15 de Junho de 1884
Pelas 11 horas da manhã, inaugura-se no palacete de Vila Flor (Cavalinho)
a Exposição Industrial Vimaranense, a 1ª concelhia de Portugal, da qual foi
visitador oficial e fez um relatório muito honrosos para os vimaranenses,
Gustavo Adolfo Gonçalves e Sousa, director do Instituto Industrial do Porto.
Como comemoração a imprensa local, colectiva, publicou e distribuiu, após a cerimónia,
a folha única “A Indústria Vimaranense” grátis.
(João Lopes de Faria, Efemérides
Vimaranenses, manuscrito da Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento, vol.
II, p. 265)
A Exposição Industrial de Guimarães, promovida pela Sociedade Martins Sarmento,
apresentou-se como muito mais do que uma mera mostra da actividade produtiva
concelhia. Era todo um programa de renovação do tecido produtivo vimaranense. A
Exposição de 1884 lançou Guimarães no caminho para a modernidade. A ideia foi
lançada por Alberto Sampaio, num texto que publicou no primeiro número da
Revista de Guimarães, com o título: “Resposta a uma pergunta. Convirá promover
uma exposição industrial em Guimarães?”. A Exposição Industrial de Guimarães de
1884 seria um dos marcos de um ano que mudaria Guimarães. Os seus objectivos
foram enunciados pelo seu principal organizador, Alberto Sampaio, no jornal que
assinalou o evento, “A Indústria Vimaranense”:
Parecerá geralmente demasiada imodéstia que um concelho, a quem sobra a
indiferença pública, se abalançasse a uma Exposição Industrial.
Os seus iniciadores não tiveram contudo em vista organizar uma festa de
mera ostentação, nem tampouco nunca pensaram surpreender o público com uma
colecção de produtos, cujo acabamento nada deixasse a desejar.
Está visto que cada um havia de fazer o melhor que pudesse; mas este
melhor estando limitado a um maquinismo antigo e por assim dizer primário, a
exposição não poderia ostentar evidentemente estas maravilhas da indústria
moderna que nas grandes exposições estrangeiras provocam a admiração das
multidões.
Havia, porém, um motivo para pôr de lado quaisquer considerações e fazer
esta tentativa.
Tendo a mecânica moderna, auxiliada por enormes capitais, revolucionado a
indústria fabril em todos os países civilizados do mundo, a nossa tem
continuado a viver aqui humildemente com os seus velhos instrumentos de
produção, procurando somente na habilidade manual a perfeição e barateza que
aliás lhe devia ser dada economicamente por máquinas e ferramentas aperfeiçoadas.
A situação tornara-se extremamente delicada, A concorrência estrangeira,
minando-a e cerceando-a todos os dias, está pondo em risco a subsistência de
milhares de pessoas e uma parte da riqueza nacional. A falta de instrução
técnica a aprendizagem imperfeita e não regulada, a indiferença dos poderes
públicos, a carência de capitais e instrumentos aperfeiçoados, vão operando dia
e noite uma solução desgraçada.
Agitar a população fabril e convencê-la a lançar-se numa tal empresa, a
ela que tem vivido sempre na penumbra e como que abandonada, é muito; mas não é
tudo. O tudo é a união das vontades. Se se convencerem todos da força imensa de
que poderão dispor, se reunirem e disciplinarem os seus esforços, se se
convencerem que um dos grandes males que aflige o trabalho local é a desunião e
o indiferentismo de cada um em relação aos interesses gerais, se em vez de
partidos meramente políticos levantarem outro que se proponha sobretudo a
reorganização da indústria concelhia, se ao lado dele organizarem sociedades de
estudo que procurem a solução das questões que lhe dizem respeito, se enfim se
formular claramente uma vontade decidida de obter o rejuvenescimento das
antigas e históricas indústrias de Guimarães, os iniciadores e organizadores da
exposição dar-se-ão por satisfeitos, quaisquer que fossem as contrariedades com
que tiveram de arcar para dar este primeiro passo definitivo no novo caminho.
Alberto Sampaio
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