Já
consta nas primeiras Inquirições
Gerais,
as
de 1220, ordenadas por D. Afonso II, como Sancta
Maria de Geminis.
Santa Maria de Gémeos, portanto. Não sei de onde lhe venha o nome,
porque as fontes que conheço não o informam. A única explicação
que encontro é tardia, data de 1842 e está na resposta ao Inquérito
Paroquial do
concelho de Guimarães. Diz o abade António Lucena Leite que se
chama Gémeos por aqui terem nascido “duas crianças juntas, e
vivas, e pegadas pelas costas”.
A
reformulação administrativa de 2013 anexou-a à freguesia de
Abação, na União das Freguesia de Abação e Gémeos, que agrega
quatro paróquias do antigo termo de Guimarães: S. Cristóvão de
Abação, S. Tomé de Abação, Gémeos e Pentieiros.
Gémeos
Informação
do que contém a paroquial igreja de Santa Maria de Gémeos, que me
mandou fazer o muito Reverendo o Senhor Doutor Provisor deste
Arcebispado Primaz, pelos interrogatórios inclusos.
Está
esta paróquia na ribeira de Vizela, Província de
Entre-Douro-e-Minho, Arcebispado Primaz, comarca e termo da vila de
Guimarães. Não me consta que desta ribeira seja senhor senão o
Senhor Dom José Primeiro, Rei Fidelíssimo de Portugal.
Tem esta
paróquia cinquenta e quatro fogos, ou casas, em que moram seus
fregueses, e, feita a conta de adultos e menores, compreende o número
de cento e sessenta e seis pessoas que assistem nela.
Está
situada num monte, porém todas, ou quase todas, as suas terras são
cultivadas. E dele, ou deste sítio, se descobre para a parte do
Nascente, ainda que mais para o Sul, o monte chamado de Santa
Quitéria, onde a mesma santa tem um majestoso templo, e, para o Sul,
se descobre o monte de São Martinho, onde estão situadas três
paróquias que desta igreja se avistam e são São Jorge de Vizela,
São Martinho de Penacova e Santa Comba de Regilde. Todas estas
paróquias distam desta de Gémeos um quarto de légua, pouco mais ou
menos.
Está
situada a igreja quase no meio da freguesia e os casais que estão no
seu distrito são os seguintes: Casal ou lugar da Cruz, e mais dois
vizinhos, Badoucos, Greioadelo, são dois vizinhos, Costeiras, Quintã
de Baixo, Quintã de Cima, e estes tem cada um o seu vizinho, Vale,
Ribeiro de Calvos, um vizinho, Galhufe um vizinho, Paivilão, um
vizinho, Novelo, Miranda, um vizinho, Serquido, Regueiras, Lugar do
Passo, que tem cinco vizinhos, Valverde, um vizinho, Chãos, lugar do
Souto de Versas, que tem em si oito vizinhos, Bouça Velha, Bouça
Nova, Portelinha, Venda da Costa, Casal de Estêvão, Eirigo,
Vilaverde, um vizinho, Cide Velho, um vizinho, Cide Novo, Lugarinho,
Bairro, Monte do Bairro, um vizinho.
A Virgem
Maria Nossa Senhora, com o título ou invocação da Senhora do Ó, é
orago desta paroquial igreja, e esta tem uma só nave e três
altares. O maior, em que está o Santíssimo Sacramento, e, da parte
do Evangelho a padroeira, a Virgem Maria Senhora Nossa, e, da
Epístola, o Senhor São José. Tem mais dois altares, um da Senhora
do Rosário, da parte do Evangelho, e outro, do Mártir São
Sebastião, da parte da Epístola. Não tem irmandades, nem
confrarias, só a do Santo Nome de Jesus, muito pobre, e a confraria
do Santíssimo Sacramento, também pobre, porque ainda há poucos
anos que, com licença do ordinário, se colocou.
O pároco
desta igreja ou benefício é abade e é apresentação de Roma ou de
Braga, por concurso. Renderá, um ano por outro, com a sua anexa São
Cristóvão de Abação, vizinha desta e apresentação dos abades
deste benefício, quatrocentos mil réis, ainda que agora não rende
tanto para o abade actual, porque paga de pensão duzentos e
cinquenta mil réis ao abade de São Pedro de Britelo, João Borges
Morais.
Não há
nesta igreja beneficiados, nem conventos, nem hospital algum, nem
casa de misericórdia, nem ermidas ou capelas em todo o seu distrito.
Os frutos
que os lavradores costumam colher são todas as espécies de pão.
Porém, em mais abundância, respeito das mais espécies, é milhão.
Também vinho verde recolhem bastante, quando Deus o permite.
Estão os
moradores desta freguesia sujeitos à câmara e ministros da justiça
da vila de Guimarães.
