Memórias Paroquiais de 1758: São Tiago de Candoso


Segundo o Abade de Tagilde, S. Tiago e Candoso é a terra de uma dinastia de de sangradores e curandeiros. Em 1797, um tal Francisco Mendes de Araújo recebeu licença para “curar tumores com um remédio específico cáustico”. Em 1831, foi passada “carta de sangria” ao seu filho Jerónimo de Araújo, que também recebeu carta de licença para “curar tumores bastardos com remédio cáustico e particular”, que, em momentos diferentes, também seria passada aos seus irmãos António e João.
Em 1750, ficou registada em visitação a proibição “por servir de escândalo e não de emenda, [de] que as mulheres que tinham errado fossem nomeadas para varrer a igreja, deitar água nas pias e levarem as ofertas de casas do defuntos”.
A igreja da freguesia andava a construir-se em 1803.
A crer no que escreveu o seu pároco na memória paroquial, S. Tiago não seria tão fértil como a vizinha de S. Martinho: “os moradores desta freguesia, os frutos que colhem em maior abundância, são milhão e centeio e feijão preto e vinho bastante. E, de todos os mais frutos da terra e das árvores e hortas e jardins, é esta freguesia esterilíssima.”

São Tiago de Candoso
Em cumprimento da Ordem do Muito Reverendo e Senhor Doutor Provisor da cidade de Braga Primaz, etc.
É o orago desta freguesia São Tiago de Candoso, cuja igreja está situada, e a residência dela, num lugar umbroso da dita freguesia, entre dois montes chamados, um da parte do Nascente, o Picoto de Santo Amaro e, da parte do Poente, outro chamado o monte da Feixeira. E estes servem de impedimento à vista, que apenas da residência desta igreja se descobre um pequeno lugar chamado o Reboto, da freguesia de São Martinho de Candoso, onde passa o regato chamado de Selho, que só permanece com a sua fúria no tempo do Inverno. Tem a igreja desta freguesia três altares, um na capela-mor, do dito orago, e na nave da parte do Sul, outro, de São Sebastião, e na nave do Norte, outro, de Nossa Senhora do Rosário. E também tem duas irmandades, uma da dita Senhora e outra das Almas.
É esta igreja da apresentação do Reverendo Cabido da vila de Guimarães e é termo e comarca da dita vila e deste Arcebispado de Braga, e fica distante, da dita cidade, três léguas, e, da vila de Guimarães, meia légua, pouco mais ou menos. O qual é cura anual.
Confronta esta igreja, para a parte do Norte, com a igreja de Santa Maria de Silvares, em distância de um quarto de légua, e, para o Poente, com a de São Martinho de Candoso e, para o Sul, com Santa Eulália de Nespereira e, para o Nascente, com São Vicente de Mascotelos, em distância, de umas para as outra,s de um quarto de légua. Tem esta freguesia pessoas de sacramento, cento e sessenta, e lugares, vinte que se chamam: Pinho, Cabeças, Mascotelos, Devesinha, Vilar, Bacelo Velho, Venda Velha, Pedral, Santo Amaro, onde se faz feira de bois, não franca, todos os meses no dia quinze, Lugar, Creixomil, Mondas, Souto, Veiga, Gamilo, Castelo Mosoilo, Passinhos, Préstimo, Bouça, Monte. E não tem esta freguesia capelas, oratório, nem coisa especiosa de que se possa fazer memória.
Os moradores desta freguesia, os frutos que colhem em maior abundância, são milhão e centeio e feijão preto e vinho bastante. E, de todos os mais frutos da terra e das árvores e hortas e jardins, é esta freguesia esterilíssima.
Não tem esta freguesia beneficiados, nem Misericórdia, nem conventos, nem fojos, nem águas de que os homens possam fazer memória especial, nem pessoa de memória ou engenho agudo.
Não tem esta freguesia pontes, nem moinhos, e não padeceu ruína alguma no terramoto do ano de mil e setecentos cinquenta e cinco.
Finalmente, não me consta houvesse nesta freguesia homem que florescesse por armas ou letras, etc.
Nesta freguesia atravessa, pelo lugar de Santo Amaro uma estrada, por onde concorre muita gente para a cidade do Porto e mais que se seguem até Lisboa e nesta estrada passa todas as quintas-feiras o correio para a cidade do Porto e se recolhe no domingo seguinte à vila de Guimarães.
É o que me é possível informar a Vossa Mercê. São Tiago de Candoso, vinte e um de Maio de mil e setecentos e cinquenta e oito.
De Vossa Mercê, menor súbdito o pároco Bento Cardoso. O vigário de Nespereira, Domingos Antunes.
O pároco de São Vicente de Mascotelos, Jerónimo Ribeiro Salgado.
Candoso, São Tiagoo”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 8, n.º 96, p. 665 a 667.

[A seguir: Mascotelos]

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