A Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira de Guimarães |
22 de Julho de 1798
Às 4 horas da tarde, faz a
sua entrada solene, na Real Colegiada, o D. Prior da mesma, D. Luís de Saldanha
e Oliveira, havendo passado 26 anos que era Prior e sem a ela ter vindo;
assistiu toda a nobreza, magistrados, religiosos e clero. Houve grandes festas
3 dias consecutivos. Tinha chegado a Guimarães às 11 horas da noite de um dos
dias antecedentes, entrando a essa hora na igreja orar à Padroeira, para o que
estava o padre sacristão à espera.
(João Lopes de Faria, Efemérides Vimaranenses,
manuscrito da Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento, vol. III, p. 62)
Guimarães nasceu no século X,
à sombra de um Castelo e de um mosteiro instituído por Mumadona Dias. No século
XII, o mosteiro transformou-se na Colegiada de Santa Maria de Guimarães, mais
tarde conhecida por Colegiada de Santa Maria da Oliveira de Guimarães. No
século XIV, A Colegiada da Oliveira atraía uma multidão de peregrinos e
romeiros, com em grande parte por força das notícias dos milagres que aconteciam
junto da oliveira da Praça Maior. Alguns reis de Portugal tiveram particular
devoção pela Senhora da Oliveira, cumulando a Colegiada e os seus membros com
privilégios que lhe davam uma condição próxima da das sés catedrais. O cadeirão
de prior da Colegiada de Guimarães, pelas rendas, prerrogativas e honrarias que
proporcionava ao seu titular era especialmente apetecido pelos membros da alta nobreza
portuguesa.
O D. Prior (o tratamento por
dom demonstra a dignidade do cargo) da Colegiada da Oliveira era titular, como
escreveu o Abade de Tagilde, duma prelazia
com jurisdição quase episcopal separada do ordinário e imediatamente sujeita à
Sé apostólica, isto é, ao Papa. Dependendo de nomeação do rei, a sua
dimensão política estava a par, quando não se sobrepunha, da religiosa. A este
nível, equiparava-se a bispos, arcebispos e cardeais.
O lugar de prior da Colegiada
da Oliveira era, geralmente, atribuído pelo rei como uma honra ou uma recompensa
concedida a membros da sua corte. Daí que não seja de estranhar a passagem pelo
cargo, ao longo dos séculos, de personagens destacadas da sociedade portuguesa cujos
serviços os reis quiseram retribuir. Médicos, por exemplo, como Pedro
Amarelo, médico de Afonso Henriques, Vicente II, médico de D. Fernando, Mestre
Pedro Hispano, também conhecido por Pedro Julião, médico de Afonso III, Mestre
Pedro, médico de Afonso III e do seu filho D. Dinis. Um deles, Pedro Hispano,
seria arcebispo de Braga, cardeal bispo tusculano, terminando os seus dias como
papa, João XXI.
Escreveu António Ferreira Caldas:
Escreveu António Ferreira Caldas:
De entre os seus priores, a Colegiada de Guimarães deu à Igreja um papa e três cardeais; a Braga, cinco arcebispos, dois
a Lisboa, um a Évora e um a Goa; quatro bispos a Lamego, quatro a Viseu, quatro
ao Algarve, três a Évora, dois a Lisboa e um a Angra, Ceuta, Coimbra, Funchal,
Leiria, Miranda e Porto.
Foram priores homens que exerceram
as funções de capelães e confessores do rei, inquisidores, membros do Conselho
Real, chanceleres-mores do reino, doutores em leis, com destaque para o Doutor
João das Regras, que teria um papel central na legitimação de D. João I como
rei de Portugal, príncipes, um vice-rei da Índia e dois vice-reis de Portugal (no
período filipino).
As mais das vezes, o D. Prior
era uma figura ausente. Vivia na Corte, ou mesmo fora do país, e governava a
Colegiada à distância ou através de um procurador.
No tempo do Marquês de Pombal,
o lugar de D. Prior é, mais do que nunca, um cargo de nomeação política, usado a
seu favor pelo todo poderoso ministro de D. José I.
