Diz
o dicionário que airão é um arranjo de flores artificiais em que
entram pedras finas, antigamente usado para enfeitar toucados de
mulher. Também poderia designar os grandes penachos que enfeitavam
capacetes ou chapéus de homem (como o que se vê na estátua do
Guimarães das
duas caras).
Ao
que parece, a freguesia de Santa Maria de Airão absorveu uma outra,
que se chamava S. Paio de Lanhas.
Segundo
o Abade de Tagilde, nesta freguesia existia, em finais do século
XIX, um pinheiro que media cinco metros de circunferência e quarenta
e quatro de altura, que se mantinha de pé, apesar de “algum dano” que lhe provocou a queda de um raio.
Santa
Maria de Airão
Muito
Reverendo Senhor Doutor Provisor.
O que
posso informar a Vossa Mercê a respeito dos interrogatórios que por
ordem de Vossa Mercê me foram entregues é o seguinte.
1.º Ao
primeiro artigo respondo: fica esta freguesia de Santa Maria de Airão
na Província de Entre-Douro-e-Minho, do Arcebispado de Braga, termo
de Guimarães e comarca.
2.º Não
é terra de donatário, mas sim de el-rei Nosso Senhor D. José, o
primeiro.
3.º Tem
esta freguesia noventa e seis vizinhos ou fogos, pessoas trezentas e
cinquenta e quatro.
4.º Está
situada num vale do qual se não descobre povoação alguma.
5.º Não
tem termo seu, mas sim, como já fica dito, é do da vila de
Guimarães.
6. A
igreja paroquial se acha a um lado da freguesia que tem dez lugares
como são: Monaco, Treslaje, Ferreiros, Lanhas, Agrelo, Cazermo,
Moinhos, Santa Luzia, Penedo, Assento e algumas casas mais separadas
como são as da Bouça, Agros e Fonte de Goda.
7. O
orago é Nossa Senhora da Misericórdia, cuja igreja tem três
altares. O maior, em que se acha o Santíssimo per
modum viatici, que
sustenta o pároco por sua devoção. Tem as imagens da dita Senhora,
de Santa Ana, de Santa Quitéria, de São Domingos e de São
Francisco, e dois colaterais, num dos quais está Nossa Senhora do
Rosário e, no outro, que é do Menino Deus, se acha a mesma imagem
do Menino, de São Sebastião e Santo António. É esta igreja de uma
só nave e nela não há irmandade.
8.º É o
pároco desta freguesia abade. Tem de renda trezentos e noventa mil
réis.
9.º e
10.º, 11.º e 12.º Não há nesta igreja e freguesia beneficiados,
conventos, hospital, nem Misericórdia.
13.º Há
nesta freguesia uma só capela da invocação de Santa Luzia em que
se acha, além da imagem desta santa, a de São Silvestre, a qual
capela está situada no meio do lugar de Santa Luzia. Não pertence a
pessoa alguma e se sustenta de uma ténue fábrica que antigamente se
lhe deixou.
14.º A
dita capela de Santa Luzia tem duas romagens, uma no dia desta Santa,
outra no de S. Silvestre, o último de Dezembro.
15.º Os
frutos que se granjeiam nesta freguesia são milho grosso, a que
chamam milhão, milho miúdo, painço, centeio, feijão e vinho
verde; porém, só de milhão se recolhe com maior abundância.
16.º Não
há nesta freguesia câmara, nem juiz porquanto está sujeita, como
retro fica, dito às justiças da vila de Guimarães.
17.º Não
há aqui couto, nem é esta terra cabeça de concelho, nem é honra,
nem beetria.
18.º Não
há memória que daqui saísse homem por virtude, letras ou armas
insigne.
19.º Não
há nesta freguesia feira alguma.
20.º
Serve-se esta freguesia do correio da vila de Guimarães ou do da
cidade de Braga, que ambas distam duas léguas.
21.º
Fica esta freguesia distante da cidade de Braga, que é a capital
deste Arcebispado, duas léguas e da de Lisboa cinquenta e oito.
22.º Não
há aqui privilégios, antiguidades, nem coisa digna de memória.
23.º Não
há aqui nem nas vizinhanças de que eu tenha notícia fonte ou lagoa
digna de memória.
24.º
Fica esta terra distante do mar seis léguas e assim me não fica
lugar que diga a este artigo.
25.º Não
é esta terra murada, nem torre ou castelo tem. Só sim na freguesia
de São Mamede de Vermil, imediata a esta, se acha uma torre quase
arruinada, que por tradição dizem fora de uma Dona Loba. Fica no
couto de Ronfe.
