Segundo
o Abade de Tagilde, S. Tiago e Candoso é a terra de uma dinastia
de de sangradores e curandeiros. Em 1797,
um tal Francisco Mendes de Araújo recebeu licença para “curar
tumores com um remédio específico cáustico”. Em 1831, foi
passada “carta de sangria” ao seu filho Jerónimo de Araújo, que
também recebeu carta de licença para “curar tumores bastardos com
remédio cáustico e particular”, que, em momentos diferentes,
também seria passada aos seus irmãos António e João.
Em
1750, ficou registada em visitação a proibição “por servir de
escândalo e não de emenda, [de]
que
as
mulheres que tinham errado
fossem nomeadas para varrer a igreja, deitar água nas pias e levarem
as ofertas de casas do defuntos”.
A
igreja da freguesia andava a construir-se em 1803.
A
crer no que escreveu o seu pároco na memória paroquial, S. Tiago
não seria tão fértil como a vizinha de S. Martinho: “os
moradores desta freguesia, os frutos que colhem em maior abundância,
são milhão e centeio e feijão preto e vinho bastante. E, de todos
os mais frutos da terra e das árvores e hortas e jardins, é esta
freguesia esterilíssima.”
São
Tiago de Candoso
Em
cumprimento da Ordem do Muito Reverendo e Senhor Doutor Provisor da
cidade de Braga Primaz, etc.
É o
orago desta freguesia São Tiago de Candoso, cuja igreja está
situada, e a residência dela, num lugar umbroso da dita freguesia,
entre dois montes chamados, um da parte do Nascente, o Picoto de
Santo Amaro e, da parte do Poente, outro chamado o monte da Feixeira.
E estes servem de impedimento à vista, que apenas da residência
desta igreja se descobre um pequeno lugar chamado o Reboto, da
freguesia de São Martinho de Candoso, onde passa o regato chamado de
Selho, que só permanece com a sua fúria no tempo do Inverno. Tem a
igreja desta freguesia três altares, um na capela-mor, do dito
orago, e na nave da parte do Sul, outro, de São Sebastião, e na
nave do Norte, outro, de Nossa Senhora do Rosário. E também tem
duas irmandades, uma da dita Senhora e outra das Almas.
É esta
igreja da apresentação do Reverendo Cabido da vila de Guimarães e
é termo e comarca da dita vila e deste Arcebispado de Braga, e fica
distante, da dita cidade, três léguas, e, da vila de Guimarães,
meia légua, pouco mais ou menos. O qual é cura anual.
Confronta
esta igreja, para a parte do Norte, com a igreja de Santa Maria de
Silvares, em distância de um quarto de légua, e, para o Poente, com
a de São Martinho de Candoso e, para o Sul, com Santa Eulália de
Nespereira e, para o Nascente, com São Vicente de Mascotelos, em
distância, de umas para as outra,s de um quarto de légua. Tem esta
freguesia pessoas de sacramento, cento e sessenta, e lugares, vinte
que se chamam: Pinho, Cabeças, Mascotelos, Devesinha, Vilar, Bacelo
Velho, Venda Velha, Pedral, Santo Amaro, onde se faz feira de bois,
não franca, todos os meses no dia quinze, Lugar, Creixomil, Mondas,
Souto, Veiga, Gamilo, Castelo Mosoilo, Passinhos, Préstimo, Bouça,
Monte. E não tem esta freguesia capelas, oratório, nem coisa
especiosa de que se possa fazer memória.
Os
moradores desta freguesia, os frutos que colhem em maior abundância,
são milhão e centeio e feijão preto e vinho bastante. E, de todos
os mais frutos da terra e das árvores e hortas e jardins, é esta
freguesia esterilíssima.
Não tem
esta freguesia beneficiados, nem Misericórdia, nem conventos, nem
fojos, nem águas de que os homens possam fazer memória especial,
nem pessoa de memória ou engenho agudo.
Não tem
esta freguesia pontes, nem moinhos, e não padeceu ruína alguma no
terramoto do ano de mil e setecentos cinquenta e cinco.
Finalmente,
não me consta houvesse nesta freguesia homem que florescesse por
armas ou letras, etc.
Nesta
freguesia atravessa, pelo lugar de Santo Amaro uma estrada, por onde
concorre muita gente para a cidade do Porto e mais que se seguem até
Lisboa e nesta estrada passa todas as quintas-feiras o correio para a
cidade do Porto e se recolhe no domingo seguinte à vila de
Guimarães.
É o que
me é possível informar a Vossa Mercê. São Tiago de Candoso, vinte
e um de Maio de mil e setecentos e cinquenta e oito.
De Vossa
Mercê, menor súbdito o pároco Bento Cardoso. O vigário de
Nespereira, Domingos Antunes.
O pároco
de São Vicente de Mascotelos, Jerónimo Ribeiro Salgado.
“Candoso,
São Tiagoo”, Dicionário Geográfico de Portugal
(Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo,
Vol. 8, n.º 96,
p. 665 a 667.
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