Em
1758, o território de S. Martinho de Leitões repartia-se por três
concelhos, Guimarães, Barcelos e Braga, dependendo do corregedor de
Guimarães, da Casa de Bragança e do arcebispo de Braga.
Nesta
freguesia,
“na
serra da Curviã, no sítio da Fonte da Moura, à parte do Poente,
nasce uma fonte que dá princípio ao rio Pele”, que
vai desaguar no Rio Ave, depois de passar junto ao mosteiro de
Landim.
Segund
o pároco de 1758, os montes que rodeiam a freguesia, “por suas
qualidades serem de temperamento frio, não tem ervas medicinais, têm
em si caça de perdizes, coelhos e algumas lebres e umas avezinhas
chamadas lavercas, que cantam muito bem nas gaiolas”. As lavercas
são as cotovias.
Leitões
Freguesia
de
São Martinho de Leitões.
1.
Acha-se esta freguesia situada na Província do Minho entre Braga e
Guimarães e pertencente a três termos, a saber, Guimarães, Braga e
Barcelos, e a maior parte dela é termo de Guimarães, comarca de
Guimarães e Arcebispado Primaz de Braga. Dominam nela, no secular,
corregedor de Guimarães, Casa de Bragança e, no termo de Braga, os
Senhores Arcebispos da mesma. E se acha demarcada com marcos de armas
da mesma sereníssima Casa de Bragança e os montes repartidos sem
provisão e outros maninhos.
3. Tem em
si, moradores, lavradores e pessoas de sacramento, duzentos e vinte e
cinco.
4. Está
situada em monte e vale apelidados de Outinho e Curviã e dos mesmos
se descobrem serras do Bispado do Porto, Amarante e todo o Refojos de
Riba Ave que, em partes, distarão dez léguas o que compreende à
vista. O Monte Curviã tem seu princípio na freguesia de São
Silvestre de Requião e finaliza pelo Reino de Galiza dentro.
6. A
paróquia e templo da igreja se acha situada entre vizinhos. Tem
lugares os seguintes: Reguengo, Samoça, Barreiro, Souteiro, Cabo,
Souto, Rio, Cosconho, Monte, Eiroses, Portela, Insulas, Ribeiro,
Torcalim, Telhado e Quintãs, que são dezasseis.
7. O
padroeiro é o senhor São Martinho. Tem a dita igreja três altares,
a saber, no maior está colocado o referido padroeiro, Santa Rita,
São Gonçalo e Santo António e Menino Jesus. No colateral, à parte
do Norte, se acha colocado o Santíssimo Sacramento. E, no da parte
do Sul, se acha a imagem de vulto com o epíteto do Rosário e São
Sebastião e Senhora, também com epíteto da Expectação. Há uma
irmandade erecta de novo, debaixo da protecção do mesmo Santíssimo,
que terá quarenta irmãos.
8. O
pároco é vigário e é apresentado pelo Reverendo Doutor Prior de
São Vicente de Fora da cidade de Lisboa, confirmado pelo senhor
ordinário de Braga, e renderá para os padres, anualmente, duzentos
mil réis, e, para o vigário, trinta.
15. Os
frutos que a terra produz em mais abundância vêm a ser milho
chamado maís, grosso, centeio, milho miúdo e vinho muito verde,
trigo, muito pouco.
16. Não
há juiz ordinário, nem pedâneo. Governam os juízes de fora, de
vara branca, assim o de Guimarães, como o de Barcelos, que se acham
demarcados como acima digo. Nestes limites não há notícia de
homens de distinção assim de letras, armas ou virtude conhecida.
20. Os
moradores desta freguesia se correspondem pelos correios assim de
Braga, como pelo de Guimarães, que ambos distam desta légua e meia,
com pouca diferença, e, da Corte de Lisboa, ao pé de sessenta.
22. Não
há privilégios, só um que chamam das Tábuas Vermelhas de Nossa
Senhora da Oliveira da vila de Guimarães.
23. Há
águas usuais, sem virtude especial, mui alvas, por quase todas
nascerem de pedras e serras.
26. Pela
bondade da omnipotência Divina, não houve naufrágio algum naquele
dia do terramoto.
E não há
mais coisa alguma digna de memória nesta dita freguesia que tem seu
princípio vindo da cidade de Braga. Que, da banda do Norte para o
Nascente, principia no sítio da Serrana e acaba no Reguengo. e terá
de comprido, de Nascente para o Norte, um grande quarto de légua, e,
de largo, de Norte a Sul, o mesmo quarto de légua. É terra montuosa
e fria.
4. Na
serra da Curviã, no sítio da Fonte da Moura, à parte do Poente,
nasce uma fonte que dá princípio ao rio Pele, e também do outro
sítio, da banda do Nascente, chamado Penisalça, nasce outra fonte
ordinária, que ambas juntas dão princípio ao dito rio Pele, que
daqui vai girando ao chamado rio Ave e se mete no mesmo junto à
ponte de Lagoncinha e passa pelo Mosteiro de Landim, de cónegos
regulares, onde tem engenhos de azeite, vários moinhos e azenhas,
junto ao dito Ave, que daqui dista três léguas, correndo de Norte a
Sul.
9. Nestes
ditos montes, por suas qualidades serem de temperamento frio, não
tem ervas medicinais, têm em si caça de perdizes, coelhos e algumas
lebres e umas avezinhas chamadas lavercas, que cantam muito bem nas
gaiolas.
E suposto
não falo a todos os interrogatórios na ordem apontada, é por não
ter que dizer, nem que a eles responder. Passa na verdade e sendo
necessário in
verbo sacerdotis, São
Martinho de Leitões e Maio 22 de 758 anos.
O vigário
José Rebelo de Matos e Araújo.
O vigário
Manuel Freire Pedrosa.
Francisco
Rodrigues da Silva Mendes Perigo.
O abade
Diogo Manuel de Lima Melo.
“Leitões”,
Dicionário Geográfico de Portugal
(Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo,
Vol. 20, n.º
73, p. 553 a 556.
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