26.º
Nesta freguesia, só no arco cruzeiro fez efeito o terramoto do ano
de mil setecentos e cinquenta e cinco, porém sem dano.
27.º Não
há coisa alguma mais que possa advertir.
No que
respeita a serras, não as há nesta freguesia, só sim dois pequenos
outeiros, chamados da Barca e São João, indignos, por diminutos, de
memória alguma e de neles se poderem verificar algumas
circunstâncias ou qualidade dos interrogatórios a este respeito.
Descrição
de um regato que corre por esta freguesia.
1.º
Passa por esta freguesia um ribeiro chamado na mesma de Truta, sem
dúvida por noutro tempo dar muito deste peixe. Nasce na freguesia de
S. Martinho de Leitões, um quarto de légua desviada desta para a
parte de entre o Norte e Nascente, ou, ad
melius,
ao Nordeste.
2.º Não
nasce caudaloso mas sim de uma fonte ou charco e em alguns anos, ao
menos nesta minha freguesia, seca pelo Verão.
3.º Não
entra nele rio algum, ao menos nestas freguesias imediatas, e só a
ele se juntam algumas águas que nascem no monte da Curviã que fica
por cima das freguesias do Salvador de Joane, Pousada e Vermoim ao
Noroeste.
4.º Não
é navegável, por não ter para esse efeito águas.
5.º Não
tem curso arrebatado, principalmente nestas freguesias vizinhas,
porquanto corre por terra quase plana, prescindindo de alguns lugares
onde tem moinhos.
6.º
Corre de Nordeste para entre Sul e Poente ou para o Sudoeste.
7.º Cria
algumas trutas e escalos e, em distância desta freguesia uma légua,
por levar já bastante água, com abundância. É a água muito fria
e por isso o peixe muito gostoso. Junto ao rio Ave, onde fenece, traz
também barbos.
8.º
Pesca-se nele à mão e com redes, pelo tempo do Verão.
9.º São
livres as pescarias, menos quando passa pelo couto de Landim, que é
dos cónegos regrantes, que aí ouvi o coutavam os religiosos mesmos.
10.º
Cultiva-se nas suas margens, em partes, e também são abundantes de
árvores como de castanheiros, amieiros e uveiras.
11.º Não
sei tenham as águas deste regato virtude alguma particular.
12.º Na
freguesia do Salvador de Joane, imediata a esta, para a parte do
Poente, perde este regato o nome da Truta e toma o do rio de Pele,
por passar por um lugar assim chamado, o qual conserva, segundo o meu
parecer, até se meter no rio Ave e não sei que tenha ou tivesse
outro nome.
13.º
Morre este regato no rio Ave, junto à ponte de Lagoncinha. Não sei
se na freguesia da Palmeira, duas léguas e meia desviada desta
minha.
14.º Tem
muitas levadas e presas ou poças em ordem a se aproveitarem os
lavradores das suas águas para regarem os campos, por cuja razão,
ainda que tivesse águas, se faria inavegável.
15.º Não
sei que tenha mais que uma ponte, que é em Landim, junto ao convento
dos religiosos Crúzios, e é de cantaria.
16.º Tem
muitos moinhos e alguns lagares de azeite e pisões em todo o seu
progresso.
17.º Não
tenho notícia que deste regato se tenha tirado ouro, ainda que todo
ele o é, pelo benefício que faz aos campos com as suas águas, das
quais se aproveitam os lavradores em limas e regas.
18º.
Como já disse, usam os povos das águas deste regato para limarem e
regarem os campos e não sei dêem
para esse efeito pensão alguma.
19. Tem
este regato três léguas ou pouco menos, da freguesia de São
Martinho de Leitões, onde nasce, até à ponte da Lagoncinha ou
junto a ela, onde se mete no rio Ave, perdendo neste rio, por ser
muito grande, respectivé,
o seu nome de Pele.
20.º Não
há coisa mais de que possa informar.
Esta a
notícia, que tenho por ciência particular e própria, como também
por informações que tirei. Em verdade do que me assino com o
reverendo abade de S. João de Airão, Gonçalo de Almeida Pontes, e
o padre João de Faria dos Guimarães, por impedimento que tinha o
seu reverendo pároco, o abade de São Vicente de Oleiros, que são
os párocos mais meus vizinhos. Santa Maria de Airão, de Maio 23 de
1758.
Aos pés
de Vossa Mercê.
Por
impedimento do reverendo abade de S. Vicente de Oleiros, o padre João
de Faria dos Guimarães.
O abade
Gonçalo de Almeida Pontes.
O abade
João Correia de Oliveira.
“Airão,
Santa Maria”, Dicionário Geográfico de Portugal
(Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo,
Vol. 5, n.º
89, p. 1105 a 1112.
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