O
nome desta freguesia, S. Faustino de Riba Vizela, foi sucessivamente
amputado. Algum dia passaram a chamar-lhe S. Faustino de Vizela e, em
2001, por razões que até se compreendem, mas que não fazem grande
sentido, foi adoptada a designação oficial de, simplesmente, S.
Faustino. Mas, como não mudou de lugar, S. Faustino continua
"iminente à célebre Ribeira de Vizela, com a qual no plano se
comunica".
Segundo
o Abade de Tagilde, o orago desta freguesia é S. Fausto (martirizado
em Córdova com os seus irmãos Januário e Marçal), o mesmo que, no
Breviário Espanhol, se celebra a 13 de Outubro, e não S. Faustino,
que, no Breviário Romano, é assinalado no dia 15 de Novembro.
S.
Faustino de Riba Vizela é terra de flores. Já o era em 1758, como
se percebe pela descrição que o abade Amaro José de Paços Leite
faz da residência paroquial:
É esta digna de alguma memória por ser, pela sua natureza e fábrica, a mais aprazível entre todas a do Arcebispado, concorrendo para a sua formosura e alegre de sua situação as casas dela, sendo acomodadas a uma capaz vivenda de campo. Fazem frente a um espaçoso tabuleiro em quadro que, nos seus cantos, se orna com pirâmides, e, pelo centro dele, repartindo-se em ruas de murta, tem vários pedestais de pedra, em que se sustentam vasos de excelentes cravos. Tem dilatados passeios e ruas guarnecidas de alegretes, os seus muros cobertos de árvores de espinho, e as ruas de latas do mesmo, umas de parreiras, outras sustentadas em esteios de pedra, revestidos do mesmo espírito. Tudo rodeado de alegretes de esquisitas flores, que tudo se rega com água que por canos de pedra corre de um montado da mesma residência. Fazendo-se mui celebrado este sítio pelas muitas raqueis que nele florescem, havendo anos que tem produzido mil e quinhentas flores desta espécie.
São
Faustino de Vizela
Relação
da freguesia de S. Faustino de Riba de Vizela, em cumprimento da
ordem do Muito Reverendo Senhor Doutor deste Arcebispado primaz de
Braga.
Esta freguesia fica na
Província Interamnense ou de Entre-Douro-e-Minho, pertence ao
Arcebispado Primaz de Braga, termo da vila de Guimarães e sua
comarca e, como tal, da Coroa. Tem quarenta e seis vizinhos, cento e
setenta pessoas, exceptuando algumas crianças.
A sua paróquia está situada
no meio dela, na fralda do limitado monte de S. Simão, porque se
dilata iminente à célebre Ribeira de Vizela, com a qual no plano se
comunica. Tem as aldeias seguintes:
Bouças, S. Pedro, Safra,
Leira, Revolta, Boavista, Cima de Vila de Cima, Cima de Vila de
Baixo, Loureiro, Casal da Cal, Lamatilde, Souto, Subpaço, Vergada,
Casa Nova, Torre, Herdade, Penelas, Celeiró de Cima, Celeiró de
Baixo, Barrio, Sentiães, Pedreira, Reguengo, Reguengo de Cima,
Reguengo de Baixo, ambos estes privilegiados das Tábuas Vermelhas de
Nossa Senhora da vila de Guimarães, Campo de Sampaio,
Entre-as-Vinhas, os três casais de Balboreiro, Assento da Igreja,
Residência dos Abades.
É esta digna de alguma memória
por ser, pela sua natureza e fábrica, a mais aprazível entre todas
a do Arcebispado, concorrendo para a sua formosura e alegre de sua
situação as casas dela, sendo acomodadas a uma capaz vivenda de
campo. Fazem frente a um espaçoso tabuleiro em quadro que, nos seus
cantos, se orna com pirâmides, e, pelo centro dele, repartindo-se em
ruas de murta, tem vários pedestais de pedra, em que se sustentam
vasos de excelentes cravos. Tem dilatados passeios e ruas guarnecidas
de alegretes, os seus muros cobertos de árvores de espinho, e as
ruas de latas do mesmo, umas de parreiras, outras sustentadas em
esteios de pedra, revestidos do mesmo espírito. Tudo rodeado de
alegretes de esquisitas flores, que tudo se rega com água que por
canos de pedra corre de um montado da mesma residência. Fazendo-se
mui celebrado este sítio pelas muitas raqueis que nele florescem,
havendo anos que tem produzido mil e quinhentas flores desta espécie.
O seu orago é S. Faustino. Tem
a igreja uma só nave, com três altares: o do orago, em que está
colocado o Santíssimo Sacramento por viático, o da Senhora das
Candeias, o do Nome de Deus e S. Sebastião. Tem a irmandade da
Senhora das Candeias, da jurisdição ordinária, com bula de
indulgências nas cinco festas da Senhora. E todos os altares da
igreja privilegiados in
perpetuum para as
missas que a confraria manda dizer pelos irmãos falecidos. A festa
principal é a dois de Fevereiro. Tem a confraria do Santo Nome de
Deus.
Tem só a ermida de Santo
António nos seus limites. Pertence aos possuidores do casal de
Subpaço.
O seu pároco é abade de
apresentação ordinária. Rende quinhentos mil réis.
Os frutos que os seus moradores
colhem com mais abundância são vinho, milhão, centeio, feijão.
É sujeito às justiças de
Guimarães. O seu correio, da mesma vila. Dista da capital do
Arcebispado quatro léguas. Da capital do Reino cinquenta e nove
léguas,
Não padeceu ruína no
terramoto de 1755.
No seu pequeno montado tem
alguma caça de coelhos, perdizes e raposas.
É tudo o que acho que relatar,
do que se procura saber. Porque, sendo a Ribeira de Vizela ao modo de
anfiteatro, e correndo pelo meio dela o rio Vizela, que lhe dá o
nome nesta parte (como relataram os que povoam suas margens), não se
acha em toda ela serra alguma, vendo-se até às coroas dos montes
cultivadas as terras, com grande interesse dos seus habitantes. E por
verdade me assinei, com os reverendos párocos vizinhos. S. Faustino
de Riba de Vizela, 6 de Maio de 1758.
Amaro
José de Paços Leite, abade
Domingos Lopes, abade de Pentieiros
Francisco Leite Soares, vigário de São Cristóvão de Abação
Domingos Lopes, abade de Pentieiros
Francisco Leite Soares, vigário de São Cristóvão de Abação
“Vizela,
São Faustino de Riba”, Dicionário Geográfico de Portugal
(Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo,
vol.
31, nº 89, p. 525 a 528.
[A
seguir: Pentieiros]
0 Comentários