são, em mais abundância, milhão, centeio e milho alvo
e algum feijão e vinho verde, quando Deus o dá.
É couto
que tem juiz ordinário e câmara, tudo posto por Sua Majestade, que
Deus guarde, a cujas justiças e às de Guimarães estão sujeitos
estes povos.
Não tem
correio, serve-se com o da dita vila, de onde parte às sextas-feiras
e chega aos domingos.
Tem um
privilégio de Nossa Senhora da Oliveira de Guimarães.
Aos mais
interrogatórios, não tenho que dizer. E assinaram esta comigo o
reverendo reitor de Ronfe, João do Couto Ribeiro e o reverendo
reitor de Brito, Domingos Marques Silva. De Maio, 23 de 1758 anos.
O vigário
António José Marques de Araújo.
João do
Couto Ribeiro.
O reitor
Domingos Marques Silva.
“Vermil”,
Dicionário Geográfico de Portugal
(Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo,
Vol. 39, n.º
140,
p. 805 a 810.
[A
seguir: Brito]
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