Saindo do Toural na direcção do monte
Cavalinho, no largo que, desde 1953, ostenta o nome do musicólogo vimaranense Bernardo
Valentim Moreira de Sá, abrem-se duas ruas descendentes em direcção ao rio de
Couros. A que corre pelo lado do poente é a rua Caldeiroa ou, mais
simplesmente, a Caldeiroa. Trata-se de uma das ruas mais antigas dos arrabaldes
do velho burgo vimaranense, aparecendo, já com essa designação, na documentação
medieval. Tem-se pretendido explicar o seu nome com o facto de ter sido uma rua
onde, no passado, se concentraria a actividade de caldeireiros e latoeiros. Todavia, não há
nada que autorize tal conclusão, excepto o que o nome sugere. A. L. de
Carvalho, nos seus Mesteres de Guimarães
(vol. V, pág. 81), escreve:
Temos nos topónimos de ruas uma artéria
designada, desde o século XIII, — Rua da Caldeiroa. Não falta quem lhe queira,
por esse facto, dar as honras de artéria onde poisaram caldeireiros. Tanto não
avanço.
A investigação sistemática de Maria da
Conceição Falcão Ferreira deu razão às cautelas de A. L. de Carvalho. Testemunha,
no seu Guimarães — duas vilas, um só povo
(pág. 574), que foi em vão que procurou na documentação medieval a presença nesta
rua de artesãos que se dedicassem ao fabrico de caldeiras e de artefactos afins:
“nem um só, pela Caldeiroa e Molianas”.
Em boa verdade, a única actividade artesanal
que aqui conseguimos identificar pelos vestígios arqueológicos que
sobreviveram, é a da curtimenta das peles. Os pelâmes identificados na Caldeiroa permitem-nos perceber que o território dos couros se estendia para além do bairro
da indústria dos couros, cujos limites, em bom rigor, se estendem até à Madroa.
É verdade que agora existe uma muralha de pedra a separar a Caldeiroa do Relho
e da rua de Couros, que se levantou para sustentar a actual avenida D. Afonso
Henriques, traçada para ligar a estação do comboio ao Toural. Porém, até ao
final do século XIX, não havia qualquer descontinuidade física entre estes
espaços. Ambos marginavam o curso de água que alimentava o tratamento das
peles: na cota mais baixa do seu traçado, a Caldeiroa encontra-se com o rio de
Couros, que agora vai correndo encanado. Em tempos chuvosos, também aí são (eram?) frequentes as inundações.
Na década de 1890, a Caldeiroa foi
alteada com pedra proveniente da demolição da antiga igreja de S. Sebastião, cuja torre sineira foi transplantada para a igreja paroquial de Creixomil.
No início da década de 1940 foram
removidos da Caldeiroa um fontanário e um oratório, onde estava exposta uma
imagem de Cristo que, na altura da remoção, foi entregue ao pároco de S.
Sebastião.
A Caldeiroa é uma das ruas mais antigas
de Guimarães. No final do ano de 1910, a República recém-instalada mudou-lhe o nome,
passando a designar-se oficialmente por rua Dr. Trindade Coelho. Mas o povo, como de
costume, não foi de modas e continuou a chamar-lhe pelo nome que sempre lhe
conheceu. Até que, em 1943, em tempo de refluxo da ordem republicana, a Câmara voltou
a tornar oficial o topónimo histórico desta velha rua.
Caldeiroa continua a ser. Apesar de ninguém
saber explicar de onde lhe veio tal nome.
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