Antigos Paços do Concelho de Guimarães (fotografia do início do século XX). |
A fotografia que vai aí acima está disponível no site Gallica, a biblioteca digital da Biblioteca
Nacional de França. Faz parte de uma colecção de 767 fotografias de Espanha, de
Portugal e do Rossilhão (Catalunha Francesa), do casal de arqueólogos franceses
Marcel e Jane Dieulafoy. No respectivo inventário, a colecção tem a data de
1922, mas as fotografias são seguramente anteriores, já que Jane Dieulafoy
faleceu em 1916 e Marcel a seguiu em 1920. Terão sido obtidas quando o casal
andou por Portugal, no tempo em que preparava o livro Art in Spain and Portugal, que foi publicado em 1913. Podemos, portanto,
datar a fotografia dos primeiros anos do século XX. Uma pesquisa posterior permitiu-nos
perceber que o Centro Português de Fotografia tem uma outra reprodução desta
fotografia, menos cortada em ambos os lados, mas a cópia que encontrámos na
internet é de muito fraca qualidade.
À primeira vista, a fotografia nada acrescenta ao que já
conhecemos do edifício dos antigos Paços do Concelho de Guimarães. Porém, uma
observação mais atenta, dá-nos assunto para alongar a conversa.
Atentemos nos detalhes.
Entrada da rua dos Açoutados no início do século XX. |
Desde logo, na outra esquina da Viela dos Açoitados anunciava-se ‘cerveja
alemã / cerveja inglesa’ (na fotografia do CPF aparece uma terceira linha no anúncio,
que não conseguimos ler, cuja primeira palavra também é ‘cerveja’).
Pormenor da fachada dos Paços do Concelho de Guimarães, no início do século XX e na actualidade. |
Por outro lado, salta aos olhos que a Casa da Câmara ainda não tinha sido descarnada, para colocar a pedra à mostra e dar-lhe um ar mais “rústico”. No início do século XX, como já notámos várias vezes, a fachada estava rebocada, embora não se consiga perceber de que cor estava pintada.
Varanda dos Paços do Concelho de Guimarães, no início do século XX e na actualidade. |
É também visível que o gradeamento da varanda era muito diferente do actual. Uma obra mais
ajustada à tradição e aos méritos da arte do ferro forjado vimaranense. Mais fino e elegante.
Por fim, o Guimarães. Fixemos a sua imagem numa fotografia actual:
O Guimarães (fotografia actual). |
Agora, reparemos no que aparece na fotografia que estamos a observar:
O Guimarães (pormenor da fotografia do início do século XX que encima este texto). |
À primeira vista, o que lá se vê de diferente pareceu-me uma
mancha na imagem, como tantas outras que nos irritam quando trabalhámos com fotografias antigas. Olhando com
atenção, percebe-se que pode não o ser. Vendo bem, o que o Guimarães segura na mão
não é uma lança, como a que empunha hoje, mas uma espécie de alabarda (uma
lança atravessada, perto da sua extremidade superior, por uma espécie de
machado).
E é mesmo uma alabarda, como se confirma na fotografia seguinte,
que deve ter sido tirada pela mesma altura da que publicámos aí acima.
Antigos Paços do Concelho de Guimarães (fotografia do início do século XX). |
Resta saber quando (e porquê) a alabarda foi convertida na lança que agora vemos nas mãos do Guimarães…
O Guimarães (pormenor da fotografia anterior). |
PS: Segundo informação a que acedi por via de Nuno Saavedra, a fotografia tem a data de 1903 e é obra do fotógrafo Emílio Biel. Já foi publicada no Facebook por Francisco Nunes. A linha que não conseguia identificar no letreiro da entrada da rua dos Açoutados diz: Cerveja Schrek (ou Schbek).
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