Entre as muitas dúvidas que me suscita o tão mal explicado parque de quatro pisos
que vai descaracterizar o interior do quarteirão Caldeiroa-Camões, há uma que,
desde há algum tempo, tem vindo a aumentar: afinal, o parque vai ser pago ou vai
ser gratuito?
Tinha como adquirido que o estacionamento num parque com aquelas
características implicaria pagamento. Dentro da lógica da política de
estacionamento que, desde há muito, se desenvolve na cidade de Guimarães (como
em qualquer outra cidade) não ousaria cogitar outra hipótese. No entanto, um
comentário colocado há alguns dias num texto meu, por um amigo que tenho por
bem informado, levantou a ponta de um véu cuja existência desconhecia. Dizia
esse meu amigo que “os moradores do quarteirão e arredores vão ter parque
gratuito”.
Para mim, era novidade. Fui procurar informar-me melhor. O que
encontrei deixou-me como o rei do Gonzalo
Torrente Ballester: pasmado. Percebi que tenho andado distraído. E que não sou
o único.
Na informação que a Câmara Municipal divulgou em 20 de Outubro de
2017, anunciando que as obras do para a construção do parque se iriam iniciar, anuncia
que o mesmo iria “permitir a
gradual pedonalização do Centro Histórico, disponibilidade de aparcamento gratuito
aos seus moradores”. Ou seja, a crer nesta informação, uma parte dos
moradores de Guimarães, os do Centro Histórico, teriam direito a usufruir, sem custos, de lugares de aparcamento na Caldeiroa, o que não bate certo
com informações que me chegam de amigos que moram na rua de Camões que já teriam
sido sondados para manifestarem o seu interesse na subscrição de lugares de
aparcamento no mesmo parque, a troco de uma mensalidade módica (especialmente módica, se atendermos
aos milhões que vão ser enterrados na construção daquele parque).
Procurando um pouco mais, chego ao mais ostensivo instrumento de
manipulação política em tempo de campanha eleitoral de que tenho memória em
Guimarães, e que já foi desmontado no blogue Não
deixem matar a Caldeiroa: um vídeo, com recurso a imagens colhidas com um
drone e a realidade virtual, que promete mostrar “como vai ficar” o “futuro Parque de
Estacionamento Camões”, apresentado nas vésperas das últimas eleições autárquicas pelo
partido cujo primeiro candidato era o presidente, entretanto reeleito, da Câmara
Municipal de Guimarães. No texto que apresentava aquela peça, leio que o parque será:
E pergunto:
Em que ficamos? o parque será pago, como seria
suposto, será “gratuito aos moradores do Centro Histórico”, como disse a
Câmara, ou, simplesmente, gratuito para todos, como prometeu o Partido Socialista
na campanha eleitoral?
Se for gratuito só para os moradores do Centro Histórico, será
justo perguntar: e então os moradores da cidade que não habitam o Centro Histórico e que
também não têm onde estacionar? E os que vivem espalhados pelas freguesias do concelho e que se têm que deslocar à cidade? Será que vamos ter cidadãos de primeira e
cidadãos de segunda?
E se este parque for gratuito, seja para todos ou apenas para os
moradores do Centro Histórico, ficará tudo como até aqui, nos restantes espaços de
aparcamento da cidade, cobertos ou a céu aberto?
Em que momento é que foi decidida a gratuitidade do parque?
Para quando a divulgação do tal “modelo de gestão” que tem “em conta a prioridade a dar aos moradores”?
Informação da Câmara Municipal de Guimarães de 20 de Outubro de 2017 |
Publicação do PS Guimarães no Facebook em 19 de Setembro de 2017. |
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