O Toural (pormenor da planta de Guimarães de c. 1569). O ponteado junto às casas do Poente e do Norte representa as alpendradas. |
29 de Julho de 1744
Provisão régia, ouvida a
Câmara, autorizando D. Josefa Teresa Clara da Silva e Azevedo, viúva de
Jerónimo Vaz Vieira, tutora de seus filhos menores, a tapar o alpendre que
havia numas casas que comprou para juntar às que já tinha e onde vivia no
Toural, no qual havia uns penedos e era lugar escuro, e assim se aformoseava o
sítio e era cómodo para a sua família.
(João Lopes de Faria, Efemérides Vimaranenses, manuscrito
da Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento, vol. III, p. 81.)
A planta de Guimarães do
séc. XVI mostra-nos que boa parte das praças de Guimarães era circundada por uma
espécie de passeio coberto, formado pelos alpendres das casas que as
delimitavam. Assim acontecia no Toural, nas frentes que fechavam a praça a
Norte e a Poente. Escrevendo em finais do século XVII, o padre Torcato Peixoto
de Azevedo traçou uma descrição do Toural que seria replicada por muitos nos
séculos seguintes:
Toda esta Praça do
Toural é fechada de norte e nascente com o muro da vila. De nascente ao
vendaval é aberta e comunica com o terreiro de S. Sebastião. Do vendaval é
fechada com casas; e do vendaval a poente é fechada com casas de alpendrada
sobre colunas de pedra, e da mesma maneira do poente a norte.
(Torcato Peixoto de
Azevedo, Memórias Ressuscitadas da Antiga Guimarães, cap. 89, p. 21)
Em meados do século XIX,
Inácio de Vilhena Barbosa também escreveu sobre o Toural, que apelidou de Chiado de Guimarães, referindo-se aos
alpendres, entretanto desaparecidos:
Até ao período do
século XVIII […] as casas desta praça eram quase todas de alpendrada sobre
colunas de pedra, ao uso antigo. Nos fins, porém, desse mesmo século, e no
começo do seguinte, que é a época de maior prosperidade de Guimarães, pelo
grande desenvolvimento da sua indústria fabril e do seu comércio de exportação
para o Brasil, procedeu-se à construção de prédios, que deram à praça do Toural
um novo e mais grandioso aspecto.
(I. de Vilhena Barbosa,
in Archivo Pittoresco, 7.º ano (1864), p. 217)
Na margem do poente,
entre a embocadura da Rua Nova das Oliveiras (actual rua de Camões) e a da Rua
de Gatos (hoje rua de D. João I), estendia-se uma linha de casas com alpendres
virados para a Praça. Do lado do Norte, entre a da rua de Gatos e a Porta da Vila,
alinhava-se um outro renque de prédios alpendrados. O campo do Toural tinha
então uma dimensão um pouco maior do que a actual, uma vez que as casas
situadas a poente e a norte avançariam, ainda não tinham por cima dos
alpendres, que foram fechados, com a apropriação privada do espaço público.
Ao contrário do que sugere
Vilhena Barbosa, o fechamento dos alpendres do Toural não aconteceu entre
finais do século XVIII e princípios do século XIX, mas era um processo já em
fase avançada na primeira metade de setecentos, como o demonstra uma provisão
passada em 30 de Agosto de 1737, a um fidalgo da casa real, Alexandre de
Palhares e Brito, de Monção, que o autorizava a proceder ao tapamento dos
alpendres das casas que possuía no Toural, como já outras se taparam. Sete
anos mais tarde, temos notícia de uma outra provisão régia que também
autorizava o fecho de alpendres em casa do Toural, passada a favor de D. Josefa
Teresa, Viúva de Jerónimo Vaz Vieira. Neste caso, os alpendres que pretendia
tapar pertenciam a umas casas que tinha comprado junto daquelas que já possuía
no Toural, onde vivia, com o pretexto de que essa obra aformoseava o sítio e
era cómodo para a sua família. É de presumir que o alpendre da casa onde vivia
já estivesse fechado.
Na segunda metade do
século XVIII, a construção da Igreja de S. Pedro deve ter eliminado as últimas
casas alpendradas do lado do poente do Toural. O mesmo foi acontecendo às
alpendradas do topo norte da praça.
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