Projecto de Paços Municipais de Marques da Silva, cuja construção esteve inicialmente prevista para a Praça de S. Tiago |
Segunda-feira.-
Principiou a demolir-se o novo edifício, em construção, que era destinado para
Paço do Concelho. Foi apenas duas paredes interiores.
(João Lopes de Faria, Efemérides Vimaranenses, manuscrito da Biblioteca da Sociedade
Martins Sarmento, vol. II, p. 307)
O projecto mais emblemática da Primeira República em Guimarães foi
o da construção dos novos Paços do Concelho, cujos serviços há muito que não
cabiam no edifício acanhado da Praça da Oliveira. No dia 2 de Janeiro de 1914,
Mariano Felgueiras apresentou em reunião de Câmara várias propostas de
melhoramentos urbanos, entre os quais se incluía a da construção de novas instalações
municipais, porque ninguém desconhecia que “todas as repartições públicas deste concelho estão mal, ou antes,
pessimamente instaladas e que a casa que serve de sede para a Câmara Municipal
é absolutamente imprópria, sob todos os pontos de vista sem excepção de um
único”. No verão do
ano seguinte foi criada uma comissão que deveria escolher o terreno onde seria
implantado o novo edifício dos Paços do Concelho. A decisão acabaria de incidir
sobre a Praça de S. Tiago,implicando também demolições nas ruas do Gravador e do
Espírito Santo. A polémica à volta desta escolha foi grande, mas não impediu
que fossem estabelecidas as bases para o concurso para a concepção do projecto
de edifício, que foram submetidas ao parecer da Sociedade dos Arquitectos
Portugueses e do Conselho de Arte e Arqueologia Nacional.
Aberto o concurso, foram apresentadas onze propostas, das quais uma
se destacou desde logo, por, como se escreveu em O Comércio de Guimarães, “apanhar
bocados dos nossos principais monumentos”, fazendo “lembrar a história desta
terra, não esquecendo absolutamente nada”. Trata-se do projecto Ourique, apresentado pelo
Arquitecto José Marques da Silva. Seria, sem surpresa, o vencedor. Estava-se
então em finais de Novembro de 1916.
Estado das obras (paradas) da construção dos Paços do Concelho, no ano de 1950. |
Mas a construção tardou em arrancar. Entretanto, havia sido
abandonada a ideia de implantar o edifício de Marques da Silva na Praça de S. Tiago,
pelas dificuldades que iria levantar, nomeadamente resultantes da necessidade de
realojamento das famílias que ocupavam as casas cuja demolição estava
prevista, mas também porque já então havia uma nova percepção quanto à necessidade de não descaracterizar o perfil urbano da zona histórica de
Guimarães.
Luís de Pina apresentou um projecto de urbanização da zona que
ficava a sul do Paço dos duques, que permitiu rasgar a actual praça de
Mumadona e as ruas que para lá convergem. A ideia era instalar o edifício dos
Paços Municipais na nova Praça.
Iniciam-se as obras. Em 1926,
aquando do golpe militar que instaurou a Ditadura, a construção do novo
edifício, a construção do edifício já estava ao nível do primeiro andar. Mas a
obra estava parada, tornando-se em local escolhido para as brincadeiras dos
rapazes ou para acampamento de ciganos.
As tentativas para conseguir o financiamento do Estado para retomar
a obra iam sendo sucessivamente frustradas. Começam a alvitra-se alternativas.
Que a Câmara se deveria instalar no paço dos Duques, para onde já estava
prevista a instalação do museu Alberto Sampaio, do Arquivo Municipal e de uma
Biblioteca. Que deveria ocupar o edifício abandonado do Teatro D. Afonso
Henriques.
Depois de 1940, ainda se avançavam com novas possibilidades de localização dos Paços do Concelho concebidos por Marques da Silva. Nesta fotomontagem, está colocado no lado Norte do Toural. |
Com o decorrer do tempo, começa a avançar-se com aquela que, para alguns, seria a única solução possível para se acabar com a visão daquelas ruínas de um
edifício que parecia enguiçado: a demolição. Foi por isso que quando, a 27 de
Junho de 1938, começaram a ser demolidas paredes interiores do edifício
desenhado por Marques da Silva, se assumiu que se estava perante o seu derrube
definitivo.
Não foi bem assim. A demolição final ainda tardaria meia dúzia de anos.
Não foi bem assim. A demolição final ainda tardaria meia dúzia de anos.
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