De
onde lhe venha
um nome tão inusitado na toponímia portuguesa não faço ideia, mas
tendo a acreditar que tenha algo a ver com pó (pulvis, pulveris, em latim).
No entanto, há quem coloque uma hipótese curiosa,
relacionando-o com a batalha de Polvoraria, em que os cristãos
destroçaram os muçulmanos (pondo-os em polvorosa), travada no ano de 878, de que fala Alexandre
Herculano, que a situa junto ao rio Orbigo, nas imediações da
cidade
espanhola de Benavente. Nas actas de um congresso de arabistas
realizado em Amesterdão em 1978, lemos:
Também
existe a sul da cidade de Guimarães mais que um topónimo Polvoreira
(Polvoraria —► Polvoreira). Tão
curiosa toponímia faz-nos pensar se não existirá alguma relação
entre a "batalha de Berberia” referida por Ibn Hayyan e
aquele(s) lugar(es); e se a designação toponímica Polvoreira não
encerrará em si qualquer nexo com a célebre batalha de Polvoraria
que vem referida nos documentos leoneses e se travou nas imediações
temporais desta altura em que nos encontramos. Cremos que seja digno
de ponderação, tanto mais que nos encontramos no ano anterior
àquele em que teve papel importante em Coimbra um homem que naquelas
terras de Guimarães era senhor fundiário: o conde Hermenenegildo
Mendes.
(Martim
Velho, "A localização de Monsalude", Proceedings of the Ninth
Congress of the Union Européenne Des Arabisants Et Islamisants:
Amsterdam, 1st to 7th September 1978, Brill Archive, 1981, p. 278)
Polvoreira
era terra de fabricantes de cestas. É lá que se situa um monumento
nacional que está descrito como... inexistente. Foi referido, no
século XIX, pelo Pereira Caldas, cujo segundo centenário passa este
ano. Foi classificado como monumento nacional em 23 de Junho de 1910.
Francisco Martins Sarmento, que o procurou, não encontrou anta
nenhuma e deu conta do que encontrou:
“Fica
no monte de Lujó. Chamam-lhe a “Furna dos Mouros”. Não vi coisa
que se parecesse com “dólmen”. Imagine-se uma Pena Província
liliputiana. Os penedos deixam entre si espaços desencontrados,
diferentes e estreitos - o que torna, à primeira vista, difícil
saber qual deles formava a furna. Mesa, nem sinal dela em parte
alguma. Quebrou-se ali já pedra; mas vê-se que a pedra quebrada não
alterou no essencial o grupo dos penedos. Por fim, um guia mostrou a
“Furna”:
1)
Furna; 2) parte do penedo que despegou de cima, abrindo uma fenda
para poente. A furna terá doze palmos de profundidade, sete de alto,
quatro de largo. Como se vê, não podia ser um dólmen. Era, quando
muito, um esconderijo, talvez para cadáveres, facilitado pela
deslocação do penedo, deslocação que esmigalhou a pedra que,
extraída, deu a furna. Tudo isto foi preparado pela natureza e a
única coisa que faz suspeitar que a furna fosse aproveitada para
algum uso é o seu nome “Furna dos Mouros” e alguma legenda de
dinheiro encantado que por ali há. Realmente não é pouco, porque,
sem uma tradição fundada em algum achado esquisito, a coisa em si
não podia chamar a atenção. Disse-me depois o Couto (Jerónimo)
que a legenda queria que os tesouros estivessem por baixo do penedo
(espécie de loja à qual dava entrada a furna). Um lavrador que nos
acompanhava diz mais que havia por ali caminho até um ribeiro
próximo (anónimo), caminho subterrâneo, entende-se. Estas
tradições devem relacionar-se com alguma coisa mais, que caiu em
pleno esquecimento. No morro a nascente, por onde passámos antes de
chegar à igreja de Polvoreira, encontrei eu um fragmento de tijolo
romano, que mostrei aos dois Avelinos, meus companheiros. O lavrador
supra, que apareceu depois, disse que num campo dele apareciam a cada
passo grandes tijolos e carvão (este homem saiu o irmão do meu
falecido criado António, que mora ali). Defronte deste teso, para
nascente, há um monte de S. Simão, sem capela. Em Taboadelo, que
não fica longe, há, diz o Couto, um sepulcro aberto na rocha.”
Tenho
só a acrescentar que a “Furna dos Mouros” podia bem ser lugar de
enterramento, porque enterrar os mortos nas “fendas dos rochedos”
era comum, diz não me lembra quem.”
De
Polvoreira em 1758, também não temos mais do que um breve resumo.
Polvoreira
Polvoreira
é aldeia e paróquia do termo da vila Guimarães, na comarca do
mesmo nome. O seu povo consta de 95 fogos, com 270 almas de
sacramento, na matriz dedicada a São Pedro.
O pároco
é abade apresentado in
solidum
pelas freiras de Santa Clara de Vila do Conde e tem de côngrua
450$000 réis.
“Polvoreira”,
Dicionário Geográfico de Portugal
(Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo,
Vol. 42, memória 330, p. 157.
[A
seguir: Pinheiro]
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