O antigo Teatro Baquet, no Porto (fachada voltada para a rua de Santo António/31 de Janeiro) |
Entre
finais do século XIX e as primeiras décadas do século XX, antes do advento de
outros meios de informação mais imediatos, como a rádio e a televisão, a imprensa
tinha uma grande força na informação e na formação da opinião pública. Em Março
de 1888 publicavam-se em Guimarães três jornais, o Religião e Pátria, fundado em 1862, que se apresentava como “religioso,
político e noticioso” e se publicava à quarta-feira e ao sábado, O Comércio de Guimarães, à época sem
rótulos quanto à sua orientação, que saía às segundas e ás quintas, e O Zirro, “folha satírica e literária”,
quinzenário fundado em 1887 pelo Padre José António Fernandes, que ficaria
conhecido como o Padre José Zirro e que teria publicação algo irregular,
extinguindo-se ao 13.º número. Com a chegada do telégrafo, na década de 1860, as
notícias do país e do mundo passaram a chegar a Guimarães bastante com muito
maior actualidade do que antes. Assim se explica o Religião e Pátria ter dado a notícia da tragédia do Baquet na
edição do dia em que o teatro ardeu. Na sua edição de 24 de Março, relata o
incêndio do Porto com mais desenvolvimento.
O incêndio no teatro Baquet.
Desceu
o pano.
Acabou
o drama de que o Porto foi teatro, — drama sangrento, horrível, o mais tétrico
e horrível que se pode imaginar. A pena treme ao descrever a fúnebre tragédia,
e a memória sente-se como que duvidosa, se a catástrofe se deu ou se foi um sonho
de pesadelo!
E,
na verdade, mal se pode imaginar um instante no fúnebre drama!
Um
vasto recinto cheio de pessoas; um violento incêndio destrói rapidamente o edifício:
todos tratam de escapar à morte, e, em tal caso, todos os meios de salvação são
lícitos: avançam corpos sobre corpos, e enquanto uns querem avançar para se escapar,
outros os seguram nas agonias da morte e lá ficam ambos; pais, filhos, parentes
e amigos, e outros por caridade, chegam-se para salvar algum dos desgraçadas, e
também lá ficam vítimas da sua dedicação!
Completou
todo o drama imensamente horroroso uma derrocada que parecia dizer: Morre aqui
tudo porque eu assim o quero. E morreu! Oh Deus!... E os inocentinhos?!...
São
para cima de 100 os cadáveres. Os pertencentes à cidade do Porto já são
conhecidos, mas os estranhos?...
Depois,
a cena lugubremente patética. Dezenas de cadáveres disformes, choros, luto, e casas
fechadas porque desapareceram os seus habitantes...
Oh!
que horrível! A ponte do Douro na invasão francesa; o naufrágio do vapor Porto;
e o incêndio do teatro Baquet, é a trindade memorável do Porto na perda de
vidas.
Religião
e Pátria, 24 de Março de 1888
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