Efeméride do dia: Uma obra com enguiço (os Paços do Concelho de Marques da Silva)

Projecto de Paços Municipais de Marques da Silva, cuja construção esteve inicialmente prevista para  a Praça de S. Tiago
 27 de Junho de 1938
Segunda-feira.- Principiou a demolir-se o novo edifício, em construção, que era destinado para Paço do Concelho. Foi apenas duas paredes interiores.
(João Lopes de Faria, Efemérides Vimaranenses, manuscrito da Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento, vol. II, p. 307)

O projecto mais emblemática da Primeira República em Guimarães foi o da construção dos novos Paços do Concelho, cujos serviços há muito que não cabiam no edifício acanhado da Praça da Oliveira. No dia 2 de Janeiro de 1914, Mariano Felgueiras apresentou em reunião de Câmara várias propostas de melhoramentos urbanos, entre os quais se incluía a da construção de novas instalações municipais, porque ninguém desconhecia que “todas as repartições públicas deste concelho estão mal, ou antes, pessimamente instaladas e que a casa que serve de sede para a Câmara Municipal é absolutamente imprópria, sob todos os pontos de vista sem excepção de um único”. No verão do ano seguinte foi criada uma comissão que deveria escolher o terreno onde seria implantado o novo edifício dos Paços do Concelho. A decisão acabaria de incidir sobre a Praça de S. Tiago,implicando também demolições nas ruas do Gravador e do Espírito Santo. A polémica à volta desta escolha foi grande, mas não impediu que fossem estabelecidas as bases para o concurso para a concepção do projecto de edifício, que foram submetidas ao parecer da Sociedade dos Arquitectos Portugueses e do Conselho de Arte e Arqueologia Nacional.
Aberto o concurso, foram apresentadas onze propostas, das quais uma se destacou desde  logo, por, como se escreveu em O Comércio de Guimarães, “apanhar bocados dos nossos principais monumentos”, fazendo “lembrar a história desta terra, não esquecendo absolutamente nada”. Trata-se do projecto Ourique, apresentado pelo Arquitecto José Marques da Silva. Seria, sem surpresa, o vencedor. Estava-se então em finais de Novembro de 1916.

Estado das obras (paradas) da construção dos Paços do Concelho, no ano de 1950.
Mas a construção tardou em arrancar. Entretanto, havia sido abandonada a ideia de implantar o edifício de Marques da Silva na Praça de S. Tiago, pelas dificuldades que iria levantar, nomeadamente resultantes da necessidade de realojamento das famílias que ocupavam as casas cuja demolição estava prevista, mas também porque já então havia uma nova percepção quanto à necessidade de não descaracterizar o perfil urbano da zona histórica de Guimarães.
Luís de Pina apresentou um projecto de urbanização da zona que ficava a sul do Paço dos duques, que permitiu rasgar a actual praça de Mumadona e as ruas que para lá convergem. A ideia era instalar o edifício dos Paços Municipais na nova Praça.
Iniciam-se as obras. Em 1926, aquando do golpe militar que instaurou a Ditadura, a construção do novo edifício, a construção do edifício já estava ao nível do primeiro andar. Mas a obra estava parada, tornando-se em local escolhido para as brincadeiras dos rapazes ou para acampamento de ciganos.
As tentativas para conseguir o financiamento do Estado para retomar a obra iam sendo sucessivamente frustradas. Começam a alvitra-se alternativas. Que a Câmara se deveria instalar no paço dos Duques, para onde já estava prevista a instalação do museu Alberto Sampaio, do Arquivo Municipal e de uma Biblioteca. Que deveria ocupar o edifício abandonado do Teatro D. Afonso Henriques.
Depois de 1940, ainda se avançavam com novas possibilidades de localização dos Paços do Concelho concebidos por Marques da Silva. Nesta fotomontagem, está colocado no lado Norte do Toural.
Com o decorrer do tempo, começa a avançar-se com aquela que, para alguns, seria a única solução possível para se acabar com a visão daquelas ruínas de um edifício que parecia enguiçado: a demolição. Foi por isso que quando, a 27 de Junho de 1938, começaram a ser demolidas paredes interiores do edifício desenhado por Marques da Silva, se assumiu que se estava perante o seu derrube definitivo.

Não foi bem assim. A demolição final ainda tardaria meia dúzia de anos.

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