Em 1752 foi publicado o documento
de legitimação dos Meninos de Palhavã,
assinado por D. João V dez anos antes. Eram eles três filhos varões (as
raparigas não tiveram a mesma sorte) bastardos do rei absoluto. Um deles seria
arcebispo de Braga, outro doutor em teologia e o terceiro, o mais novo, José, também
doutor em teologia, seria nomeado pelo seu irmão rei, em 1753, para Prior da Colegiada
de Guimarães. No entanto, porque não gozava das simpatias do Marquês de Pombal,
acabaria por não tomar posse do lugar. Em 1758, era inquisidor-mor. Em 1760, seria
desterrado para o Buçaco, com um dos seus irmão, onde permaneceria dezassete
anos, até à morte do rei D. José I e ao afastamento de Pombal. Era filho da
Madre Paula do Convento de Odivelas.
Em sua substituição, o Marquês
de Pombal fez nomear o seu próprio irmão, Paulo de Carvalho e Mendonça. A
nomeação régia está datada de Março de 1762. Acumulou diversas funções (membro
do conselho do rei, presidente do conselho da rainha, membro do conselho geral
do Santo Ofício, comissário geral da bula, presidente da Câmara do Senado de
Lisboa). Morreu cardeal, embora sem ter exercido o cargo, porque a notícia da
sua nomeação pelo papa Clemente XIV só chegaria a Lisboa depois da sua morte,
que aconteceu a 17 de Janeiro de 1770.
A Paulo de Carvalho sucedeu
Domingos de Portugal e Gama. Nomeado em Março de 1770, fez a sua entrada solene
na igreja da Colegiada da Oliveira no dia 14 de Maio daquele ano. Na véspera,
passara procuração ao tesoureiro-mor da Colegiada, Luís de Saldanha e Oliveira,
seu sobrinho, para tomar posse em seu nome da cadeira de Prior. Depois de
alguns meses em Guimarães, regressou a Lisboa. Doente, foi a ares para Évora,
onde faleceu em 22 de Setembro de 1773.
Sucedeu-lhe o sobrinho, Luís de Saldanha, filho de António de Saldanha de
Oliveira, morgado de Oliveira, e de sua mulher D. Constança de Portugal, e
irmão do primeiro conde de Rio Maior. Era tesoureiro-mor da Colegiada, por
nomeação de Paulo de Carvalho, desde Abril de 1769. Era amigo pessoal do Marquês
de Pombal, que acompanharia até à hora da morte. A designação para Prior
aconteceu em finais de Setembro de 1773. Tomou posse do priorado de Guimarães a
28 de Dezembro, por procuração que passou a D. Bernardo Pinto de Seixas, bispo
de Bragança.
Dirigiu a Colegiada a partir de Lisboa, de onde escreveu ao Cabido em
Abril de 1774, pedindo autorização para requerer ao papa autorização para usar
renda dos benefícios da Colegiada para edificar uma nova igreja, porque era da
opinião de que a igreja da Oliveira não tinha feitio de templo. Iniciou-se então uma longa troca de
correspondência entre o Cabido e o Prior, a propósito dos seus projectos de
obras e dos meios de financiamento que pretendia utilizar. No início de 1796, a
discussão mantinha-se. O Prior deu conta da sua intenção de suprimir o lugar do
mestre-escola da Colegiada, para usar os respectivos rendimentos na construção
de uma nova igreja. Em resposta, o Cabido informou que não consentia a
supressão do lugar do mestre-escola nem a demolição da igreja da Colegiada, sem
que antes o Prior lhe desse conhecimento do projecto de nova igreja, para que pudessem
verificar de os meios da Colegiada eram ajustados às necessidades da obra. Estas
obras nunca se concretizaram, em larga medida porque os anos que se seguiram
foram tempos de guerra, sendo mobilizados todos os meios disponíveis para a suportar.
No dia 7 de Maio de 1799, o Prior conseguiu que lhe fosse passado um
decreto régio que o autorizava a demolir a capela de Santo Estêvão, situada no
exterior da Colegiada, transferindo-a para o interior, assim como o derrube da
casa do sacristão. Dois dias depois, foi emitido um alvará régio, que não
autorizava o pedido do Prior para proceder a demolições e novas edificações na
Colegiada, apenas autorizando obras de reparação.
No ano anterior, o Prior esteve em Guimarães pela primeira vez desde
que fora investido aquelas funções. No dia em que D. Luís de Saldanha e
Oliveira fez a sua entrada solene na Colegiada de Guimarães, já era o seu prior
há mais de um quarto de século. Foi no dia 22 de Julho de 1798. O acontecimento
foi assinalado com três dias de grandes festejos públicos. Durante a sua
estadia, anunciou ao Cabido um projecto para a substituição por bancos das
cadeiras da capela-mor da igreja.
D. Luís de Saldanha e Oliveira morreu em
Madrid, no dia 24 de Setembro de 1814.
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