Aspecto da Exposição Industrial da Guimarães de 1884 |
26 de Julho de 1884
Às 6 horas da tarde, no
palacete de Vila Flor, é, com toda solenidade, encerrada a primeira exposição
industrial vimaranense, promovida pela Sociedade Martins Sarmento, presidindo a
este acto o governador civil do distrito, estando presentes a Câmara Municipal,
autoridades administrativas e judicias, comissão central, representantes da
imprensa e de corporações convidadas, bem como um selecto e numeroso concurso
de senhoras e cavalheiros.
(João Lopes de Faria, Efemérides Vimaranenses, manuscrito
da Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento, vol. III, p. 74)
A Exposição Industrial de
Guimarães, promovida pela Sociedade Martins Sarmento em 1884, constitui um
momento de viragem na configuração económica e social do concelho de Guimarães.
Quando a ideia da exposição foi lançada, pro Domingos Leite Castro,
pretendia-se assinalar a chegada do caminho-de-ferro a Guimarães com uma mostra
do trabalho concelhio. Porém, a ideia inicial evoluiria, passando a ser encarada
como um ponto de partida e principalmente o primeiro
passo para a reorganização das antigas indústrias de Guimarães. Finalmente,
quando abriu portas, no dia 14 de Junho de 1884 a Exposição impunha-se já
necessariamente, como a única resposta à preterição que o poder central nos fizera, omitindo a criação duma escola industrial na nossa cidade e ao silêncio
com que respondeu às representações que a este respeito lhe foram dirigidas.”
A primeira Exposição Industrial de Guimarães fechou portas no dia 26 de
Julho de 1884. Teve um extraordinário impacto público, que se reflecte no
destaque que a imprensa nacional lhe deu. Mas será que foram alcançados os objectivos a que se
propunha?
Transcrevemos o que, no dia 31 de Julho, o Abade de Tagilde escrevia no
jornal O Espectador,
A exposição industrial, que aí esteve patente ao exame de todos quantos
se interessam pelo progredir das coisas pátrias e na qual Guimarães adquiriu
por certo valiosas credências, que a hão-de tornar bem lembrada em todas as
ocasiões em que se trouxer à tela da discussão e do confronto os artefactos
portugueses, encerrou-se no sábado 26 pelas 6 horas da tarde.
Não foi uma utopia a ideia concebida, no seio da Sociedade Martins
Sarmento e embora as dificuldades surgissem e os desgostos viessem por vozes
entibiar o ânimo dos mais resolutos, os vimaranenses podem hoje sentir-se
ufanos pela realização dum plano, que há-de trazer-lhes natural e
inevitavelmente num futuro mais ou menos próximo os tão apetecidos
melhoramentos. Não é já um segredo para ninguém, Guimarães é uma terra
industrial de primeira ordem, aí está toda a imprensa do país a proclamar esta
verdade, que evidentemente hoje há-de ter calado no espírito dos mais
pessimistas.
Este convencimento traça porém para os industriais uma nova linha de
conduta, permitam que o digamos com toda a franqueza. Libertar os nossos
artistas da tutela em que se acham há muito, fornecendo-lhes a par da
necessária instrução, o suficiente capital para que eles de per si deem asas ao
seu génio trabalhador, desenvolvam as suas naturais aptidões com a esperança de
resultados mais profícuos, de lucros mais avultados e duma subsistência menos
precária, é por sem dúvida o
primeiro e o mias urgente benefício que da nossa Exposição deveria brotar.
Instruir e emancipar o nosso artista, eis, segundo o nosso pensar, o
problema que deveria resolver-se e em Guimarães não faltam, antes abundam, os
homens de inteligência e senhores de capitais que para este lado poderiam e
deveriam volver suas vistas, prestando assim um incalculável benefício à terra
que lhes foi berço.
Não descansar à sombra dos louros colhidos, mas haja união franca, leal e
desinteressada, como se expressou o Exa. o presidente da comissão central e as
nossas artes ocuparão o lugar de honra a que devem aspirar e que atingirão.
As nossas aspirações aí ficam e oxalá algum dia as vejamos realizadas.
(O Espectador, ano 1, n.º 39, Guimarães, 31 de Julho de 1884)
Guimarães não descansaria à
luz dos louros colhidos. Os tempos que se seguiram à exposição são tempos de
progresso das indústrias vimaranenses.
Antes da abertura da
Exposição de 1884, sobravam os dedos de uma mão para contar as fábricas que em
Guimarães já haviam introduzido a energia a vapor. Identificamos a fábrica de
cutelaria de Joaquim José de Oliveira e Silva Guimarães, da rua de Gil Vicente,
inaugurada no final de 1874; a Fábrica de Serralharia e Fundição Vimaranense de Almeida & Freitas, na mesma rua, com uma máquina de quatro cavalos
(produzia, segundo o Relatório da Exposição, fogões, camas, lavatórios, bombas,
grades de ferro, colunas, bancos, tubos, etc.). Quanto à produção de tecidos (cotins e riscados de algodão tingido, de
linho cru e tingido), diz o mesmo relatório:
O serviço é todo manual. Muitas vezes os pequenos fabricantes
vêem-se obrigados a vender com prejuízo, por falta de capitais, e os de maior
escala sofrem também grandes empates. Por isso a indústria não está tão próspera,
como o destino das fazendas e o baixo preço por que se vendem fazem supor à
primeira vista. Os teares mecânicos, movidos a agua ou a vapor, provocariam sem
dúvida um aperfeiçoamento da fazenda e permitiriam vender em melhores
condições.
(Relatório da Exposição Industrial de Guimarães em 1884, Porto, 1884, p. 51)
Os anos que se
seguiriam, em especial na década de 1890, seriam marcados por sucessivas
inaugurações de fábricas que trabalhavam com a força motriz das caldeiras de
vapor, em especial nas indústrias de fiação e tecidos (Companhia de Fiação e
Tecidos de Guimarães, em Campelos), cutelarias (Fábrica de Cutelaria, no Campo da Feira), pentes (Dias e Cerdeira), fundição
e serralharia a vapor (fábrica de Vicente Pinheiro, na Avenida da Indústria - actual
D. João IV).
Para que os objectivos da Exposição
Industrial de 1884 fossem integralmente cumpridos, faltava a ganhar a aposta do
ensino industrial. Mas 1884 não terminaria sem que fosse criada a Escola
Industrial Francisco de Holanda.
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