Memórias Paroquiais de 1758: Corvite

Igreja de Santa Maria de Corvite.

Na Memória paroquial que escreveu em 1758, o pároco classifica Corvite como “terra salutífera e de bom temperamento”. Todavia, tais qualidades não têm impedido que esta freguesia vá andando de maço para cabaço, com sucessivas anexações, desanexações e reformas administrativas cuja lógica, as mais das vezes, escapa à nossa compreensão. Em 1896 foi anexada a Fermentões, depois passou para a freguesia de S. João de Ponte, em 2004 recuperou a independência, para ser extinta em 2013 e agregada a Santo Tirso de Prazins. Até ver.
A igreja descrita em 1758 é do século XVI, aparentemente reconstrução de uma outra mais antiga. Fica no meio de campos e é especialmente notável pelas suas raras e belas pinturas a fresco que estão no seu interior, representando, por exemplo, o martírio de S. Sebastião e os mistérios da Anunciação, da Purificação e da Maternidade. Estes frescos serão sobrevivências da igreja original, que já existia em meados do século XIII.

Igreja de Santa Maria de Corvite ( pormenor dos frescos).


Corvite
Informação de uma ordem que me foi entregue do Muito Reverendo Senhor Doutor Provisor da Relação de Braga Primaz.
Na Província de Entre-Douro-e-Minho, termo de Guimarães, Arcebispado de Braga Primaz, se acha a freguesia de Santa Maria de Corvite. Está a igreja situada num vale de monte. Para a parte do Norte, não se descobre deste sítio povoação alguma, só, sim, algumas terras de aldeia, para a parte do Poente e Norte, pouco mais ou menos duas léguas de terra.
Tem esta freguesia cento e cinquenta pessoas de sacramento e os lugares que tem próximos à igreja é a casa de residência, o Assento, e os que há nesta freguesia mais remotos são Tarrios, Passinhos, Cartas, Tulha, Ribeiras, Cancela, Fragosos, Bouça, Fundo, Frijão, Carreira, Sobreira e Souto de Ribas.
Tem esta igreja três altares. No altar maior está colocada Nossa Senhora da Expectação, padroeira desta igreja, a qual tem sua irmandade, e, no altar da parte do Nascente, está São Sebastião e, no outro, São Caetano. O pároco desta igreja é vigário ad nutum, apresentação do Arcediago de Santa Cristina de Longos. Renderá, para o dito arcediago, cento e setenta mil réis e, para o vigário, doze mil réis, que lhe paga o rendeiro.
Não há nesta freguesia beneficiados, conventos, hospital, casa de misericórdia, nem ermidas.
Os frutos que mais comummente colhem os lavradores desta terra são milhão, milho branco, centeio, painço e algum trigo, feijões de várias castas, e também fabricam vinho verde, em quantidade.
É sujeita esta terra ou seus moradores à Câmara e justiças de Guimarães e não tem couto, nem concelho, nem goza de alguns privilégios ou honras. Não há memória de homem algum que florescesse por Armas ou Letras que desta freguesia fosse nascido. Também não há feira alguma, nem correio e servem-se os moradores desta pelo de Guimarães, que chega no domingo e parte na sexta.
Desta freguesia a Guimarães será distante meia légua, e a Braga, duas léguas e a Lisboa, sessenta, pouco mais ou menos.
Nesta freguesia há várias fontes, mas sua água não é de especial qualidade, só, sim, com ela regam os moradores seus frutos e não passa rio algum por esta freguesia, pelo que não tem moinhos e fica esta terra distante do mar.
Não padeceu ruína alguma esta terra no terramoto, Deus louvado.
Não há serra célebre de que se possa dar notícia, nem que se achem metais, nem pedra de estimação, nem há ervas que sirvam de medicina especial.
É esta terra salutífera e de bom temperamento. Nela se criam alguns gados e se caçam alguns coelhos e perdizes. Não há fojos, nem lagoas e, finalmente, não há coisa notável de que mais dê notícia, o que passa na verdade.
Santa Maria de Corvite, cinco de Maio de mil setecentos e cinquenta e oito anos, e vai esta assinada pelos dois reverendos párocos vizinhos e por mim, o vigário que de presente sirvo nesta igreja.
O vigário Domingos de Macedo.
O pároco de S. Cláudio do Barco, Francisco Gomes Luís.
O abade António José de Araújo.

Corvite”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 42, n.º 400, p. 2739 a 2740.




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