O fervor que os
membros da Sociedade Anti-Fumista de Guimarães colocavam na sua causa deram
origem a uma acesa discussão nas páginas dos jornais, onde não faltavam as notas
do bom humor. O autor das Cartas dum anti-fumista,
que durante algum tempo se publicaram em O Comércio de Guimarães, deu conta, na sua crónica de 30 de
Setembro de 1904, dava conta de um bilhete postal ilustrado que lhe tinham
mandado, que revela em quem o enviou, um
espírito finamente engraçado, que sabe brincar sem ofender.
Representa o postal um infante de cuecas,
fumando um enorme cigarro.
Acompanham-no duas quadras, das quais
a primeira reza assim:
“Não se cansem,
meus senhores,
Que por um
anti-fumista
Surgem trinta
fumadores
Como este que tem
à vista.”
Embora não o
postal não viesse assinado senão por um anti-fumista
in herbis, não será muito difícil de adivinhar que os seus autores eram os
irmãos João (as quadras) e José de Meira (a ilustração).
Da pena de João
de Meira são também os versos com os Prantos
de um cigarro High-Life, distribuídos num folheto não assinado, onde um cigarro se lamenta do abandono para que
foi atirado pelos nove fundadores da Sociedade Anti-Fumista. Aqui fica.
PRANTOS DE UM CIGARRO HIGH-LIFE
Oferecidos à SOCIEDADE ANTI-FUMISTA
GUIMARÃES
6 DE DEZEMBRO DE 1904
Reverendo Roriz, que triste sorte,
Que amarga vida levo
sem cessar,
Des’que a guerra
cruel, guerra de morte,
Contra mim não acabas
de pregar!
Que mal te fiz, que
mal te fiz, diz lá ?
Para me ter’s um ódio
assim tão louco?
Tinhas tosse e pigarro
de manhã?
Só por isso, meu padre,
era bem pouco.
E tu meu João Lopes, meu amigo,
Companheiro fiel de tantos
anos,
Vinhas, há pouco,
espairecer comigo,
Não cessas, hoje, de
causar-me danos.
Jerónimo Sampaio, meus queixumes
Queira Deus, que o
bom Deus jamais esqueça:
E por cada cigarro
que não fumes,
Um cabelo te caia da
cabeça!
António do Amaral, és inda moço,
Deixaste-me num’hora
de folia.
Mas ainda hás-de ver
o quanto posso.
Pra cá virás, p'ra cá
virás um dia!
Quem te viu, padre Amândio, e quem te vê!!!
Já tanto me aborreces
e me enjoas,
Que voltando um
instante à minha fé,
Logo dás de penitência
cinco c’roas!
Freitas Costa Soares e Padre Abílio,
Alferes Brito e os
mais da associação.
Vós que me condenaste
a longo exílio
Um momento, arranjai
de compaixão,
Tende pena de rnim,
triste cigarro
Que a todos vós mer’ci
já confiança
E que bem penso que
outra vez a agarro:
É essa pelomenos
minha esp‘rança.
E agora terminando,
ingrata gente.
Ouvi as queixas e não
deis cavaco!
Dum cigarro que busca
docemente,
Anti-fumistas,
dar-vos p‘ra tabaco!!!
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