Não me
consta, nem tenho notícia, que desta freguesia saíssem homens
insignes em virtudes, letras e armas.
Não há
nesta freguesia feira alguma em todo o ano e costumam ir a elas,
todos os sábados do ano, a Guimarães, para comprarem e venderem o
que lhes é necessário.
Nem tem
correio, só o de Guimarães, onde vão b
otar
as cartas para todas as partes do reino e tirá-las no domingo à
noite, que é quando chega do Porto o correio, e costumam votarem-se
as cartas no dito correio de Guimarães todas as quintas-feiras para,
nas sextas-feiras, partir para cidade do Porto.
A
distância desta freguesia à dita vila Guimarães será coisa de uma
légua e quatro léguas à cidade de Braga, capital deste Arcebispado
Primaz, sessenta, pouco mais ou menos, a Lisboa, cidade capital deste
reino.
Não me
consta que tenha esta freguesia alguns privilégios, antiguidades ou
coisas notáveis e dignas de memória, nem lagoa ou fontes especiais
e dignas de lembrança. Agora, fontes das que chamam comuns, tem
bastantes e as que são necessárias para os moradores desta
freguesia e seus gados poderem viver. Não é, nem há, porto de mar
ou fortes, nem fortalezas, torres ou muralhas.
No
terramoto do ano de 1755, seja Deus louvado, não padeceu esta
freguesia ruína alguma.
E não
vejo mais nesta matéria de que possa informar, por não haver nesta
freguesia coisa alguma digna de memória.
E, como
nesta freguesia não há serra, por isso não tenho que informar
neste particular.
Coisa de
meio quarto de légua de distância desta igreja, passa o rio chamado
de Vizela que, por passar pelo meio desta ribeira, assim chamada e
bem nomeada, é que entendo tem o nome de rio de Vizela. Este me
dizem tem seu princípio ou nascimento na serra ou monte da Lagoa,
porém principia muito diminuto e assim vem correndo, até à ponte
chamada de Bouças, onde se lhe juntam dois rios, porém pequenos, e
assim vem correndo por esta ribeira e, a Santo Tirso, se lhe junta o
rio Ave e, incorporado com este, se vai meter em Vila de Conde e
depois no mar. No tempo de Inverno, corre bastantemente cheio e, de
Verão, muito diminuto, de sorte que muitas vezes se passa a pé. Não
é navegável, nem capaz de embarcações, só de algum barquinho
para se recriar algum curioso, nem neste meu distrito é de curso
arrebatado. Corre do Nascente para o Poente.
Cria
algumas trutas, porém contadas e muito poucas. Com mais alguma
abundância, cria bogas e algumas enguias. Não há nele, que eu
saiba, pescarias, só as que fazem no Verão alguns curiosos e estas
são livres e de quem quer ir pescar.
Os campos
das suas margens são cultivados, ainda que no tempo do Inverno
padecem, às vezes, seu detrimento, por causa das enchentes, de sorte
que tem sucedido entrar pelos campos e levar as sementeiras,
deixando-as cheias de areias.
Não me
consta tenham as suas águas virtude alguma particular e digna de
memória. As árvores que tem ao redor, de uma e outra parte, são em
maior número amieiros e salgueiros, e poucos carvalhos ou
castanheiros. Porém, quase todas dão vinho verde, por razão das
vides que em si tem.
Tem,
neste meu distrito, as pontes de Pombeiro, Ponte Nova, Ponte das
Caldas, Ponte de Negrelos e estas de cantaria e de pau. Tem a da
Ribeira, a da Senra e a de Vila Fria e entendo que em toda a sua
distância muitas mais pontes terá.
Consta-me
que tem muitos moinhos e azenhas em toda a sua distância, porém,
não sei, nem ouvi, que nele se achasse algum dia, nem ao presente,
ouro ou prata.
Consta-me
também que alguns lavradores regam os seus campos com as águas
deste rio, se com pensão ou livres, não o sei.
Pouco
mais ou menos, desde que nasce este rio, até se meter no mar, 14 ou
15 léguas de comprido ou distância, é que terá.
Isto é o
que posso informar desta minha freguesia a respeito dos
interrogatórios inclusos. Passa na verdade, o qual assino e vai
assinado pelo reverendo Miguel Soares da Costa, vigário de São
Lourenço de Calvos, e o reverendo Francisco Leite Soares, vigário
de São Cristóvão de Abação, ambos vizinhos desta minha igreja.
Santa
Maria de Gémeos, 18 de Maio de 1758.
O vigário
Miguel Soares da Costa.
O vigário
Francisco Leite Soares.
O abade
José Filipe da Costa.
“Gémeos”,
Dicionário Geográfico de Portugal
(Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo,
vol.
17, n.º31,
p. 159 a 163.
[A
seguir: Calvos]
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