Farol na Penha (fotomontagem sobre fotografia do início do séc. XX). |
Há pouco mais de um ano, escrevia num texto destinado a uma
exposição de fotografia dedicada à Penha, promovida pelo Cineclube de
Guimarães:
Cidade que se preze da sua condição tem que ter a sua montanha sagrada, um promontório onde a terra se introduz pelo céu adentro. A de Guimarães chama-se Santa Catarina, mas o povo deu-lhe nome de pedra bruta, de rochedo, inamovível e imutável: é a Penha, o triângulo rochoso que o homem pintou de verde e que se recorta no horizonte, servindo-nos de farol sempre que nos aproximámos de casa. Pelo seu corpo, de compleição rude e bravia, emaranham-se as veias por onde escorre, essencial e límpida, a água que sustenta de vida a terra e as gentes que se dispersam pelo território que se estende a seus pés. A Penha é a varanda onde, nos dias calmosos e de céu límpido que se seguem às tempestades, o nosso olhar se espraia pelas lonjuras do horizonte e alcança o mar.
É verdade que, quando falava de um farol, usava uma metáfora, na tentativa de exprimir a ideia
de ser a Penha primeira imagem que nos surge sempre que nos regressámos de
Guimarães. Porém hoje, quando arrumava umas pastas com recortes, encontrei uma
pequena notícia que saiu no jornal O Comércio de Guimarães de 26 de Março de
1888, onde se lê
Acendeu-se ontem pela primeira vez o farol que o snr. Albano
Belino mandou colocar no ponto mais culminante da Penha.
O farol apenas se descobriu depois das 10 horas, em virtude da
densa neblina que envolvia a nossa formosa estância.
Às 11 horas, quando a noite se tornou mais clara, observavam-se
distintamente as cores — verde, branco e vermelho, à medida que o farol
circulava sobre a sua coluna tríplice.
O efeito era magnífico.
Felicitámos o nosso bom amigo snr. Albano, pela sua bela lembrança.
Afinal, sempre chegou a haver um farol na Penha. Teve inauguração no dia 25
de Março de 1888, domingo, e não há notícia de que tenha voltado a
iluminar-se (os dias que se seguiram foram de tempo adverso, com vendavais assustadores,
tendo chegado a cair um formidável nevão
na manhã do dia 27). O responsável pela iniciativa, Albano Belino, era dado a
algumas extravagâncias.
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