És tu, Banco do Minho,
que nos levas a água e as minas de petróleo?
O petróleo, oh! sim!... e não bastava isto:
no cofre forte achaste — oh! grande, imensa sorte! —
do petróleo ao pé a água que, pelo visto,
não é água vulgar, mas antes... água forte...
Gaspar Roriz, Bando Escolástico de 1924
O excerto do pregão do pregão nicolino
recitado no dia 5 Dezembro de 1924 que vai acima há muito que me intrigava. O é
que o bom do padre Roriz quereria dizer com aquela imagem do petróleo achado no
cofre forte do Banco do Minho? Na altura em que li o pregão pela primeira vez,
depois de gastar algum tempo a tentar perceber qual o segundo sentido que se
figurava naqueles versos, acabei por desistir, conformando-me a ficar sem
perceber. Por estes dias, ao procurar notícias sobre a Escola Industrial,
fiquei a perceber que, afinal, a referência a minas de petróleo não era
figurada, mas sim literal.
No dia 13 de Agosto de 1924, quando
os pedreiros trabalhavam na obra de rebaixamento do prédio onde anteriormente
estivera de portas abertas o botequim do Fernandes, mais tarde rebaptizado como
o Café da Porta da Vila, para aí ser instalada a agência do Banco do Minho,
encontraram o que parecia ser “uma nascente de Petróleo em Guimarães”.
Transcrevo parte da notícia
publicada no Comércio de Guimarães do dia 15 daquele mês:
Na quarta-feira passada, os pedreiros,
pelas 9 horas da manhã, quebraram um enorme rochedo ali existente, brotando,
acto contínuo, um líquido que pela sua cor, e cheiro, nos faz supor tratar-se
duma nascente ou veia de petróleo!
Muitas pessoas envolveram trapos no
líquido, chegando-lhe o fogo, ardendo esplendidamente.
Houve também quem o lançasse em
candeeiros, e garantem-nos que arde bem.
Que será? Foi uma constante romaria
para presenciar o caso, sendo o assunto obrigatório de todas as conversas.
Foram retiradas amostras para se
proceder a análises, ficando suspensas as obras.
Correm várias versões, mas a todos
nos cumpre aguardar o resultado das análises que se não devem fazer esperar.
Dos resultados de tais análises
ainda nada descobri. Mas devem ter sido promissoras porque, dois meses mais
tarde, houve notícia de que a direcção do Banco do Minho pediu autorização para
“proceder a pesquisas na mina de petróleo que há tempos apareceu em Guimarães”.
Até ver, não encontrei mais
referências a tal achado, mas estou certo de que haverá por aí quem guarde
memória da existência de uma “nascente de petróleo” no local por onde passava a
antiga muralha de Guimarães. Caso por estes dias se viesse a confirmar que há
mesmo petróleo na Porta da Vila (o tal prédio está novamente em obras…), sou
capaz de antever uma das mais palpitantes trocas de argumentos sobre economia e
património...
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